Yen Wang, CEO do Carrefour Property (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 5 de julho de 2021 às 09h48.
Última atualização em 5 de julho de 2021 às 11h07.
Carros compartilhados, aplicativos de transporte, veículos elétricos, crescimento do delivery e deslocamentos cada vez menores da população. Essas tendências devem mudar o uso das cidades e dos espaços urbanos. Especialmente no pós-pandemia, em que as pessoas devem buscar novas experiências em espaços abertos.
A Bússola conversou com Yen Wang, CEO do Carrefour Property sobre mobilidade, futuro das cidades e tendências do mercado imobiliário. Unidade de negócios imobiliários do Grupo Carrefour Brasil, a companhia tem apostado em empreendimentos multiuso – comerciais e residenciais num mesmo espaço – já pensando nas transformações que estão por vir.
Bússola: Em termos de mobilidade urbana, qual será o cenário das grandes cidades daqui a dez anos? Haverá menos automóveis em circulação?
Yen Wang: Dez anos é um período curto para ver uma mudança tão grande. Mas penso que seja uma tendência. Percebemos um crescimento do uso de carros compartilhados, por exemplo. Isso deve se fortalecer.
O próprio Plano Diretor incentiva um maior adensamento em torno dos eixos de transporte, ao permitir construções maiores. Espontaneamente, a cidade vai adensando nesse entorno dos transportes públicos, incentivando que as pessoas utilizem mais esses modais.
Há uma tendência para projetos multiuso – pessoas moram, trabalham e consomem em um mesmo local. A população tem tudo no mesmo espaço e, por isso, a necessidade de deslocamentos é menor, evitando carros na rua e, consequentemente, gerando melhor qualidade de vida.
O Carrefour Property busca sempre ter uma grande diversidade de modais ao redor de seus projetos. Veja os casos dos Shoppings Butantã e Jardim Pamplona. O primeiro está a uma quadra do metrô e entre duas grandes avenidas com grande variedade de linhas de ônibus. O Jardim Pamplona fica no eixo Paulista-Nove de Julho, com ampla variedade de serviços de transporte – incluindo ciclofaixas.
Nosso mais recente projeto, o Alto das Nações, é um grande exemplo disso. Está sendo construído no local onde tivemos a primeira loja do Carrefour no Brasil, em frente à estação Granja Julieta da CPTM – fazendo conexão com diversas outras linhas de trem e metrô. O empreendimento tem vagas específicas para carros compartilhados e serviços de delivery, que usam a vaga apenas para retirar os produtos, bicicletários com vestiário, vagas para veículos elétricos com carregador e muito mais.
Bússola: O Carrefour já nota uma redução no uso dos estacionamentos de suas unidades? Essa vacância poderá em parte ser destinada para outro fim?
Yen Wang: O que temos feito é otimizar e aproveitar esses espaços de outras formas, seja como estacionamento para táxi ou carros de aplicativos, por exemplo, mantendo o uso e o volume de movimentação no espaço. Destaca-se quem souber aproveitar esse movimento, não reduzindo o número de vagas, mas utilizando os espaços de maneira mais inteligente.
Estacionamentos abertos já existentes, por exemplo, podem ser utilizados, em determinados momentos, como espaços de eventos. O Alto das Nações segue essa lógica. Boa parte do terreno hoje é de estacionamento. Com o projeto, teremos um complexo multiuso que beneficiará toda a região, e o novo estacionamento será subterrâneo.
Haverá uma praça aberta para uso público, com mais de 32 mil m², arborizada e com segurança, que prioriza o trajeto dos pedestres e a mobilidade urbana. Os carros vão circular por baixo da praça, deixando essa área toda livre para que a população possa circular tranquilamente.
Bússola: Como esse cenário impacta o mercado imobiliário?
Yen Wang: Os projetos já deveriam estar levando essa transformação em conta. Um projeto imobiliário é um ativo de longo prazo. Demora um tempo para ser projetado, construído, concluído. Um projeto que nasce hoje será concluído daqui a alguns anos e permanecerá por muitas décadas. A realidade pode ter mudado bastante até lá. É importante sempre pensar à frente.
A pandemia nos trouxe a necessidade de espaços mais amplos e abertos. Quem pensou em projetos assim cinco ou dez anos atrás teve uma grande vantagem. Hoje esse tipo de construção é uma tendência. As pessoas querem voltar a ter experiências, querem espaços mais abertos, com luz natural
O mercado imobiliário está aquecido neste momento, mas o desafio é entender o que as pessoas vão precisar nos próximos anos.
Bússola: No futuro, a tendência então é que haja menos carros, mas mais carros elétricos. Vagas de garagem e estacionamentos em geral ainda serão necessários?
Yen Wang: As vagas continuarão sendo necessárias. As pessoas vão continuar usando carros, mesmo com o carro elétrico. A pessoa que usa esse tipo de veículo vai precisar de um espaço para carregar seu carro. Então, essa vaga, deverá continuar existindo, mas de uma maneira diferente e com carregador.
A maior mudança é no costume das pessoas. O uso do carro será mais eficiente. Um Uber é um carro. Ainda haverá a necessidade de usar a vaga para aguardar um passageiro. Isso vale para táxis também e aplicativos de carona. Essas vagas podem virar pontos de encontro. Excluir não é o caminho, mas repensar seu uso. Para o motorista de aplicativo, por exemplo, duas ou três vagas podem virar um espaço de conveniência enquanto aguarda o passageiro.
No Carrefour Property temos a Vitrine Virtual, em que o cliente faz sua compra online e só vai ao local para retirar o produto. Não há necessidade de parar o carro, descer, ir até a loja e voltar. Algumas áreas dos estacionamentos podem virar, também, drive thru.
É tudo uma questão de repensar hábitos.
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também