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Precisamos falar sobre o paradoxo entre o desemprego e as vagas de mercado

Como um país com recorde de desempregados não tem mão de obra suficiente e capacitada para nutrir as vagas existentes?

 (gpointstudio/Thinkstock)

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Recentemente tenho acompanhado no mercado muitas declarações recorrentes que parecem não se adequar ao período em que vivemos:

- “Não consigo preencher as vagas que procuro”;
- “Estou com x vagas abertas e meu time de RH não está dando conta”;
- “Preciso ser uma marca empregadora para atrair e reter talentos e estou tendo dificuldades neste sentido”.

Trata-se de uma antítese monumental. Como um país com recorde de desempregados, mais de 14,3 milhões, não tem mão de obra suficiente e capacitada para nutrir as vagas existentes?

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É uma resposta simples e de complexa resolução. Os perfis procurados não correspondem mais tão facilmente aos formados. É a lei de oferta e demanda em sua essência mais profunda. Existe um abismo e um desencaixe entre desempregados e necessidades de vagas no mercado, que foi ainda mais acelerado pela pandemia.

Na vida fomos educados, formados e treinados para trabalhos físicos e analógicos. Escritórios, visitas técnicas, reuniões, serviços, vendas e atendimentos presenciais. E não conseguimos nos adequar à velocidade da mudança de paradigmas a isso nos ser privado pela pandemia.

Este físico se tornou mais virtual do que nunca. A transformação digital não é mais atributo; é premissa. Já estamos na era do E-commerce first e não mais periférico. Delivery, drive-thru, inbound, performance, social listening, streaming, video calls. Vários termos em inglês que simplesmente significam que as coisas já mudaram. Rapidamente.

Enquanto milhões de pessoas procuram desesperadamente por uma oportunidade, o mercado busca por job descriptions nunca antes imaginados e posições inventadas. Especialistas em e-commerce, conteúdo digital, saúde, finanças e tecnologia, além de perfis de inovação, tendências e dados são alguns dos perfis mais buscados. Os desenvolvedores, por exemplo, já são uma espécie “em extinção”. Empresas e startups lutam com unhas, dentes, salários e benefícios para atraí-los.

Sem encontrar emprego ou não se adequando às vagas existentes, o Brasil caminhou em 2020 para recordes históricos em número de empreendedores, correspondendo a praticamente 30% do PIB. Isso torna o contexto uma bola de neve ainda maior. Mesmo empreendendo, o brasileiro, ao crescer seu negócio, precisará de profissionais que estejam alinhados ao novo perfil de consumo e ao cenário mundial.

E o que precisa ser feito? O mercado de educação e formação precisa se adequar à velocidade das mudanças. Necessitamos de uma força-tarefa de revisão de ementas e disciplinas em faculdades, universidade e pós-graduações. Precisamos de redefinição de cursos técnicos e especialidades. E, principalmente, é fundamental a união dos setores para a formação de profissionais que antes eram considerados do futuro e agora são do presente.

Porque mais do que um abismo estamos caminhando para um buraco negro supermassivo entre oferta e demanda de trabalho no país. E estamos deitados em berço esplêndido, sem ouvir os novos gritos do Ipiranga.

*Jaderson Alencar é sócio-diretor da FSB Comunicação

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