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Priscylla Spencer: Líder, está preparado para partilhar seus sentimentos?

Um verdadeiro líder precisa conquistar a sua autonomia, ouvir e compreender seus sentimentos, pois somente assim terá sucesso ao exercer suas atividades

A pessoa que você é, é o líder que você é (courtneyk/Getty Images)

A pessoa que você é, é o líder que você é (courtneyk/Getty Images)

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Publicado em 26 de agosto de 2022 às 08h52.

Por Priscylla Spencer*   

Vocês já pararam para pensar o quanto os nossos sentimentos influenciam nossa performance profissional e nos resultados dos nossos negócios? 

Sobre como crises de ansiedade podem, por exemplo, gerar decisões equivocadas por não investirmos o tempo necessário na análise crítica de um processo? 

Ou que o excesso de perfeccionismo pode levar à procrastinação, fazendo-nos não sair do lugar, esperando que o projeto esteja 100% perfeito para seu lançamento? 

Ou, ainda, nos momentos de dificuldade, mesmo sabendo que temos na equipe pessoas criativas e capazes, mas não pedimos ajuda por orgulho e medo de mostrar vulnerabilidade e “perdermos” a posição de liderança? 

Nossos sentimentos influenciam diretamente na forma como lideramos e um líder de destaque precisa estar convicto de sua força e estar em sintonia com a sua exclusividade, aquilo que só ele tem. 

Um verdadeiro líder precisa conquistar a sua autonomia, ouvir e compreender seus sentimentos, pois somente assim terá sucesso ao exercer suas atividades e compartilhar o seu melhor com o mundo. 

Não há como separar quem eu sou do líder que sou.

“A pessoa que você é, é o líder que você é.” 

Essa frase marcou o início dos meus estudos sobre liderança. E vem fazendo cada vez mais sentido, pois, se eu não consigo lidar com os meus próprios sentimentos, dificilmente conseguirei liderar e engajar uma equipe, permitindo o empoderamento de todos. 

E no Mundo Bani (Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible ou Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível) no qual vivemos, as organizações precisam cada vez mais de líderes que geram lucro mas que também sejam empáticos, tenham autoconhecimento e coragem, que saibam acolher, ouvir, entender contextos e propor as melhores soluções para todos. 

Por isso, líderes à moda antiga, acostumados apenas a seguir a cartilha clássica das hard skills, estão gradativamente tendo que mudar. 

Sei que adquirir e usar esse novo pacote de soft skills não é fácil, pois requer um processo profundo de despertar e ruptura. 

Afinal, desde criança fomos treinados para esconder nossos sentimentos, para atender as expectativas da sociedade. 

E quando ficamos adultos e entramos no mercado de trabalho, a situação se agrava, pois externar qualquer emoção (alegria, raiva, medo, etc) é visto como um atestado de fraqueza ou desequilíbrio. 

A boa notícia é que o ambiente corporativo está se transformando, dando abertura para um comportamento mais humanizado e empático. As empresas estão, aos poucos, investindo na criação de uma cultura de bem-estar, diversidade, acolhimento, escuta ativa e livre compartilhamento de idéias, sentimentos e opiniões. 

Para os líderes que querem ser a vanguarda nessa revolução comportamental/profissional que se anuncia (sim, ela vai acontecer, mais cedo ou mais tarde) é preciso aprender a mapear, compreender e lidar melhor com seus sentimentos. 

Para isso, recomendo as seguintes ações e reflexões, que fazem parte da metodologia chamada Mapeamento dos Sentimentos que poderão ajudá-lo a ter uma vida pessoal e profissional mais plena: 

1- Escute seus sentimentos sem julgá-lo: sentimentos são amorais, ou seja, eles não são bons ou maus, são apenas um reflexo emocional e inconsciente de um momento que estamos passando. Não se culpe por senti-lo e não queira julgá-lo. Quando ele aparecer, apenas tome ciência que ele está presente e observe. 

2- Compreenda suas causas: depois de identificá-lo, tente entender o que causou seu aparecimento, qual foi o gatilho. Pode ter sido uma fala dita em uma reunião, uma meta que não foi batida, uma chamada de atenção. Por trás deste gatilho, certamente há um histórico de situações que ficaram registradas no seu inconsciente. E mais uma vez, apenas observe e acolha-o. 

3- Compartilhe suas impressões: com pessoas de sua confiança e que fazem parte de seu círculo mais íntimo, compartilhe suas associações, fale, escreva ou desenhe o que quer expressar. Do aprender a lidar com os sentimentos à cura é um processo que acontece com o expressar, externar. 

4- Desenvolva a escuta ativa: procure estimular as pessoas (caso se sintam confortáveis) a também falarem de seus sentimentos. Se não quiserem falar, proponha a escrita ou o desenho. E acolha as formas de expressão de cada um. 

5- Invista em autoconhecimento: cursos, livros, terapia e acima de tudo, permita-se estar com você mesmo. Silencie os pensamentos e aprenda a ouvir os seus sentimentos sem os ruídos da ilusão do mundo externo. Assim se dará a sintonia com você. O silêncio é um gatilho da criatividade. 

6- Pratique o autocuidado: cuidar de si é essencial para o despertar da criatividade e aprendizado dos valores pessoais. 

7- Encontre suas verdades: tudo já está dentro de nós, mas continuamos procurando sem parar. Quando saímos dos compromissos e crenças que temos na nossa mente, teremos olhos para enxergar a verdade existente em nós. 

Entre os benefícios trazidos com essas ações no mapeamento dos sentimentos estão: 

Adaptabilidade: aprender a moldar-se de acordo com as novas situações e contextos, sabendo utilizar, em cada situação, suas habilidades, conhecimentos e características pessoais. Ser adaptável implica permitir-se a constante evolução pessoal e profissional.

Melhorar a sua comunicação: aprender sobre a impecabilidade da palavra e a escutar com acolhimento.

Potencializar a sua criatividade: o processo de autoconhecimento nos desperta para acessarmos a nossa criatividade. E com a criatividade acionada, a produtividade assertiva é uma consequência.

Fortalecer relacionamentos e desenvolver empatia: quando nos permitirmos o olhar para dentro e encarar os nossos sentimentos mais sombrios, automaticamente acionamos a capacidade de nos relacionarmos com verdade e empatia. 

Conquistar a Autonomia: é a capacidade de libertar-se dos padrões idealizados, assumindo sua realidade em busca do melhor possível. Essa competência está diretamente relacionada à educação, uma vez que para ter autonomia é necessário desenvolver-se como pessoa, profissional, conhecer sobre o mundo e sobre si. 

Tudo começa pelo quem eu sou. É de dentro para fora. É desmistificar o que querem que eu seja ou o que pensam que sou. Ou até mesmo o que eu penso que sou.

Como citei no início: “a pessoa que você é, é o líder que você é”. 

O conhecer-te a ti mesmo nunca foi tão atual e necessário. Ou você conhece a si mesmo ou os algoritmos serão capazes de te conhecer melhor do que você, como disse o historiador e filósofo Israelense Yuval Harari.

*Priscylla Spencer é especialista em facilitar transformações nas pessoas e nas empresas, mentora e palestrante de liderança e mapeamento dos sentimentos para líderes.

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