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Mauro Wainstock: Me dá logo minha CLT, Carreira Livre e Transformadora

Exausto da cultura competitiva, do tempo curto, de grosserias e assédios, de não ser valorizado? Vem lavar louça, passear com o pet e empreender

Será mesmo inconcebível pedir demissão em momentos de economia fragilizada? (10'000 Hours/Getty Images)

Será mesmo inconcebível pedir demissão em momentos de economia fragilizada? (10'000 Hours/Getty Images)

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Publicado em 2 de maio de 2022 às 08h38.

Por Mauro Wainstock*

O que significa CLT? Para alguns, Consolidação das Leis do Trabalho. Para outros, o Começo da Livre Trabalhabilidade.

E para você?

Chegou ao Brasil com toda a força o fenômeno global “The Great Resignation” ou, em português claro, “Eu me demito!”

Em um primeiro momento, parece inconcebível pedir demissão durante uma pandemia ou em uma situação econômica fragilizada.

Então por que isto vem ocorrendo com milhares de profissionais no Brasil e milhões no exterior que, mesmo sem Planos B, C ou D, largam seus cargos?

Com a evolução tecnológica, muitos perceberam que há outros modelos que podem fazer mais sentido.

Talvez almejem mais tempo para lavar louças, para sair com o pet, para almoçar, para levar os filhos na escola, para meditar ou para realizar seus exercícios físicos diários. Sem ter o celular, alarmes ou cronômetros acionados.

O trabalho passou a ser visto como mais uma das inúmeras atividades do nosso dia a dia e não como aquela que desempenhamos quase a metade da nossa vida profissional, considerando o transporte, as mensagens e as tarefas pós-horário corporativo.

A interseção entre o nosso desejo e o mundo real é um desafio a ser superado na direção de uma vida equilibrada pessoal e profissionalmente.

E por isto há tantos questionamentos sobre as regras convencionais.

Então, voltemos à pergunta: o que leva um profissional a largar a momentânea segurança de um emprego formal em troca de um universo conscientemente incerto?

Vou aprofundar ainda mais: pertencer a uma cultura extremamente competitiva; ser pressionado para entregar mais e mais resultados, em um tempo cada vez mais curto e sem limite de horário; lidar com grosserias, assédios e preconceitos de todos os tipos; não ser valorizado devidamente, e muito menos ter senso de pertencimento à empresa, são motivos suficientes para deixar tudo para trás e se aventurar em um mercado desconhecido?

Esgotamento. Esta talvez seja uma das respostas mais adequadas para esta reflexão. O cansaço é a somatória de todos estes fatores acima e envolve tanto aspectos físicos, como emocionais e relacionais.

Como diz a música “Comida” (1987), dos Titãs:

A gente não quer só comida

A gente quer comida, diversão e arte

A gente não quer só comida

A gente quer saída para qualquer parte

A gente não quer só dinheiro A gente quer dinheiro e felicidade A gente quer inteiro e não pela metade

Este profissional tem sede de quê? Ele não quer apenas a flexibilidade, mas também o respeito, o propósito e o reconhecimento.

E, como diz o economista Ricardo Amorim, “trabalho é só o meio. O que importa é o que ele cria. Se ele não criar algo valioso para os outros, adeus trabalho, emprego e salário. O que você está fazendo para criar algo valioso para os outros?”

Portanto, estas demissões não são voluntárias. São prementes. Por insatisfação, exaustão e pelo trabalho ser mais do mesmo.

Assim, não ter uma proposta de emprego ou um projeto promissor antes de se desligar de uma empresa, certamente não é um ato voluntário nem coerente, mas um gesto movido pelo desânimo e pela falta de perspectivas.

E aí ocorre a “saída para qualquer parte”, que a canção dos Titãs enfatiza em seu refrão.

Então... como será este tal futuro, esta tal transformação?

Ocorrerá nas duas pontas: tanto pela legítima pressão dos profissionais exercida por este movimento, como no entendimento das organizações de que esta situação exige minuciosas reflexões.

De que modelos estamos falando?

É aí que entra a Trabalhabilidade.

De um lado está o profissional que precisa trocar a desmotivação momentânea pela reinvenção individual. Estar “sozinho” no mercado exige uma qualificação ainda mais completa e um olhar profundo sobre seus potenciais e diferenciais.

Do ponto de vista da empresa, ela quer resultado. Neste sentido, não é a rigidez do formato tradicional que importa, mas a efetividade da entrega recebida.

E, se juntarmos os objetivos, as empresas podem transformar os colaboradores em empreendedores, eles mesmos responsáveis por tudo aquilo que estão ansiando.

No Japão, a Dentsu iniciou um programa que fornece uma renda mensal garantida durante alguns anos para ajudar funcionários que se aposentam a tornar-se donos do próprio negócio (são os “Eupreendedores”). Esta iniciativa pode ser estendida para um grupo mais amplo, disposto a entrar em um modelo ganha-ganha.

O ex-colaborador inicia seu projeto com o primeiro cliente (a empresa original) e pode oferecer seus serviços por um pacote de horas por mês ou por projetos específicos. Por outro lado, o investidor (a empresa original), que já conhece a capacidade do colaborador e quer apostar na ideia, pode solucionar questões pontuais e ser remunerado através de equity, por exemplo.

O prestador de serviço diversifica a sua gama de clientes. E expande suas possibilidades de crescimento e remuneração. A empresa seleciona os melhores profissionais para cada demanda que surgir. E foca nas soluções.

A sociedade ganha ao aplicar uma educação profissionalizante. A formação ocorre em consonância com a geração das oportunidades.

Esta não é mais uma tendência, mas uma constatação. Não é mais um modismo ou processo inovador, é uma realidade.

A Trabalhabilidade já está cedendo lugar à Empreendabilidade.

A CLT está virando Carreira Livre e Transformadora

Você realmente está preparado? Bora fazer acontecer!

*Mauro Wainstock tem 30 anos de experiência em comunicação. Foi nomeado Linkedin Top Voice e atua como mentor de executivos sobre marca profissional. É sócio-fundador do HUB 40+, consultoria empresarial focada no público acima dos 40 anos.

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