Bússola

Um conteúdo Bússola

Iona Szkurnik: Tendências de educação e o futuro do trabalho

Este mês ocorreu a maior conferência de Educação e Tecnologia no mundo, em San Diego (CA), onde foram discutidas as tendências para o futuro

Será preciso desenvolver novas habilidades para lidar com a transformação digital. (Malte Mueller/Getty Images)

Será preciso desenvolver novas habilidades para lidar com a transformação digital. (Malte Mueller/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 27 de agosto de 2021 às 19h06.

Por Iona Szkurnik*

Esse mês aconteceu a 12ª conferência ASU-GSV sobre Educação, Inovação e Tecnologia, conhecida como o encontro mais importante do setor educacional no hemisfério norte. Passaram por lá como keynote speakers o presidente Obama, Bill Gates, ex-primeiro-ministro Tony Blair, entre centenas de líderes ao longo dos anos. Por mais difícil que seja imaginar, a edição de 2021 foi presencial e, com bastante sucesso, seguiu todos os protocolos do coronavírus: prova de vacinação e teste negativo dos mais de 4 mil participantes.

Entre CEOs das maiores edtechs compartilhando caso de sucesso, inúmeros investidores a busca de futuros unicórnios, empreendedores visionários com seus produtos para mudar o mundo, e muitos professores, diretores, superintendentes de distritos (correspondente aos nosso secretários de Educação municipal e estadual), além de instituições não-governamentais, e claro, as grandes empresas tech (Google, Apple, Microsoft, AWS), todos nós estávamos contentes de estar, finalmente, de volta ao contato humano.

Entre três andares, mais de 20 salas simultâneas e o palco principal, entre os dias 9 e 11 de agosto, muitas ideias, colaborações, tendências de mercado, dores e conquistas foram compartilhadas e celebradas. Destaco as que mais me marcaram:

1) O ensino remoto será permanente. Iremos ter, aos poucos, o ensino presencial de volta, mas sempre teremos o ensino a distância e cada vez mais soluções que alinham qualidade, acessibilidade e engajamento. O que isso quer dizer na prática? Primeiro, significa que as pessoas que tinham resistência a aprender em plataformas passaram a ver esse meio como uma solução e não mais como um problema. Segundo, a qualidade do material online tende a melhorar, afinal, a competição é grande e o custo de aquisição é cada vez maior. E terceiro, a tecnologia traz cada vez mais caminhos para o tão precioso engajamento de quem quer aprender a distância mas, por diversos motivos, não consegue manter uma regularidade. Com a educação digital a questão central discutida é como engajar professores e alunos para maximizar o “novo normal”.

2) O trabalho é a nova sala de aula: colocar em prática imediatamente o que você está aprendendo é a melhor maneira de engajar os colaboradores que precisam requalificar-se ou adquirir habilidades para o mercado de trabalho. A pandemia enfatizou a distância entre as necessidades que a transformação digital nos traz e com isso, aumentou a escassez de talento humano qualificado para as novas demandas. O local de trabalho torna-se a sala de aula do futuro e agora, torna-se um problema de todos, não mais do sistema de ensino que não entrega o aluno “pronto” para performar de acordo com as expectativas do mercado. A esperança das empresas que já perceberam seu papel crucial nessa dinâmica é investir na educação como um benefício para resolver este problema global e melhorar a produtividade.

3) O trabalho remoto também será permanente. Mesmo após as restrições do covid – o que ainda não vemos no horizonte – a consequência das duas primeiras tendências atrelado a possibilidade de trabalhar de onde for, é uma corrida por talentos em qualquer lugar do globo. Empresas querem achar os melhores talentos, sem limitação geográfica ou de nacionalidade. Ou seja, mais oportunidades para nós transformarmos a sociedade em mais justa e igualitária, já que você não precisa morar em São Paulo, Nova Iorque, San Francisco, ou Londres para estar alinhado com seu propósito no seu trabalho dos sonhos.

A transformação digital é tamanha e com tal velocidade, que estima-se que três quartos da força de trabalho mundial irá precisar aprender novas habilidades na próxima década. Com isso, fica claro que não adianta apontar dedos para as instituições de ensino, elas mesmas têm tentado acompanhar as mudanças impulsionadas pela tecnologia. As empresas que já entenderam isso estão agindo. As que não entenderam terão que correr atrás para sobreviver.

Renovada pelas ideias e tendências vindas do coração de Educação e Tecnologia, fica a pergunta: como podemos trazer todo esse conhecimento para o Brasil e aproveitar a oportunidade de, enfim, acelerar o desenvolvimento do nosso país através de uma educação diretamente alinhada com a produtividade?

Tenho poucas dúvidas de que com investimento em educação de dentro das empresas, iremos cada vez mais conseguir fechar a distância entre sermos um país competitivo mundialmente, com incentivo ao crescimento profissional, e continuarmos como uma promessa, como um potencial que não se concretiza.

Em português claro: este é um momento sem precedentes para mobilidade social, mais oportunidades e melhor equidade. Porém, não basta sonhar grande, tem que correr atrás de se re-qualificar alinhado às demandas do mundo em rápida e constante transformação.

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e membro do Conselho da Brazil at Silicon Valley

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedInTwitter | Facebook | Youtube

Acompanhe tudo sobre:EducaçãoInovação

Mais de Bússola

7 em cada 10 brasileiros apostam na produção de biocombustível como motor de crescimento econômico

97% das empresas com receita de US$ 1 bi já sofreram violação por IA generativa, aponta instituto

Luiz Garcia: como a construção civil pode superar os desafios provocados pelo aumento do INCC

Bússola Cultural: moda periférica com Karol Conká e Tasha&Tracie