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Gestão Sustentável: a verdade possível no mundo pós-COP30

Uma análise das limitações estruturais reveladas ao longo da conferência

Belém nos lembrou que a transição não virá apenas de acordos formais (Leandro Fonseca /Exame)

Belém nos lembrou que a transição não virá apenas de acordos formais (Leandro Fonseca /Exame)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 10h00.

A COP30 ficará registrada como a conferência em que as contradições foram colocadas no centro do debate. À sua maneira, foi mesmo a “COP da verdade”.

Não porque tenhamos chegado a um consenso iluminado sobre como enfrentar a emergência climática, mas porque o mundo real se impôs, com seus limites, contradições e desafios.

O Brasil fez o que lhe cabia

Propôs um mutirão global contra a crise climática, evocando a ideia de uma mobilização coletiva capaz de dar resposta proporcional à dimensão do problema.

A proposta esbarrou, como seria inevitável, na exigência de consenso entre países que vivem realidades, prioridades e pressões domésticas profundamente distintas.
O resultado foi o acordo possível — aquele que contempla parte das soluções necessárias, mas deixa lacunas fundamentais em aberto.

Os caminhos alternativos surgiram

Ainda assim, Belém assistiu ao surgimento de caminhos alternativos, numa combinação muito brasileira de pragmatismo e criatividade institucional.

Se o início da conferência fora marcado pelo impulso dado ao TFFF para apoiar o combate ao desmatamento, o encerramento trouxe o anúncio de duas iniciativas paralelas: uma voltada à reversão efetiva da destruição florestal; outra dedicada, nas palavras de André Corrêa do Lago, a “fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa”.

Criaram-se vias complementares que contornam os impasses, no que poderíamos chamar de um jeitinho brasileiro, entendido aqui como a habilidade de avançar mesmo sob restrições.

O clima não chegou a ser mais ambicioso

Durante alguns momentos da conferência, o clima era de que um acordo mais ambicioso poderia emergir. Havia, de fato, um impulso político raro.

Mas ao final saímos com um desenho institucional que reflete mais o mundo como ele é do que o mundo como ele precisa ser.

Concessões se acumularam para destravar mínimos denominadores comuns, e os temas mais difíceis encontraram soluções laterais — engenhosas, mas insuficientes frente à escala da crise.

Governança climática global pode ter chegado ao limite

Para os próximos meses e anos, fica a sensação de que a atual governança climática global pode ter chegado ao seu limite.

O mecanismo de negociações por consenso, tão valioso para garantir legitimidade, mostra-se lento demais para uma emergência que avança em ritmo exponencial.

Para acelerar a transição, elevar ambição e destravar recursos, o mundo terá de experimentar novos instrumentos — coalizões paralelas, arranjos plurais, mecanismos de responsabilidade mais claros — e, sobretudo, depender menos da boa vontade diplomática e mais da pressão social contínua.

Belém nos lembrou que a transição não virá apenas de acordos formais, mas também da capacidade de reinventar governanças, mobilizar recursos e pressionar quem toma decisão a agir.

Para isso, o papel do engajamento social - e portanto da comunicação para sustentabilidade - será ainda mais fundamental.

 

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