Belém nos lembrou que a transição não virá apenas de acordos formais (Leandro Fonseca /Exame)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 10h00.
A COP30 ficará registrada como a conferência em que as contradições foram colocadas no centro do debate. À sua maneira, foi mesmo a “COP da verdade”.
Não porque tenhamos chegado a um consenso iluminado sobre como enfrentar a emergência climática, mas porque o mundo real se impôs, com seus limites, contradições e desafios.
Propôs um mutirão global contra a crise climática, evocando a ideia de uma mobilização coletiva capaz de dar resposta proporcional à dimensão do problema.
A proposta esbarrou, como seria inevitável, na exigência de consenso entre países que vivem realidades, prioridades e pressões domésticas profundamente distintas.
O resultado foi o acordo possível — aquele que contempla parte das soluções necessárias, mas deixa lacunas fundamentais em aberto.
Ainda assim, Belém assistiu ao surgimento de caminhos alternativos, numa combinação muito brasileira de pragmatismo e criatividade institucional.
Se o início da conferência fora marcado pelo impulso dado ao TFFF para apoiar o combate ao desmatamento, o encerramento trouxe o anúncio de duas iniciativas paralelas: uma voltada à reversão efetiva da destruição florestal; outra dedicada, nas palavras de André Corrêa do Lago, a “fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa”.
Criaram-se vias complementares que contornam os impasses, no que poderíamos chamar de um jeitinho brasileiro, entendido aqui como a habilidade de avançar mesmo sob restrições.
Durante alguns momentos da conferência, o clima era de que um acordo mais ambicioso poderia emergir. Havia, de fato, um impulso político raro.
Mas ao final saímos com um desenho institucional que reflete mais o mundo como ele é do que o mundo como ele precisa ser.
Concessões se acumularam para destravar mínimos denominadores comuns, e os temas mais difíceis encontraram soluções laterais — engenhosas, mas insuficientes frente à escala da crise.
Para os próximos meses e anos, fica a sensação de que a atual governança climática global pode ter chegado ao seu limite.
O mecanismo de negociações por consenso, tão valioso para garantir legitimidade, mostra-se lento demais para uma emergência que avança em ritmo exponencial.
Para acelerar a transição, elevar ambição e destravar recursos, o mundo terá de experimentar novos instrumentos — coalizões paralelas, arranjos plurais, mecanismos de responsabilidade mais claros — e, sobretudo, depender menos da boa vontade diplomática e mais da pressão social contínua.
Belém nos lembrou que a transição não virá apenas de acordos formais, mas também da capacidade de reinventar governanças, mobilizar recursos e pressionar quem toma decisão a agir.
Para isso, o papel do engajamento social - e portanto da comunicação para sustentabilidade - será ainda mais fundamental.