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Márcio de Freitas: O mercado apanha desde os tempos de Cristo

Luiz Inácio Lula da Silva não inaugurou nova tendência com seu desprezo pela oscilação do dólar ao alto e pela queda das ações das empresas brasileiras na bolsa de valores

A briga do governo eleito é grande ao enfrentar um ente misterioso (Reprodução/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 18 de novembro de 2022 às 18h00.

O tal mercado apanha há milênios de líderes populares. Jesus Cristo entrou no templo judeu no Pessach com um pesado cordame na mão, expulsando mercadores e cambistas que lá estavam indevidamente. Quem nos contou esse episódio foi o evangelista João. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva não inaugurou, pois, nova tendência com seu desprezo pela oscilação do dólar ao alto e pela queda das ações das empresas brasileiras na bolsa de valores.

A reação do mercado veio depois das declarações de Lula dizendo que sua prioridade é retirar o Bolsa Família do Teto de Gastos, além de outras despesas. Algo em torno de R$ 200 bilhões no próximo ano. Para isso, espera apoio do Congresso Nacional. O tal mercado avaliou o gasto e enxergou nisso risco fiscal. Em resumo, o país deverá sair deste ano de superávit nas contas públicas para o território dos déficits em 2023, na casa de quase 2%. Isso só no primeiro ano. Os gráficos projetam uma conta salgada no futuro.

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A briga do governo eleito é grande. Enfrenta o tal mercado, esse ente poderoso e misterioso. O que é esse ser? Mercado é muito identificado com especuladores, como disse o presidente Lula. Verdade, parte dele é composto pelo pessoal que aposta em bolsas de valores, lugar onde empresas vendem suas cotas societárias a quem acredita ser um bom negócio.

É a chamada participação acionária, oferecida no mercado de capitais. Os bancos são outros setor importante do tal mercado – até por serem agentes de negociação dessas ações, que são declaradas em Imposto de Renda por milhões de brasileiros que optam por esse tipo de investimento para proteger seu patrimônio pessoal ou para garantir uma aposentadoria futura com boa rentabilidade, baseada em lucros e dividendos das suas ações.

Essa última opção é adotada inclusive por fundos de pensão de trabalhadores – que compram partes importantes de empresas para garantir rendas de funcionários que passam uma vida de dedicação a seu serviço; e depois se aposentam. São trabalhadores de firmas como Petrobras, Correios, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e, depois da reforma previdenciária do PT em 2003, dos servidores públicos federais, estaduais e municipais.

A poupança do trabalho dessas pessoas são investidas nas empresas para financiar projetos e investimentos que garantem seu crescimento, melhoram seu desempenho, financiam pesquisas tecnológicas e garantem a evolução frente à concorrência. Quando as ações caem, como ocorreu essa semana, o patrimônio de milhões de brasileiros fica menor e as empresas perdem capacidade de enfrentar os concorrentes. Esses trabalhadores são, portanto, parte desse tal mercado. Perderam dinheiro? Fazer o quê?

Paciência… eles escolheram este caminho de se associar a esses fundos previdenciários especulativos. Fundos que financiam empresas como Vale, JBS, Petrobras, Ambev, Itaú, Eletrobras. Além de startups, novos negócios inovadores que dinamizam a economia nacional.

Algumas dessas empresas de capital aberto são estratégicas ao país, no mercado nacional e internacional. Produzem carne, bebidas, minérios, energia, combustíveis, serviços bancários. É o tal mercado nos cercando por todos os lados.

O mercado também usa outros meios para proteger o capital próprio e de seus clientes, como o dólar e os juros que cobram dos empréstimos que praticam no mercado financeiro. Ou vão ao dólar e abandonam o real quando acham que o governo pode não conseguir pagar todas suas contas, ou ter dificuldades de pagá-las. E, se emprestam ao Tesouro Nacional, pedem juros mais altos para financiar a dívida pública do governo. Na primeira hipótese, diversos produtos importantes ficam mais caros para os brasileiros como a gasolina. Na segunda opção, o governo precisa tirar mais impostos do bolso do povo para pagar a conta.

Muitas vezes o tal mercado é vilão – quando empresas de capital aberto são mal geridas. Noutras é vítima, tendo seu capital diminuído por ações políticas. Foi o caso da Petrobras – quantas vezes usada para garantir objetivos políticos de governos às custas dos preços das ações do acionista. São ironias finas da história… Tão fina como o fato de o Vaticano, entidade milenar de representação de Cristo na terra, ter criado em 1942 seu próprio banco e, posteriormente, seu próprio escândalo de gestão financeira. O profano mercado acabou sacrossanto, mesmo que lhe atirem algumas pedras.

*Marcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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