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Ele deixou a medicina tradicional para virar CEO de 2 fundos e criar empresa que já vale R$ 10 mi

Com menos de 30 anos, Rafael Kenji Hamada fundou a Academy Abroad, concluiu faculdade pública de Medicina, e hoje vê que ajuda muito mais gente do que na época em que atendia em hospitais

Rafael Kenji durante o estágio na Harvard Medical School (Rafael Kenji/Acervo pessoal)
Aquiles Rodrigues

Repórter Bússola

Publicado em 4 de julho de 2024 às 15h13.

“Atualmente, nenhuma faculdade de Medicina ensina quanto cobrar por um honorário médico, quais são os direitos que o médico tem, seus principais deveres… Eu senti uma necessidade de mudar isso porque, se fosse esperar outros fazerem, nada ia mudar”, conta Rafael Kenji Hamada sobre sua experiência na universidade.

O médico e empreendedor viu nessa deficiência das universidades uma oportunidade única. Investindo em gestão e empreendedorismo na área da saúde, Rafael construiu uma carreira sólida, tornando-se CEO de três empresas antes dos 30 anos de idade – ele está quase lá, tem 29.

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A queridinha fundada por ele é a Academy Broad , que já fatura R$ 400 mil por ano com o aperfeiçoamento da carreira de profissionais da saúde e de outras áreas. A empresa superou a marca dos R$ 600 mil no dia primeiro de julho e projeta um faturamento total de R$ 2 milhões até o final de 2024.

Aprimoramento de carreiras? Como?

Com um valuation de R$ 10 milhões, alcançados após quatro anos de operação, a Academy Abroad é uma plataforma de aprimoramento de carreira que oferece um marketplace de mentorias, um projeto de imersões e formas de conectar alunos das universidades brasileiras a universidades como Harvard, MIT e Babson College.

“Com apenas cinco mentorias, uma análise de currículo e ajuda para escrever a carta de apresentação, conseguimos que o aluno seja aceito em uma grande universidade”, detalha Rafael, falando sobre um de seus produtos mais recentes.

Hoje as mentorias da Academy Abroad abrangem diferentes áreas, mas a empresa começou com o objetivo de criar oportunidades para alunos de Medicina estudarem no exterior.

A ideia surgiu quando Rafael ainda estava na graduação. Mineiro de Belo Horizonte, ele é filho de pai policial e mãe dona de casa. Com o desejo de “aliviar o sofrimento físico, mental e emocional das pessoas” ele decidiu cursar Medicina. Foi o primeiro da família a seguir a prestigiada carreira.

Durante os anos de estudo na Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Rafael conseguiu a oportunidade de estudar em Harvard, nos Estados Unidos. Em congresso, ele conheceu o Dr. Marcelo da Silva, do Departamento de Cirurgia Torácica, e, após muito esforço para conseguir o contato dele, contou sua história e foi aceito.

Foram mais de 1200 horas de estágio em Harvard, que Rafael cumpriu com empenho. Na época, ele achava que seguiria um caminho tradicional no setor da saúde, mas, quando voltou para o Brasil, veio a notícia:aUFJFnão aceitaria suas horas de estágio em Harvard .

Uma ideia fora da curva, um anjo que acreditou

“Quando eu voltei e recebi essa notícia eu fiquei extremamente decepcionado, mas isso me incentivou a ajudar outros alunos. Eu comecei a receber histórias de gente da minha própria turma que tinha sido, por exemplo, aprovado em Oxford , mas que não foi porque não conseguiu a liberação da universidade”, conta.

O problema burocrático foi resolvido com a solicitação de dispensa de disciplina. Rafael se formou, mas a experiência o inspirou a seguir uma carreira não tradicional dentro da saúde, a ajudar outras pessoas. Foi aí que ele resolveu fundar a Academy Abroad.

Com a ideia de fazer a ponte entre médicos e universidades no exterior, Rafael foi até seu conhecido da Harvard Medical School, o professor e pesquisador Dr. Roger Daglius Dias. Com um pitch, que ainda não previa faturamento nem plataforma, ele conquistou o educador — que acabou virando seu investidor anjo com um aporte de R$ 50 mil para ele dar o start na empresa.

“Captar é isso, né,você vende um sonho para o investidor . É preciso mostrar o quanto você é capaz de alcançar as metas e transformar um sonho em realidade.O investidor tem que acreditar em você . Isso principalmente em startups, nas quais nem sempre o que a gente espera acontece.É questão de contar uma boa história ”, detalha.

Pivotagem e sucesso para além da saúde

O negócio decolou com um dos primeiros produtos: a imersão Boston Healthcare Innovation . O programa leva médicos brasileiros para uma semana nas universidades de Harvard e MIT, contando com palestras, workshops e uma vivência que apresenta para os brasileiros a realidade da saúde no exterior e para os estrangeiros a realidade da saúde brasileira.

O formato desenvolvido por Rafael e seus sócios é tão elogiado que a empresa foi procurada pela Babson College, maior faculdade de empreendedorismo do mundo.

Neste ano, com a procura cada vez maior de profissionais e entidades de outras áreas, a Academy Abroad pivotou para sua atual plataforma de aperfeiçoamento de carreira, incluindo um marketplace de mentorias.

Tudo acontece dentro da plataforma. O aluno pode se cadastrar e escolher entre os atuais 150 mentores de diferentes áreas, como comunicação, carreira, saúde, currículo, idiomase mais .

A pivotagem teve sucesso graças ao aporte de R$ 400 mil por 4% da empresarecebido de dois investidores que participaram da primeira imersão do Boston Healthcare Innovation ( BHI).

Com um valuation de R$ 10 milhões, o futuro da Academy Abroad é promissor. Segundo Rafael, já existem negociações para imersões como o BHI em outros países.

Mas como ele consegue fazer tudo sendo CEO de três empresas?

Rafael Kenji também é CEO de dois fundos de investimentos: HealthAngels Venture Builder e FHE Ventures , ambos do segmento de saúde. Quando estava na universidade, ele fundou a MedicJr , empresa parte do Movimento Empresa Júnior, querealiza projetos de gestão e empreendedorismo para hospitais, consultórios e afins.

Seu objetivo era o mesmo que incentivou toda a carreira: facilitar a vida de universitários e mostrar para médicos que o caminho tradicional não é o único.É possível ajudar, também, com inovação e de muitas outras formas.

A experiência com gestão e empreendedorismo na saúde garantiu a ele uma entrevista com headhunter do grupo FCJ . Quando chegou, ele quase foi dispensado da entrevista, pois tinha apenas 26 anos. Ele insistiu e depois de oito etapas se tornou CEO da FHE Ventures .

“Ainda é muito desafiador, mas ter equipes muito boas – que eu confio e que me deixam ficar sabendo do que está acontecendo sem precisar microgerenciar – me possibilitou dar conta de atuar com três cargos de CEO”.

Hoje, com muita coisa na mesa, Rafael se vê cumprindo sua missão original de aliviar o sofrimento do próximo. Para ele, sua atuação está fazendo a diferença na saúde em escala.

“Eu tive medo no começo. Não sabia o que o mercado ia achar de um médico que não trabalha diretamente no atendimento. Mas uma startup de prontuário eletrônico que a gente investe vai impactar um hospital inteiro. Uma startup de telemedicina vai ajudar a atender milhões de pessoas. Hoje, o impacto que eu consigo gerar atuando em inovação, gestão e empreendedorismo na saúde é muito maior do que o de quando eu atendia”, conclui.

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