Ryan Bonnici: Por que devemos acrescentar bem-estar ao ESG
Assim como meio ambiente, social e governança, o bem-estar precisa ser considerado na hora de tomar decisões
Bússola
Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 11h00.
Última atualização em 11 de janeiro de 2023 às 10h44.
Por Ryan Bonnici*
Uma das grandes questões que os investidores se deparam atualmente diz respeito ao papel do ESG (meio ambiente, social e governança) na tomada de decisão sobre onde colocar seu dinheiro. Muitas discussões estão sendo levantadas em torno do tema e se o seu impacto é suficiente para a realização dessas agendas. Mas especialistas apontam que o ESG ainda pode ser um guia muito importante e rentável.
O que não está em dúvida é que toda a conversa sobre ESG, juntamente com os requisitos de transparência, aprofundou a visão do mercado sobre o que as empresas estão fazendo nessas categorias. E os negócios passaram a responder de acordo.
Enquanto isso, as organizações estão enfrentando uma outra questão crucial e que precisa urgentemente de atenção. Segundo um estudo que realizamos no Gympass, o mundo do trabalho entrou em uma crise de bem-estar.
Para criar o Panorama do bem-estar corporativo nós ouvimos mais de 9 mil colaboradores de vários segmentos de negócios nos principais mercados do mundo. Entre as conclusões estão: o estresse dos colaboradores está em alta histórica; 60% deles estão desconectados emocionalmente do trabalho; e quase metade (48%) dizem que seu bem-estar diminuiu em 2022.
Não é apenas uma consequência da pandemia. Na verdade, antes mesmo da covid-19, cientistas já alertavam para "uma crise de saúde pública que afetava a força de trabalho americana". Um estudo realizado em 2017 pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina descobriu que os americanos de 25 a 64 anos "têm morrido a taxas mais altas desde 2010" e que seu "risco de morrer por consequência de certas condições - como overdose de drogas ou doenças cardíacas hipertensivas - têm aumentado desde os anos 90".
A pandemia piorou este cenário. Até hoje, milhões de profissionais ainda estão fora da força de trabalho ou realizando jornadas reduzidas por conta da Covid. Mas a doença física não é sequer a maior responsável por prejudicar o bem-estar no trabalho: mais pessoas estão ausentes devido a sintomas de estresse e ansiedade.
As empresas têm um claro incentivo para cuidar dessa questão e ajudar a melhorar a saúde de seus colaboradores. Quanto mais o bem-estar se enraíza como uma parte central de como o negócio funciona, mais bem sucedido e lucrativo ele é. Como escreveu meu colega e CEO do Gympass, Cesar Carvalho, “os acionistas têm mais razões do que nunca para olhar o bem-estar de forma ampla na escolha de onde investir”.
Acredito que podemos ajudar a fazer isso acontecer atualizando o ESG com a introdução de mais uma letra para bem-estar (wellness).
Elevando o bem-estar
O termo ESG foi criado há quase 20 anos em um relatório das Nações Unidas. Agora, as empresas têm departamentos inteiros e metas corporativas com foco em indicadores ambientais, sociais e de governança. E até equipes de investidores focadas exclusivamente no assunto.
Infelizmente, o bem-estar geralmente ocupa um lugar secundário. Como observa a Gallup, "muitos líderes estão tratando projetos de diversidade, equidade e inclusão e de bem-estar como iniciativas distintas, apesar do fato de que elas estão fundamentalmente conectadas. Você não pode melhorar nenhuma delas isoladamente e os líderes que tentam fazer isso provavelmente estão falhando em ambas".
Está na hora de elevar o bem-estar. Eu proponho que, começando pelo ano novo, nós passemos a falar sobre ESWG.
Assim como meio ambiente, social e governança, o bem-estar é uma categoria por si só. Ele inclui tanto saúde física quanto mental, só para começar. O relatório do Gympass demonstrou que "as organizações que adotam uma abordagem proativa para ajudar os funcionários a desenvolverem resiliência e força mental sem dúvida criarão uma força de trabalho mais saudável e mais engajada, capaz de alcançar resultados comerciais ainda melhores". Já tendo escrito publicamente sobre minha própria jornada de saúde mental ao longo dos anos, sei que o apoio ao bem-estar psicológico é uma parte crucial que me leva a decidir onde quero trabalhar.
Para ser bem sucedido, um programa de bem-estar também deve incluir outros pilares, como a saúde ocupacional, intelectual e financeira. Na verdade, um relatório para a Fundação da Câmara de Comércio dos EUA chama o bem-estar financeiro de "imperativo empresarial".
Um grupo de pesquisadores fez uma sugestão semelhante sobre a atualização do ESG. Em um estudo publicado pela BMJ Global Health, eles sugeriram uma "iniciativa ESG+H", com o H representando, em inglês, saúde (health). Isso "poderia servir como catalisador para a inclusão de critérios de saúde nas práticas comerciais e objetivos de investimento dos principais players financeiros", escreveram eles, acrescentando que "temas de saúde impactam diretamente a lucratividade da empresa e, portanto, devem ser incorporadas à análise financeira".
Eu prefiro ESWG para que o bem-estar não surja como um pensamento secundário. Deve ser uma função central do negócio.
Dado que pesquisas relacionam a existência de programas de bem-estar ao desempenho das ações, não há dúvida de que os investidores teriam muito a ganhar com um novo foco de bem-estar dentro das organizações. No próximo ano, façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para que isso aconteça.
*Ryan Bonnici é CMO global do Gympass.
Este artigo foi publicado originalmente na Nasdaq.com. Em Nasdaq.com ,
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