Crise: educação pode acarretar problemas para próximas duas décadas (Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2021 às 11h53.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 22h09.
Por Flavia Rezende
Não há dúvida de que o momento que estamos vivendo deixará marcas por muitos anos. Seja na economia ou na saúde pública, não há solução rápida ou mágica para reverter os danos causados pela pandemia. E o mesmo desafio se aplica à educação e ao futuro do mercado de trabalho.
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Antes do estouro do Covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que cinco em cada dez indústrias brasileiras alegavam dificuldade em contratar empregados por falta de qualificação. O maior obstáculo está no recrutamento de profissionais de nível técnico, gargalo indicado por 90% das 1.946 empresas que participaram do estudo.
O problema da qualificação profissional tem seu início na formação básica. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostra que 95% dos brasileiros têm alguma deficiência em sua base educacional. Com o fechamento das escolas durante a pandemia e as dificuldades de adaptação ao modelo online, a tendência é de agravamento no cenário, com o percentual de crianças de 10 anos ainda incapazes de entender um texto simples – a chamada faixa de “pobreza de aprendizagem” - saltando de 50% para 70% no Brasil.
A crise é ainda mais grave se considerarmos as perdas causadas pela falta de socialização dos estudantes. A convivência social é a base para a construção da autoconfiança, da independência e da capacidade de resolver problemas, competências fundamentais para a vida em sociedade e cada vez mais consideradas pelo mercado de trabalho. O peso desses fatores para o sucesso profissional é destacado pelo estudo de James Heckman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, que mostrou que profissionais que desenvolveram suas habilidades socioemocionais desde a primeira infância ganhavam, em média, três vezes mais.
Considerando a idade escolar entre os 6 e 17 anos, a geração formada durante a pandemia deverá ingressar no mercado de trabalho ao longo dos próximos cinco, dez ou quinze anos. E, então, o despreparo desses futuros profissionais poderá se tornar um entrave para o aumento de produtividade e competitividade de diversos setores da economia.
Flavia Rezende, sócia-diretora da Loures Consultoria