“É preciso encarar o envelhecimento como uma celebração da sabedoria”, diz Alexandre Kalache (Westend61/Getty Images)
Bússola
Publicado em 4 de outubro de 2021 às 17h54.
Última atualização em 4 de outubro de 2021 às 17h58.
Por Mauro Wainstock*
Já fui criança, me tornei jovem, depois moço e agora sou chamado de… senhor! Tenho 52 anos e ainda não me acostumei quando me chamam dessa forma. E o que será que vem depois disto? Oficialmente, estou perto de ser considerado idoso, mas muito longe de me sentir velho.
Não sei se em breve estarei na terceira ou na quarta idade, mas tenho certeza de que estou usufruindo da minha melhor idade e atual feliz idade: hoje.
Como diz a escritora Ashton Applewhite, autora do livro This Chair Rocks: A Manifesto Against Ageism, o “envelhecimento não é uma doença. É um processo natural, poderoso, vitalício e que une todos nós”.
Aos 69 anos, ela estimula a mobilização contra o etarismo (preconceito etário):
“Nós temos vergonha do nosso envelhecimento. Defendo que as pessoas formem grupos e falem sobre isso. Que criem uma rede de suporte para apoiar uns aos outros”.
Na mesma linha de raciocínio, a antropóloga Mirian Goldenberg, de 64 anos, autora de 30 livros, entre os quais “A invenção de uma bela velhice”, concorda que “velho é uma palavra carregada de estigmas, de preconceitos, de doenças, de inutilidade, de algo descartável”.
Ela propõe outra iniciativa: “Temos de lançar uma campanha: ‘Escute o seu velho’. Que seja meia hora por dia. Ligue, escute o que ele tem a falar. É o que eles mais precisam, ter com quem falar, sair da invisibilidade, ter atenção de alguém e não ficar recebendo ordens como se fossem incapazes. É escutando que vamos saber o que eles precisam, querem e sentem prazer na vida”.
O fato de o envelhecimento continuar sendo representado sob a forma de perdas, faz com que muitas capacidades que as pessoas idosas possuem permaneçam ocultas e seus benefícios não sejam devidamente valorizados.
Célia Pereira Caldas, pós-doutora em Gerontologia pela USP e pela Universidade de Jönköping, na Suécia, ressalta a importância da implementação de ações que não apenas interfiram em aspectos relacionados à saúde, mas permitam o combate ao preconceito, incentivem as virtudes desta faixa etária e promovam a sua inserção de forma adequada na sociedade.
Para a especialista, deve-se buscar a quebra do paradigma do envelhecimento objetivado na figura de velho vinculado a doenças, inútil e limitado; o novo conceito deve estar ancorado na representação de idoso capaz, o qual vem associado a representações positivas, independência e ânsia por viver.
De acordo com ela, faz-se necessária, também, uma mudança na conscientização, via ações educacionais.
No ambiente familiar, o suporte e o convívio com os entes queridos são entendidos como fatores primordiais para o desenvolvimento de um envelhecimento saudável e devem ser incentivados pela sua participação ativa na vida cotidiana. Nas escolas, é fundamental proporcionar encontros intergeracionais, seja por meio de rodas de conversas, seja enfatizando este tema nos currículos. No mundo corporativo, por sua vez, é necessário demonstrar os benefícios do conhecimento acumulado, do networking poderoso e das valiosas experiências adquiridas durante o decorrer da vida deste profissional.
Em todos estes ambientes, os 60+ são verdadeiras “autoridades históricas” para propiciar trocas enriquecedoras que podem contribuir para a evolução mútua.
Este processo já foi iniciado de alguma forma na Itália; país que mudou a definição de idoso para 75 anos. O número não é aleatório e sim baseado em dez anos antes da expectativa de vida. Segundo os diretores da Sociedade Italiana de Gerontologia e Geriatria, uma pessoa com 60 anos nos dias de hoje possui funções cognitivas e físicas semelhantes às de uma de 40 anos no final do século passado. O representante da entidade, Roberto Bernabei, cita o próprio pai como exemplo de um profissional ativo: ele fundou uma produtora de cinema com 70 anos e obteve muito sucesso.
Segundo estudo da Universidade de Washington, que coletou dados de 195 países, em 2040 a Itália terá a sexta maior expectativa de vida do mundo, com 84,5 anos. Perderá apenas para Espanha (85,8 anos), Japão (85,7 anos), Cingapura (85,4 anos), Suíça (85,2 anos) e Portugal (84,5 anos). Na pesquisa, o Brasil ocupa o 82º lugar no ranking, com 78,5 anos.
Por outro lado, um estudo recém-publicado na revista Royal Society Open Science sobre o limite máximo para a expectativa de vida humana concluiu que, com os avanços na assistência à saúde e no estilo de vida, será possível chegar ao 130º aniversário ainda neste século.
Os pesquisadores analisaram o comportamento de mais de 3.800 “semi-supercentenários” italianos, que viveram pelo menos até os 105 anos, e de mais de 9.800 pessoas que alcançaram a mesma longevidade na França.
Até agora, a pessoa que viveu mais tempo foi Jeanne Calment, uma francesa nascida em 1875 que morreu em 1997, aos 122 anos e 164 dias.
Neste sentido, deixo uma pergunta: quando uma pessoa deve ser considerada idosa, aos 60, 75 ou 120 anos?
E você, como gostaria de ser chamado após os 60 anos?
Como diria James Bond, sou Wainstock. Mauro Wainstock. Simples assim.
Sou um privilegiado por já ter ultrapassado meio século de vida e tento desvendar com muita ação os desafios diários para chegar a ser centenário.
Concordo com o gerontólogo Alexandre Kalache, de 75 anos, presidente do International Longevity Centre Brazil e diretor da Age Friendly Foundation, que diz: “É preciso encarar o envelhecimento como uma celebração da sabedoria”.
Está pronto para comemorar? Vamos juntos?
*Mauro Wainstock tem 30 anos de experiência em comunicação. Foi nomeado Linkedin Top Voice e atua como mentor de executivos sobre marca profissional. É sócio-fundador do HUB 40+, consultoria empresarial focada no público acima dos 40 anos.
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também