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3 questões de concursos que deveriam ter sido anuladas

Autor de “A Gramática para Concursos Públicos” mostra 3 questões de português em concursos públicos que, mesmo erradas, não foram anuladas

Atenção concurseiros: chances de sucesso aumentam a partir de dois anos de dedicação aos estudos (Getty Images)

Camila Pati

Publicado em 21 de julho de 2014 às 08h18.

São Paulo – Todos os anos milhares de candidatos são prejudicados por erros de bancas examinadoras em concursos públicos . Os exemplos são muitos e, mesmo entrando com recurso administrativo para pedir a anulação da questão, em alguns casos as bancas são irredutíveis.

Os exemplos a seguir comprovam essa prática. São questões de língua portuguesa selecionadas pelo professor Fernando Pestana, autor de “A Gramática para Concursos Públicos” (Elsevier). Em comum elas têm o fato de estarem erradas, diz. “Deveriam ter sido anuladas, mas não foram, para ódio e desespero dos concurseiros”, afirma.

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E por que não foram revistas e anuladas? “Porque as bancas não quiseram”, diz Pestana. Confira as questões e veja as explicações do professor sobre seus erros de gabarito:

1ª) FUMARC - CBM-MG - OFICIAL BOMBEIRO MILITAR - 2014

A posição do pronome oblíquo é facultativa em:

a) Não mais NOS contentamos com a melhor escolha possível ou com uma escolha suficientemente boa.

b) Talvez seja necessário que famílias e escolas revejam a parte que LHES cabe nesse processo.

c) Um professor universitário na área da educação disse uma frase curta que pode NOS fazer refletir muito: [...].

d) Uma jornalista ME disse que desde criança quis fazer jornalismo [...].


Gabarito: C.

“Absurdo é a palavra certa para designar esta questão”, diz o professor. Isso porque existem duas respostas possíveis: C ou D.

Na alternativa C, o pronome “nos” pode ficar antes do verbo auxiliar da locução verbal, atraído pelo “que” (que nos pode fazer) ou também depois do verbo principal no infinitivo (que pode fazer-nos).

Na alternativa D, explica Pestana, não há palavra atrativa antes do verbo. “Uma jornalista” é apenas um sujeito explícito. “Logo o pronome 'me' pode ficar também depois do verbo: uma jornalista disse-me que”, afirma o professor.

2ª) FUNDATEC - DETRAN/RS - TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR - 2009

Analise os fragmentos listados na coluna I e associe à circunstância que expressam no texto, listadas na coluna 2.

Coluna 1:

I - não (... essas têm nomes, e não siglas...).
II - já (... já inclusos 141 mil...).
III - bem (As regras para os nomes das rodovias estaduais são bem parecidas com as das federais...).
IV - Em São Paulo (Em São Paulo,... vai da capital até Presidente Prudente...).

Coluna 2:

( ) tempo
( ) lugar
( ) modo
( ) negação

A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

A) III - II - I - IV.
B) II - IV - III - I.
C) I - II - III - IV.
D) IV - III - II - I.
E) II - III - I - IV.

Gabarito: B.

Em I, “não” é um advérbio que exprime negação.

Em II, “já” é um advérbio que exprime tempo.

Em III, “bem” é um advérbio de intensidade porque modifica um adjetivo. “A banca errou porque 'bem', nesse caso, não pode ser advérbio de modo como aponta o gabarito”, explica Pestana.

É que na frase “as regras para os nomes das rodovias estaduais são bem parecidas com as das federais”, o advérbio “bem” tem o mesmo valor de “muito”, por isso exprime intensidade, e não modo.

Em IV, “em São Paulo” é uma locução adverbial de lugar.

“A questão deveria ter sido anulada por falta de opção”, diz Pestana.

3ª) ESAF - SRFB - ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RECEITA FEDERAL - 2012

- Considere o texto abaixo para responder:

Tem-se afirmado que o Brasil pegou a doença holandesa, ou seja, o efeito de descobertas ou aumento de preços de recursos naturais, que valorizam a taxa de câmbio e por isso acarretam desindustrialização. A ideia foi inspirada no surgimento de gás da Holanda.

Pesquisas acadêmicas comprovaram que ocorre a valorização cambial, mas não ficou claro se tal doença causa desindustrialização ou redução do crescimento econômico. Na Holanda, o boom da exportação de gás valorizou a taxa de câmbio. Ao mesmo tempo, a indústria têxtil e de vestuário praticamente desapareceu e a produção de veículos e navios diminuiu. Foi daí que veio a tese da doença holandesa.

No Brasil diz-se que a valorização cambial decorrente da expansão das exportações de commodities evidenciaria a tese da doença holandesa. Nada disso tem comprovação.

(Adaptado de Veja, 30 de maio de 2012)

Assinale a opção incorreta a respeito da relação entre estruturas gramaticais e os mecanismos de coesão que sustentam a coerência do texto.

a) A flexão de plural em “acarretam” indica que a “desindustrialização” resulta tanto do “efeito de descobertas” quanto do “aumento de preços”

b) O substantivo “ideia” resume a informação do período sintático anterior, que compara causas e consequências da valorização da taxa de câmbio na Holanda e no Brasil.

c) A flexão de masculino em “claro” estabelece relação de coesão entre esse qualificativo e a oração condicional como um todo.

d) O advérbio “daí” tem a função textual de localizar no boom da exportação as consequências da doença holandesa.

e) A opção pelo uso do futuro do pretérito em “evidenciaria”, juntamente com o termo “diz-se”, indica a posição argumentativa de distanciamento do autor e seu não comprometimento com a veracidade da informação veiculada.

Gabarito: D.

“O gabarito foi a letra D, mas a letra C também está incorreta, logo a banca deveria ter anulado a questão por haver duas respostas”, diz o professor Pestana.

Na alternativa C, o professor destaca que o adjetivo "claro" está no masculino singular para concordar com a oração subordinada substantiva subjetiva (em negrito): “não ficou claro se tal doença causa desindustrialização ou redução do crescimento econômico”.

Para ficar mais simples de entender, o professor sugere a substituição da oração em negrito por “isso”: não ficou claro isso. Na ordem direta: isso não ficou claro.

“Perceba que a oração destacada tem função de sujeito do verbo 'ficar', e 'claro' é o predicativo do sujeito da oração destacada”, explica Pestana.

Assim, a oração “se tal doença causa desindustrialização ou redução do crescimento econômico” não é condicional como diz a banca examinadora.

“A banca vacilou porque adjetivo nunca estabelece coesão com oração subordinada adverbial condicional”, diz Pestana.

Na opinião do professor, a pergunta que fica é " até quando as bancas farão questões assim?"

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