Quem investe aposta em um futuro melhor, mas nada disso fará sentido em um planeta ambientalmente inóspito e socialmente disfuncional (Thithawat_s/Getty Images)
Bússola
Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 13h18.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2022 às 13h57.
Por Danilo Maeda*
Entender para onde as coisas vão e como fazer sua parte é importante, mas não suficiente. A transição para um mundo verdadeiramente sustentável depende da ampla adoção de boas práticas, de políticas públicas baseadas em evidências, mudanças culturais profundas e investimentos em larga escala, além de tecnologia e inovação.
A depender da metodologia e escopo de pesquisa, as estimativas para o custo da transição variam bastante. Uma pesquisa da McKinsey divulgada recentemente estimou que os “gastos de capital em sistemas de energia e uso do solo para a transição ao carbono zero totalizariam cerca de US$ 275 trilhões entre 2021 e 2050, ou uma média de US$ 9,2 trilhões por ano”.
No modelo da consultoria, os investimentos deveriam crescer dos atuais 6,8% do PIB global para 8,8% entre 2026 e 2030. Além disso, a transição poderia resultar em um ganho de cerca de 200 milhões e uma perda de 185 milhões de empregos diretos e indiretos em todo o mundo até 2050. Por mais que o saldo seja positivo, vale notar que os empregos a ser criados exigem qualificações diferentes dos que serão extintos, então há uma questão social importante a ser endereçada pelas políticas públicas.
Em outra estimativa, desta vez realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com o Fórum Econômico Mundial e outras entidades, foram avaliados os investimentos que países do G20 deveriam fazer em soluções baseadas na natureza (NbS) para lidar com crises de clima, biodiversidade e degradação da terra. A cifra a que se chegou foi de US$ 285 bilhões por ano até 2050, consideravelmente superior aos atuais US$ 120 bilhões anuais.
Segundo o estudo, seria necessário um investimento de US$ 4,1 trilhões em soluções baseadas na natureza entre 2020 e 2050. Isso significa que os investimentos anuais do G20 em NbS precisam aumentar em pelo menos 140% para cumprir todas as metas acordadas de biodiversidade, restauração de terras e clima até 2050. Os recursos adicionais seriam destinados especialmente em ajudas oficiais ao desenvolvimento e gastos do setor privado.
Independente de como cada um faz suas contas, não se pode negar que é preciso alocar capital para mudar processos produtivos e implantar práticas condizentes com os ciclos da natureza. O setor financeiro, e especialmente os agentes com vocação para o longo prazo, já estão de alguma forma engajados nesse processo. É o caso do BNDES com o programa Crédito ASG, que condiciona o custo dos empréstimos ao desempenho sustentável de uma companhia.
Práticas como essa, que incluem aspectos ESG na avaliação e em todo o ciclo de crédito, devem se tornar o padrão do mercado. Há um grande espectro para os chamados investimentos verdes, com perfis de atuação aderentes a basicamente qualquer tipo de investidor ou gestora. Eles vão desde os “responsáveis”, que procuram reduzir a exposição a riscos ESG, até os de “impacto”, cujo foco principal é a solução de problemas socioambientais. No meio do caminho, outras opções procuram conciliar retorno financeiro com geração de valor compartilhado.
Todos esses perfis de investimento contribuem de alguma forma, seja com a mitigação de impactos socioambientais negativos (que se traduzem em risco para os negócios) até a resolução de problemas da Agenda 2030. E precisamos de todos eles ao mesmo tempo. Investimentos buscam gerar riqueza. Em última análise, quem investe aposta em um futuro melhor. Mas nada disso fará sentido em um planeta ambientalmente inóspito e socialmente disfuncional.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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