Com a pandemia e a presença sendo cada vez mais online é difícil dar conta de tudo (Agence France-Presse/Reprodução)
Bússola
Publicado em 25 de julho de 2021 às 08h00.
Por Karla Lopes*
Esses dias estava pensando em como a gente tem pedido desculpas por não dar conta de estar presente de forma online. DM no Instagram, emails, tweets, mensagens e principalmente, ele, o Whatsapp — talvez o aplicativo que eu tenha mais dificuldade de lidar. Sei lá o por quê, mas resolvi buscar no app essa palavrinha mágica "desculpa" ensinada desde criança e me assustei.
Desculpa o horário, desculpa o atraso, desculpa por esquecer, desculpa por não ter visto, desculpa, desculpa, desculpa… Pois é, mil culpas para se carregar em tão pouco tempo. Com isso, a minha relação com a presença online tem piorado a cada dia. A cada apito de mensagem, uma vontade de jogar meu celular na parede. Nessa situação, pensei em como os meus “sims” eram ditos independentemente da carga mental que já transbordava por aqui. Aquele estresse que te consome, mas não ao ponto de matar a culpa por não topar participar de um projeto com um amigo querido, sabe? Mesmo que seja pra deixar alguém feliz pela sua presença, isso não é saudável.
Percebi que à frente da minha saúde mental vinha a culpa de dizer não, a ansiedade dos outros, o medo de decepcionar e a insistência depois de uma negativa que sempre me deixa ansiosa e corrobora para essa culpa. E esse foi o meu maior erro e meu maior aprendizado dos últimos tempos, quando cheguei ao ponto de quase implorar para dizer que não dou conta de assumir papéis e estar presente para além do que já faço agora.
Com isso, resolvi pedir desculpas para a minha saúde mental sempre em primeiro lugar e acredito que ela esteja mais tranquila agora, dentro do possível. Ainda ansiosa, ainda cansada, mas se sentindo menos culpada por aquela mensagem da semana passada que não foi respondida.
A urgência e as expectativas que nem sempre são minhas podem tranquilamente esperar. Sem notificações e sem vontade de abraçar o mundo com braços tão curtos, afinal de contas, está todo mundo exausto, sem tempo, sem paciência e sem energia. Quer dizer que nunca mais vou me desculpar por aquela mensagem que me espera? Com certeza não, mas estou aprendendo a não me sentir uma pessoa horrível por isso.
*Karla Lopes é jornalista, trabalha há 11 anos com produção de conteúdo para a internet e é criadora e alquimista da marca Lunnare Co.
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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