América Latina (e o Brasil!) merece soluções próprias para inovação
Apesar das diferenças no investimento, o Brasil sai na frente quando o assunto é ousar e demonstrar agilidade na inovação
Bússola
Publicado em 13 de julho de 2022 às 12h30.
Última atualização em 13 de julho de 2022 às 12h39.
Já pararam para pensar que quando o mundo oferece soluções para mercados maiores, geralmente elas são direcionadas ao Hemisfério Norte? Com foco e características pesquisadas de acordo com as necessidades locais? Pois bem! Então, faço uma breve introdução aqui para demonstrar as peculiaridades da América Latina e o potencial do Hemisfério Sul para acelerar a inovação, como absorver ou "tropicalizar'' essas soluções voltadas especificamente para a região.
Algo que funciona para o mercado suíço, holandês ou alemão não se aplica necessariamente ao México, Brasil ou Argentina. E cabe destacar que o Brasil, como o maior país da região (com 230 milhões de habitantes), tem sozinho uma massa crítica para justificar tal abordagem específica.
Cito aqui um exemplo: se você falar com consumidores da Europa, provavelmente, há uma disposição de pagar mais pela opção sustentável. Enquanto na América Latina buscamos mais a paridade de preços. Isso não quer dizer que não nos importamos com o meio ambiente—muito pelo contrário—vivemos em uma área que é confrontada diariamente com as cruas realidades da degradação ambiental e somos apaixonados pelo nosso compromisso com a sustentabilidade. No entanto, falta-nos o poder de compra coletivo e buscamos essa acessibilidade para ampliação. São essas complexidades que precisamos entender quando abordamos soluções inovadoras.
Como um mercado emergente, a América Latina está cheia de potencial no ponto de vista da inovação. A pandemia da covid-19 alavancou o movimento de descentralização dos hubs e podemos citar as principais cidades como Buenos Aires, Cidade do México e São Paulo. O México cresceu tanto no assunto que se tornou um país potente, com crescimento rápido em startups, e já é o segundo maior mercado de inovação na região, perdendo apenas para o Brasil.
Em 2021, para ter uma ideia, as empresas mexicanas atraíram mais de US$ 5 bilhões de investimentos de capital privado, segundo dados da Associação Para Investimentos de Capital Privado na América Latina. Um salto de 128% se comparado ao ano anterior. A mesma associação indica que somados os países, as startups latino-americanas atraíram, no ano passado, cerca de R$ 77 bilhões.
Numa tabela mundial, em um ranking recente da StartupBlink, o TOP 5 nos hubs de inovação é composto de Estados Unidos, Reino Unido, Israel, Canadá e Suécia. O Brasil ocupa a 33ª posição mundial, seguido pelo México.
A Argentina fica com a 37ª colocação no ranking. O que nos favorece? Por um lado, somos ágeis o suficiente para realizar experimentos ousados e, por outro, temos o tamanho para dimensionar nossa inovação e impulsionar o setor a um ritmo muito mais rápido. É por causa dessa ambição e capacidade que a região se tornou uma fronteira de crescimento para muitas indústrias.
Até agora, a inovação global foi dominada pelas necessidades do Ocidente, o que deixou o resto do mundo sub-representado. Isso também significa que startups regionais menores passaram despercebidas, dando-nos a oportunidade de descobrir algumas joias escondidas em nossa região.
No cenário atual, empresas estão aportando seu capital em ideias disruptivas, iniciativas que impulsionam a inovação. E não podemos falar de um cenário inovador e tecnológico, sem falar de sustentabilidade, claro. Encontrar negócios que possam solucionar os principais desafios que envolvam cadeias produtivas inteiras, tragam transparência e contribuam para a regeneração dos ecossistemas são as premissas que guiam essa jornada.
Com as alarmantes mudanças climáticas no mundo, cada vez mais, torna-se importante o surgimento e o incentivo para iniciativas que estimulem a sustentabilidade e protejam o meio ambiente. E é neste ecossistema que as startups surgem como grandes aliadas. A combinação de recursos internos e externos é uma forma poderosa de impulsionar o impacto positivo e criar uma cultura coletiva de resolução de problemas que gere real valor para stakeholders e para toda sociedade na América Latina.
Unir a velocidade, agilidade e paixão de uma startup com a experiência, os recursos e a compreensão do mercado de grandes corporações permite que as companhias atinjam suas metas de sustentabilidade mais rapidamente. Com isso, também é possível mudar o comportamento do consumidor da América Latina—trazendo soluções sustentáveis dentro do poder de compra dos nossos habitantes.
Esses são os desejos das grandes companhias que têm suas ações norteadas pelas práticas ESG: aprender, melhorar o processo pelo qual a inovação acontece e fornecer soluções para as necessidades regionais. E mais do que isso, ser uma força para o bem, contribuindo também para que a cultura seja, cada vez mais, voltada à conscientização sobre a conservação e regeneração de todo o ecossistema global.
*Ronaldo Mello é vice-presidente e gerente-geral da Avery Dennison, Label and Graphic Materials, América Latina
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Hugo Tadeu: Crenças limitantes ao inovar
Por que grandes empresas devem investir em hubs de startups
Como a convivência com startups mais maduras ajuda na evolução do negócio