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Educação em tempos de pandemia: o papel de pais, edtechs e empresas

“O número de edtechs no Brasil registrou alta de 28%, e o crescimento se deu mais entre os provedores de serviços educacionais para as famílias e não tanto para as escolas”

 (Artur Debat/Getty Images)

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Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 18h30.

Como diversos outros setores, a educação é um ecossistema que depende da interação de muitos agentes. Os mais óbvios são professores, gestores e alunos. Mas, no contexto atual de pandemia, outros dois têm conquistado um papel cada vez mais relevante: os pais e as edtechs - startups de tecnologia educacional.

Com a interrupção total ou parcial das aulas presenciais e a migração para o ensino remoto ou híbrido, muitas famílias com filhos em idade escolar se viram obrigadas a cuidar em tempo integral das crianças, auxiliando-as inclusive nos estudos on-line. Isso teve impactos também para as empresas tradicionais, já que muitos de seus funcionários passaram a ter que conciliar o home office com essa atenção aos pequenos.

Por um lado, essa situação levou a um maior envolvimento dos pais com a aprendizagem dos filhos. No Reino Unido, uma pesquisa realizada pela ONG Parentkind mostrou que 53% dos entrevistados se sentem mais engajados com o tema do que antes da pandemia. Por outro lado, surgiram também dúvidas em relação à melhor forma de ajudar os estudantes, considerando a, em geral, escassa familiaridade desses pais com o ensino on-line, sua falta de preparo pedagógico e de tempo disponível.

Para driblar essas dificuldades, muitos acabaram recorrendo a soluções tecnológicas. Nos Estados Unidos, uma pesquisa feita pela consultoria Delloite revelou que 51% dos pais pretendiam gastar mais com recursos desse tipo. Se em 2019 a média anual de gastos com educação por filho foi de US$ 711, em 2020 a previsão de investimentos era bem maior, de mais de US$ 1.000 para 37% das famílias e de ao menos US$ 2.000 para 20% das famílias.

Como resultado, houve um aquecimento no mercado das edtechs. Segundo relatório da Distrito, apenas em 2020, foram investidos globalmente mais de US$ 11 bilhões no setor, contra US$ 7,9 bilhões em 2019. No Brasil, o número de edtechs passou de 434 para 559, numa alta de 28%. O crescimento se deu sobretudo entre os provedores de serviços educacionais para as famílias, e não tanto nas soluções para as escolas.

Se a chegada de tantos agentes ao mercado aumenta a disponibilidade de recursos de qualidade para a educação dos estudantes, ela também deixa o processo de escolha das ferramentas mais difícil, colaborando para o já elevado nível de estresse em casa. De acordo com a pesquisa da Associação Americana da Psicologia, 46% dos entrevistados com filhos menores de 18 anos dizem que seu nível médio de estresse está alto atualmente, contra 28% dos adultos sem filhos menores.

As empresas, assim, se veem indiretamente envolvidas no ecossistema de educação, já que a saúde mental de seus funcionários se vê afetada, com impactos na produtividade e no desempenho. Não à toa, uma pesquisa realizada pela consultoria Mercer Marsh com 324 empresas do Brasil constatou que 69% passaram a oferecer mais benefícios para melhorar o bem-estar físico e mental dos seus funcionários no ano passado, sendo que 59% incluíram serviços on-line de meditação e 40% passaram a disponibilizar sessões de terapia.

Ainda que sejam louváveis, essas iniciativas poderiam ser complementadas por outras que permitissem aos funcionários conciliar de forma mais fácil a vida profissional com a familiar. Com a perspectiva de consolidação do ensino híbrido e do home office, seria muito interessante que as empresas oferecessem um benefício que facilitasse a adoção de ferramentas de edtechs, conectando seus colaboradores, sejam pais ou não, às melhores soluções educacionais disponíveis.

Mesmo antes da pandemia, algumas companhias já haviam percebido a conveniência de investir em benefícios educacionais para suas equipes e suas famílias. O Grupo Boticário, por exemplo, oferece um kit escolar aos filhos de seus colaboradores, enquanto a startup Passei Direto oferece bolsas de aprendizagem de idiomas para os próprios funcionários.

Ao levar em consideração o cenário atual e incorporar as edtechs nesta equação, as empresas poderiam ajudar seus colaboradores a navegar nestes tempos incertos com mais tranquilidade, cumprindo seu papel social ao mesmo tempo em que colhem os frutos de funcionários mais produtivos e menos estressados.

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e presidente do Conselho da Brazil at Silicon Valley

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