Sem agricultura e sem agricultores não há segurança alimentar (andreas160578/Pixabay/Divulgação)
Bússola
Publicado em 26 de julho de 2022 às 14h20.
Não há setor da cadeia global de alimentos que não tenha visto os preços subirem depois da invasão da Rússia à Ucrânia. Essa situação atual da geopolítica internacional alerta para o aumento da insegurança alimentar e para a necessidade de explorar novos potenciais na produção de alimentos.
A ameaça à segurança alimentar não é consequência apenas do conflito no leste europeu. Estamos em um momento crucial para a agricultura e expostos a uma sobreposição de crises, que coloca o setor no topo da agenda global. Nossos produtores e outros atores relevantes dos sistemas agroalimentares estão na linha de frente e enfrentam riscos crescentes, entre os mais importantes os associados às mudanças climáticas, dos quais ninguém no planeta pode ignorar.
Mesmo com todos esses desafios, São Paulo é o estado brasileiro que mais exporta tanto à Rússia quanto à Ucrânia, por exemplo. O setor agropecuário ocupa posição de fundamental liderança na pauta das exportações paulistas – e, portanto, brasileiras – aos países diretamente envolvidos no conflito.
Em 2021, os produtos e insumos agropecuários representaram cerca de 75% dos U$ 403 milhões exportados por São Paulo à Rússia. O amendoim paulista, cuja compra russa ao longo do ano passado chegou a U$130 milhões, foi o principal produto negociado nestas transações.
Também no comércio bilateral com a Ucrânia, o amendoim, acompanhado de outros produtos como o açúcar de cana, o café e insumos agrícolas, encabeçou a lista das exportações. O agro paulista, se considerada a exportação de bens agropecuários, maquinário agrícola e outros insumos agroindustriais, foi responsável por mais de 20% do valor total das exportações brasileiras à Ucrânia e cerca de 18% do valor exportado pelo Brasil à Rússia.
O Brasil é capaz de conviver e superar os atuais desafios, com sustentabilidade e tecnologia, e de aumentar e expandir a sua produção e também a exportação dos seus produtos agropecuários, e o Estado de São Paulo é um exemplo claro disso. Dados do IEA, Instituto de Economia Agrícola, mostram que o saldo da Balança Comercial Paulista no ano de 2021 foi de US$ 14,36 bilhões, 9,1% superior a 2020.
Ainda com números do IEA, a Secretaria da Agricultura (SAA) mostra que o agronegócio paulista aumentou em 9,5% suas exportações em 2021 em relação a 2020, exportando um total de US$ 18,97 bilhões no ano. As importações também aumentaram em 10,6%, no valor de US$ 4,58 bilhões. O saldo da Balança Comercial Paulista no período, de acordo com o Instituto, foi de US$ 14,39 bilhões, 9,1% superior a 2020.
Os cinco principais grupos na exportação do agronegócio estadual foram complexo sucroalcooleiro (US$ 6,53 bilhões), complexo soja (US$ 2,57 bilhões), grupo de carnes (US$ 2,53 bilhões), produtos florestais (US$ 1,68 bilhão) e grupo de sucos (US$ 1,59 bilhão).
São evidentes também o empenho e a tecnologia desenvolvida pelo agronegócio paulista, cuja qualidade dos produtos é reconhecida em boa parte do mundo.
Prova disso é o aumento expressivo de investimentos em pesquisa realizado pela SAA. Só nos últimos 12 meses foram investidos R$ 102 milhões, através da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) em seus institutos.
Embora a força produtiva do estado de São Paulo possa ser um farol para outras regiões não só do Brasil, como da América Latina e Caribe, é inegável a vocação agropecuária de todo hemisfério e seu papel relevante na segurança alimentar mundial. As condições globais atuais aumentaram a tomada de consciência sobre a fragilidade da segurança alimentar e nutricional no âmbito global, bem como sobre a necessidade de uma maior produtividade agrícola sustentável.
Um exemplo sustentável foi mostrado durante a Agrishow 2022, pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Através do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), foi lançado o primeiro Centro de Pesquisa de Pecuária Sustentável do Brasil, em São José do Rio Preto (SP), visando à produção intensiva de bovinos de corte com sustentabilidade.
Por isso, precisamos aumentar os esforços para intensificar as ações necessárias para promover a inovação, a tecnologia, o financiamento climático e o investimento do setor privado como elementos positivos que reforcem mudanças e considerem, principalmente, os pequenos agricultores.
E para isso, é essencial reiterar a importância da cooperação entre estados e entre as nações especialmente à luz dos impactos na produção, do processamento e do comércio de alimentos e produtos agropecuários.
"Fome zero e agricultura sustentável" é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030, e pode ser traduzida como a garantia da segurança alimentar. É fundamental que o Brasil tenha prioridade nessa agenda.
O Estado de São Paulo tem trabalhado para cumprir o seu papel dentro do desafio, apresentando soluções no que tangem a disponibilidade, estabilidade, acesso e consumo, elementos essenciais para fornecer e distribuir alimentos a todas as pessoas ao redor do mundo.
O Governador do Estado de São Paulo Rodrigo Garcia tem participação ativa na agenda da agricultura paulista. No mês de maio, a cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, bateu recorde de público na Agrishow, maior feira do agronegócio da América Latina, que contou com o apoio do governo e com a participação do Governador. A Agrishow promove a inovação do campo e permite uma troca comercial dos produtores paulistas com o mundo, oferecendo oportunidade de investimentos, empregos e o mais importante, fornecendo alimentos para o mundo.
Sem agricultura e sem agricultores não há segurança alimentar. São muitas as oportunidades de sinergia, sempre de mãos dadas com a ciência, para aumentar a produtividade de forma sustentável, reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa e, assim, melhorar a resiliência. Portanto, as ações ganha-ganha são a prioridade nos próximos tempos para a agricultura.
*Julio Serson é secretário de Relações Internacionais, Francisco Matturro é secretário de Agricultura e Abastecimento e Manuel Otero diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
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