ASU+GSV Summit 2022: três dias de pura inspiração e aprendizado
Brasil teve destaque na conferência com um painel dedicado ao boom da nossa cena de edtechs
Bússola
Publicado em 29 de abril de 2022 às 13h29.
Última atualização em 29 de abril de 2022 às 13h45.
Por Iona Szkurnik*
Imagine um lugar onde, por três dias, pessoas brilhantes em educação e tecnologia, de toda as partes do mundo, em todos os níveis de atuação — empreendedores, gestores públicos, professores, líderes do terceiro setor, autores, filantropos, e muitos investidores — se encontram para se conhecer, trocar inquietações, procurar respostas, oferecer ajuda, celebrar conquistas e, mais importante, sair renovadas para enfrentar os desafios de ir atrás de seus sonhos de impactar a vida de milhares e milhares de pessoas através da Educação? Esse lugar existe: é a ASU+GSV Summit.
Há 13 anos, a conferência acontece em San Diego, cidade ao sul da Califórnia, nos Estados Unidos, e se tornou a mais importante referência de educação e tecnologia do mundo. Palestrantes reclusos como Bill Gates e aclamados como o ex-presidente Obama já marcaram presença lá. Nos dias 4 a 6 de abril, aconteceu a mais recente edição, que, pela primeira vez, ultrapassou 5 mil inscritos para o encontro presencial.
Pela primeira vez, o Brasil teve destaque na conferência com um painel dedicado ao boom da nossa cena de edtechs, no qual fui convidada a participar junto com outros empreendedores e investidores do setor que admiro como Fernando Franco, da Provi, Leticia Lyle, da Camino Education, Sebastian Mckinlay da Digital House, Suellyen Almeida da Monashees e a mediação da Carol Lacombe, da Valor Capital.
Me chamaram a atenção algumas experiências no evento. No primeiro dia, participei do tradicional almoço para mulheres oferecido pela Deborah Quazzo. Formanda em Princeton e Harvard na década de 1980, após fundar e vender uma butique de investimento e atuar com sucesso no mercado financeiro em uma época absolutamente dominada por homens, Deborah foi pioneira em liderança feminina e se tornou fundadora da GSV Ventures. O fundo, exclusivo de Educação, tem a melhor performance mundial, com nove unicórnios, algumas saídas e mais de 60 startups investidas nos seus três fundos até hoje.
Entre 250 empreendedoras, presenciei a apresentação fascinante da Dra. Sian Proctor, astronauta convidada para missão Inspiration4 — espaçonave de civis em setembro de 2021. Ela foi a primeira mulher negra a pilotar uma nave espacial e dividiu como sua trajetória de vida baseada em educação a preparou para a oportunidade, e, ao mesmo tempo, o desafio desse convite inesperado — a história foi documentada pela Netflix.
Em lugares como esse é possível sentar ao lado, por pura sorte, da Opa Bukola, CEO da Kibo School. Essa nigeriana, miúda com sorriso largo, imigrou para os Estados Unidos após seu pai ser aceito para cursar uma pós-graduação e sua vida mudou completamente, culminando em ser gerente de produto na Google em Nova York por muitos anos antes de fundar a Kibo School. Dois dias depois, ela ganhou com esse projeto a maior competição entre as 200 mais promissoras edtechs do mundo e um cheque de US$ 250 mil para construir uma universidade online para estudantes que desejam resolver problemas com tecnologia na África Subsaariana. Histórias de vida como me enchem de admiração e trazem muita inspiração para como podemos atuar no nosso país.
Durante os três dias de conferência, também notei uma maior presença da América Latina em relação aos anos anteriores, principalmente brasileiros em busca de investidores atentos às oportunidades do nosso país.
Eu me pergunto porque, mesmo o mercado de edtechs no Brasil sendo um dos mais promissores do mundo, ainda encontramos dificuldades de investimento por parte das ventures brasileiras na vertical de educação. Verdade que fundos de impacto como o Península, liderado pela Laura Jaguaripe, e alguns fundos grandes como SoftBank e a Valor, cujas áreas são lideradas pela Maria Tereza Azevedo e a Carolina Lacombe, respectivamente, olham essa vertical de forma incansável e entendem que investir em educação é ir além do retorno financeiro, mas sem abrir mão dele, fazendo parte de um compromisso social. Curioso notar que, nesses três casos, são mulheres à frente desta pasta.
O maior takeaway do evento foi perceber a GSV Ventures dando mais voz às edtechs fora dos Estados Unidos. O evento deu a oportunidade para talentos que não possuem tanta visibilidade com diversos painéis simultâneos e uma intenção clara em dar espaço a futuros grandes líderes e a mais diversidade. Isso é algo que me chamou muita a atenção, afinal a GSV poderia colocar os nove unicórnios que estão em seu portfólio e ainda faltaria palco para tanta estrela e tantos assuntos relevantes para o desafio de construir e entregar valor no nosso mercado.
A sensação de estar de volta em eventos presenciais é imensa. As relações se aprofundam, diferente do remoto, que apesar de facilitador em alguns aspectos, nos impede de aproveitar intensamente momentos espontâneos. A boa notícia é que teremos a Brazil at Silicon Valley, em Mountain View, Califórnia, no mês de maio, com mais abrangência de temas e focada 100% em como inovação e tecnologia podem impactar nosso país. Enfim, a covid-19 nos deixa voltar a viver o presencial com segurança e a troca que tanto precisamos!
*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e co-fundadora e membro do Conselho da Brazil at Silicon Valley
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Plataforma Cloe passa a oferecer conteúdo para ensino médio em 2022 Content is the “New Black”: o poder do storytelling para o seu negócio Publicidade afeta o mercado de streaming e Netflix cede às mudanças