2ª ou 3ª onda? Pouco importa: a luz no fim do túnel continua bem distante
Número de mortes se estabilizou em um patamar alto demais para dar como terminada a segunda onda, mas uma terceira já parece se iniciar
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2021 às 12h51.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 22h02.
Por Marcelo Tokarski*
O recente crescimento do número de pessoas internadas com covid-19 tanto em leitos comuns quanto em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) tem levantado a suspeita de que o Brasil pode estar entrando na terceira onda da pandemia. Mas a verdade é que, infelizmente, ainda nem saímos da segunda onda. Nos últimos dez dias, a média móvel de mortes por coronavírus se estabilizou ao redor do patamar de 1.900 óbitos diários, o que é um nível muito elevado para se dizer que a segunda onda acabou.
É verdade que o patamar é bastante inferior às 3.124 mortes por dia registradas no final de abril, mas em compensação é quase duas vezes maior que o platô de mil óbitos diários ocorridos entre o final de maio e o final de agosto do ano passado, quando o país passou pela primeira onda da pandemia. Para se ter uma ideia, na primeira onda chegamos a cair para algo ao redor de 300 mortes diárias, em novembro do ano passado.
A atual queda no número de óbitos levou estados e municípios a flexibilizarem novamente as medidas restritivas de circulação ao longo do mês de maio, o que tem levado a média nacional de casos a crescer ao longo dos últimos 30 dias. Hoje, são registrados em média 61,1 mil novos casos, quase 10 mil a mais por dia na comparação com o final de abril.
E o pior: o Brasil já detectou a presença da variante indiana, diagnosticada em marinheiros de um navio que chegou da Malásia e aportou em São Luís, no Maranhão. O temor dos especialistas é que a nova cepa possa acelerar o número de casos e mortes no Brasil, como ocorreu em janeiro em Manaus, com a variante P1, o que provocaria um repique da segunda onda (o que alguns chamam de terceira onda).
Na semana passada, apenas o Estado de Pernambuco estava com o contágio em aceleração, quando se compara a atual média móvel de mortes com a de duas semanas atrás. Neste domingo, além de Pernambuco, Piauí e o Amapá estão com alta superior a 15% no número de vítimas. Apenas cinco unidades da federação estão com desaceleração: Acre, Pará e Tocantins, na região Norte; Paraná, na região Sul; e o Distrito Federal, no Centro-Oeste. Os demais estados hoje apresentam alguma estabilidade nos números.
Na última semana, segundo estatísticas do Worldometers, o Brasil registrou 63 novas mortes por covid-19 para cada 1 milhão de habitantes. Proporcionalmente ao tamanho da população, neste triste ranking estamos atrás apenas de nações sul-americanas, como Uruguai (113 por milhão), Paraguai (97), Argentina (75) e Colômbia (67).
As próximas duas semanas serão cruciais para entendermos se o número de mortes no Brasil voltará a cair forte, se entramos em um elevado platô ou se estamos diante do recrudescimento da pandemia. O mais provável é que estejamos entre a segunda e a terceira hipótese, o que não é nada bom.
Vacinação segue lenta
O fato é que só teremos certa tranquilidade quando atingirmos pelo menos 50% ou 60% da população vacinada. E ainda estamos muito distantes disso. Embora quase 20% dos brasileiros acima dos 16 anos já tenham recebido pelo menos a primeira dose, apenas 9,7% da população já receberam as duas doses, estando, portanto, imunizados.
Para piorar, o ritmo da vacinação segue bem aquém do esperado. No final de abril, chegamos a ter uma média de mais de 1 milhão de doses aplicadas por dia. Desde o início de maio, o Programa Nacional de Imunização (PNI) perdeu velocidade e há dez dias patina na média ao redor de 680 mil doses por dia. Ou seja, a velocidade da imunização diminuiu quase um terço. E isso tem ocorrido não porque o sistema não tenha capacidade de aplicar as vacinas, mas sim porque faltam doses em muitas partes do país.
No ritmo atual, levaríamos dois meses para dobrar o número de imunizados com duas doses, chegando a 20% da população. Para atingirmos pelo menos metade dos brasileiros, levaríamos oito meses. Ou seja, caso a vacinação não acelere, somente no fim de janeiro teríamos metade dos brasileiros vacinados (com as duas doses necessárias à imunização).
Diante desse cenário, pouco importa saber se estamos diante de um repique ou de uma nova onda da pandemia. O que todos devem estar cientes é que o coronavírus continua circulando livremente pelo país, e que a grande maioria da população ainda é suscetível ao vírus, tanto por não ter contraído a doença quanto por não ter sido vacinada. Pelo visto, o caminho para alguma normalidade parece ainda tortuoso e bastante longo.
*Marcelo Tokarskié sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
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