Números de covid ainda assustam, mas Brasil tem a melhor em 21 semanas
Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de casos de coronavírus e traça um panorama da curva da doença no país
Isabela Rovaroto
Publicado em 5 de outubro de 2020 às 13h24.
Última atualização em 5 de outubro de 2020 às 16h54.
O Brasil acaba de ultrapassar a casa das 146 mil mortes por covid-19 , mais precisamente 146.352 até o último domingo, dia 4 de outubro. Globalmente, em números absolutos, só estamos atrás dos Estados Unidos (214 mil). Em terceiro lugar vem a Índia, com 102,7 mil mortes, mas em um ritmo de crescimento mais acentuado neste momento neste momento.
Hoje, em média são registradas todos os dias no Brasil entre 650 e 700 mortes. Neste domingo, o indicador atingiu 659. Essa é a média móvel de 7 dias, a soma de cada um dos dias da semana dividida por 7. A média móvel brasileira é hoje a quarta maior do mundo, atrás apenas da Índia (1.040/dia), da Argentina (750/dia) e dos Estados Unidos (700/dia).
Os números brasileiros ainda assustam, mas há uma melhora visível. O atual patamar é 34% inferior à média de 1.000 mortes diárias registrada no Brasil durante três meses (final de maio a final de agosto). Foi um dos platôs mais altos e mais longos do mundo, mas a última vez em que a média móvel esteve entre 900 e 1.000 foi em 27 de agosto. Há duas semanas, estamos girando entre 650 e 750 mortes diárias.
Mais recentemente, o comportamento da pandemia no país tem dado sinais de que seguimos com redução, agora em ritmo um pouco mais leve, no número médio de mortes por covid. A semana terminada neste domingo (28/09 a 04/10) registrou um total de 4.611 óbitos. É o menor número em 21 semanas. Para se ter uma ideia, antes desta a melhor semana era a terminada em 3 de maio, com 2.820 mortes (veja gráfico).
Outro sinal de que a melhora dos indicadores é consistente é o comportamento das curvas das médias móveis mais curtas e mais longas. Desde o final de agosto, as médias móveis de 7, 14, 21 e 28 dias mostram tendência de queda, mais intensa nas três primeiras semanas de setembro e em menor ritmo desde então (veja gráfico).
Mortes por 1 milhão
Os dados das médias móveis nos mostram as fotografias mais recentes da pandemia. Já a taxa média de óbitos por 1 milhão de habitantes evidencia o tamanho do estrago feito em cada país, proporcionalmente ao tamanho de cada população.
Nesse critério, o Brasil tem hoje 691 mortes por 1 milhão de habitantes. Acabamos de passar a Espanha (686) e já havíamos superado o Reino Unido (623) e a Itália (595), para falar de três países europeus que ainda no primeiro semestre sofreram muito com a pandemia de covid-19.
Se, em números absolutos, os Estados Unidos têm mais mortes que o Brasil, proporcionalmente a tragédia é ainda maior por aqui. Lá, a taxa de mortes por 1 milhão está em 647. No cenário global, entre os países com mais de 100 mil habitantes, o Brasil só está atrás do Peru (987 mortes por 1 milhão) e da Bélgica (866). Nos últimos 30 dias, a taxa no Brasil cresceu 17%. Nos 30 dias anteriores, havia crescido quase o dobro, ou 31% — mais um sinal de desaceleração recente.
Estados
Na comparação ao tamanho de suas populações, os estados brasileiros têm até aqui cenários bastante distintos nessa pandemia. Três unidades da Federação já romperam a barreira das 1.000 mortes por 1 milhão de habitantes.
O recordista é o Distrito Federal, com 1.088 mortes/1 milhão. Se fosse um país, só perderia para San Marino, nação europeia com pouco mais de 30 mil habitantes. O DF ultrapassou o Rio de Janeiro (1.081) há quatro dias nesse triste ranking. Em terceiro lugar vem Roraima (1.047). Outros três estados estão muito próximos de chegar à casa do milhar: Amazonas (992), Mato Grosso (987) e Ceará (985). São Paulo (782) tem a 11ª maior taxa.
Entre os estados que até aqui menos sofreram com a pandemia estão os três da região Sul e Minas Gerais, que proporcionalmente tem a menor mortalidade por covid: 359 mortes por 1 milhão de habitantes.
Os dados atuais mostram que a situação da pandemia vem de fato melhorando no Brasil. Mas o atual patamar, com pelo menos 650 mortes diárias, ainda assusta e está longe de permitir um afrouxamento completo das medidas de isolamento/distanciamento social como, aliás, temos visto em boa parte do país, com bares e praias lotadas, pessoas sem máscara nas ruas e aglomerações. Só com os cuidados de todos, incluindo principalmente o distanciamento social, manteremos essa tendência de queda.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
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