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ESG além do discurso: soluções regenerativas são passaporte para o futuro

Os desafios de ESG são profundos, e é preciso acelerar a adoção de soluções de economia regenerativa

“Vetorização” é bastante útil para direcionar estratégia e inovação em sustentabilidade (Thithawat_s/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 21 de setembro de 2021 às 11h14.

Por Danilo Maeda*

Começa hoje a 76ª Assembleia Geral da ONU. Escrevo esta coluna na véspera, mas tenho certeza que o noticiário está recheado de matérias sobre os discursos de alguns dos principais líderes globais, alfinetadas, cobranças (diretas ou indiretas), encontros bilaterais e declarações de intenção. Mudanças climáticas é certamente um dos temas mais presentes, dada sua urgência e magnitude.

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Mas é possível que diante de tanta conversa você também esteja com a sensação de que é preciso acelerar as coisas na prática. Mais que uma sensação, essa é de fato uma necessidade. No cenário atual, os desafios sociais, econômicos e ambientais são tão profundos que o desenvolvimento sustentável (atender às necessidades de hoje sem comprometer a capacidade de próximas gerações atenderem as suas) só será possível se acelerarmos a adoção de soluções de economia regenerativa.

O desafio é tão grande que além de adotar as respostas disponíveis imediatamente e em larga escala, é preciso desenvolver novas “soluções sistêmicas para desafios globais”, que possam ser escaladas e aplicadas com velocidade e alto impacto para reverter danos e gerar valor compartilhado sem efeitos colaterais. Essa é a ideia dos “cisnes verdes”, conceito cunhado por John Elkington, considerado o pai da sustentabilidade empresarial e que também popularizou a ideia de tripple bottom line (entenda melhor aqui ).

Em outras palavras, debates e costura de acordos são fundamentais para a humanidade avançar. Mas só conversa não basta. Por isso, listei alguns exemplos de soluções regenerativas que podem ser cisnes verdes. São ideias variadas: das simples às complexas, baseadas na natureza ou em tecnologia, baratas ou de grande orçamento. A ideia é que sirvam de inspiração para o desenvolvimento de mais iniciativas do tipo.

1. Soluções baseadas na natureza podem resolver um terço do desafio do Acordo de Paris — manter o aquecimento global abaixo dos 2°C na comparação com níveis pré-industriais. Segundo um estudo publicado na revista científica PNAS, a adoção de soluções de conservação, restauração e melhoria na gestão do uso da terra podem aumentar o armazenamento de carbono e/ou evitar emissões de gases do efeito estufa (GEE) em florestas, pântanos, pastagens e terras agrícolas. A análise considerou 20 iniciativas do tipo, que em conjunto têm o potencial de contribuir com 37% da mitigação de CO₂ e necessária até 2030 para atingirmos o objetivo do acordo de Paris, de forma custo efetiva e com salvaguardas para atender às crescentes necessidades humanas de alimentos e fibras. Em outras palavras, parte relevante do problema das mudanças climáticas pode ser resolvida com tecnologias já existentes e amplamente disponíveis na biblioteca de inovações que chamamos de ecossistema.

2. Se as soluções baseadas na natureza entregam resultado e são custo-efetivas, como financiá-las na prática? Essa é a pergunta que este relatório da TNC (The Nature Conservancy) se propõe a responder. O documento é direcionado ao desafio da biodiversidade, mas as propostas são aplicáveis a outras questões ambientais. As propostas são distribuídas em três grandes frentes: a) melhorar a gestão das cadeias de suprimentos e reduzir gastos em atividades danosas — a TNC estima em quase US$ 294 bilhões por ano os subsídios agrícolas, pesqueiros e florestais que são prejudiciais à natureza. Em outras palavras, estamos financiando a degradação, o que não faz qualquer sentido no médio e longo prazo, b) estabelecer mecanismos de geração de receita para proteção ambiental, como o pagamento por serviços ecossistêmicos, que fazem a preservação valer a pena também para quem está na ponta e pode contribuir diretamente com preservação e regeneração de biomas, c) alocar investimento público e privado em infraestrutura verde e desenvolver incentivos financeiros para a proteção da natureza.

3. Em mais um exemplo de serviços ecossistêmicos, alguns estudos têm demonstrado o papel da conservação e regeneração da vegetação em áreas de mananciais na disponibilidade e produção de água, com papel relevante para a segurança hídrica e conservação de bacias hidrográficas. A Coalizão Cidades pela Água defende que para implantar essas soluções, o poder público local tem papel chave. Além disso, é preciso incentivar proprietários rurais a proteger nascentes e matas ciliares, por meio do Pagamento Por Serviços Ambientais.

4. A natureza é nossa principal aliada no combate às mudanças climáticas e outras crises ambientais, mas já causamos tantos danos que ela provavelmente vai precisar de uma ajudinha. Em mudanças climáticas, o sonho de capturar carbono diretamente da atmosfera começa a se tornar realidade em iniciativas como a da Suíça Climeworks, que inaugurou recentemente na Islândia a Orca, planta que promete capturar até 4 mil toneladas de CO₂ por ano.

5. Na mesma linha, a australiana Calix promete capturar o CO2 da indústria de cimento responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases do efeito estufa. A solução passa por mudanças no processo de fabricação, lógica similar à aplicada no projeto “hybrit”, desenvolvido por três empresas suecas para descarbonizar o setor de siderurgia, outro grande responsável por emissões de GEE (cerca de 7%).

Dado o seu potencial de impacto positivo, é importante que tais experiências ganhem escala. Para isso, é fundamental compartilhar conhecimento, investir em ações setoriais e estabelecer políticas públicas que ampliem e acelerem a adoção das soluções inovadoras que caracterizam a Economia Regenerativa.

Por fim, note que além de ajudarem a resolver desafios ambientais, as iniciativas listadas têm algo em comum na forma como foram constituídas. Elas são respostas a necessidades da sociedade em temas relevantes para as organizações que as criaram e com iniciativas de impacto cujo investimento é proporcional à sua capacidade e potencial de geração de valor. A abordagem é conhecida como “vetorização” e é bastante útil para direcionar estratégia e inovação em sustentabilidade. Escreverei sobre ela no próximo artigo.

*Danilo Maedaé diretor de ESG no Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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