Bia Félix: redes sociais decretarão o fim das celebridades como conhecemos?
Surgimento das celebridades digitais desafia a ideia tradicional de fama ao permitir acesso constante e instantâneo aos ídolos
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Publicado em 28 de março de 2024 às 13h00.
Por Bia Félix*
De todo o conteúdo que tentei absorver para evitar o FOMO ( Fear of Missing Out ) depois do SXSW , uma fala, em particular, me chamou mais atenção: a observação de Amy Webb, professora da NYU Stern School of Business, sobre o conceito das celebridades digitais:
"Celebridades superexpostas: celebridades digitais, tanto aquelas com contrapartes humanas quanto aquelas sem, permitem acesso a qualquer momento para os fãs, mas correm o risco de erradicar o traço definidor da celebridade: a escassez."
A futurista é sempre muito aguardada nos eventos de que participa. Em Austin, no Texas, apresentou o "Emerging Tech Trend Report" no SXSW 2024 , cuja edição é baixada 1 milhão de vezes a cada ano em cada novo lançamento. Na seção de entretenimento, são aprofundadas quase 30 tendências nas áreas de streaming, artes e entretenimento baseadas em localização, incluindo parques de diversões e eventos imersivos.
Isso me chamou a atenção por ser algo que tenho notado – e também questionado. As celebridades digitais mais famosas que conhecemos hoje podem interagir com nossos comentários em suas fotos, ou até mesmo estabelecer uma conversa direta .O acesso a elas é de certa forma democratizado pelas redes. Mesmo as mais inacessíveis se tornam, de certa forma, acessíveis, só pelo fato de estarem na internet. E quando falamos de uma produção de conteúdo baseada na competição do "para ser lembrado, precisa ser visto" e a disputa de atenção determinada pelo algoritmo, levanta-se a questão –no futuro, ainda teremos celebridades?
Minha resposta é: não da forma que conhecemos. Dois casos me vem à mente:- O Elvis Presley, que durante 8 anos performou 636 shows no mesmo lugar, o The International Hotel, em Las Vegas. Para ver Elvis, era preciso ir até lá.
- Mais recentemente, Emma Stone, que ganhou o Oscar pela sua brilhante atuação em "Poor Things" e, durante a premiação, encantou a todos nós com seu carisma. Como movimento habitual, fui procurar seu @, e foi então que percebi: a atriz não tem Instagram. O que determina e corrobora a ideia de Webb: que um dos principais componentes de uma celebridade é a escassez de sua imagem. Minha curiosidade, por fim, não foi saciada. Porém, precisamos afirmar que esse é um luxo de quem começou – e se firmou -- sem o instrumento que é a internet.
O futuro do entretenimento permite que todos se transformem em tomadores de decisão e compartilhem conteúdo livremente. Se, por um lado, isso é positivo (qualquer um é uma celebridade em potencial na internet), por outro, pode resultar em uma produção de conteúdo que, por repetição, gera lembrança, mas, ao mesmo tempo, gera familiaridade com aquela imagem. Por isso, quando falamos de celebridades digitais, o caminho para a escassez da imagem parece cada vez mais improvável. Seja através do uso do conteúdo compartilhado pela própria pessoa, ou fazendo uso da inteligência artificial para se aproximar do público, como Webb bem pontua.
A escassez dá lugar à sensação de intimidade, uma vez que o comportamento de agrupamento por interesses é a norma hoje nas redes. Hoje, o objetivo passou a ser gerar identificação – compartilhando semelhanças e experiências com a audiência – o que cria um tipo de conexão. Consequentemente, quanto mais você compartilha, mais as pessoas se interessam por esse assunto em comum. E é assim que criamos e mantemos as bolhas.
Dentro delas, celebridades parecem ser conhecidas por todo mundo. Para mim, parece irreal que alguém não conheça Malu Borges, criadora de conteúdo que ficou famosa no fashion TikTok, através de seus vídeos no formato GRWM (arrume-se comigo) com peças um tanto quanto inusitadas. Ela tem mais de dois milhões de seguidores no Instagram e de 5 milhões no TikTok. Na rede chinesa, ela compartilha diariamente a sua rotina no perfil "Malu Vlogs". Sua imagem, portanto, não é escassa.
Dessa forma, o surgimento das celebridades digitais desafia a ideia tradicional defamaao permitir acesso constante e instantâneo aos ídolos, eliminando a escassez que historicamente os definiu. Embora a superexposição possa fortalecer a sensação de proximidade com o público, também pode diluir o apelo exclusivo que acompanha a fama. Portanto, enquanto as celebridades digitais continuam a prosperar, é provável que sua forma e função evoluam para se adaptar a uma era de hiperconectividade, onde equilibrar a acessibilidade com a preservação do apelo magnético é fundamental para manter a relevância.
*A influenciadora Bia Félix cria conteúdo voltado para a geração Z na comunidade "20 e poucos", que conta hoje com quase 60 mil pessoas. É a única residente brasileira participando do programa UNESCO x Women@Diorem 2023,programa internacional de mentoria e educação que ajudou a desenvolver milhares de mulheres jovens em todo o mundo. Se formou em Publicidade pela ESPM.
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