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Vitória de Doria prova potencial de Alckmin para 2018

Com futuro incerto, Haddad é quadro importante na estratégia do PT de repensar seu papel no cenário político

Com a vitória de Doria no primeiro turno, Alckmin se fortalece para ser o presidenciável do PSDB em 2018 (Divulgação)

Com a vitória de Doria no primeiro turno, Alckmin se fortalece para ser o presidenciável do PSDB em 2018 (Divulgação)

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 3 de outubro de 2016 às 06h00.

Brasília – Com o discurso de ser administrador e não ser político, João Doria (PSDB) conseguiu um marco histórico nas eleições municipais: foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno, feito inédito desde que a corrida municipal da capital passou a ter dois turnos, em 1992.

A vitória do empresário acaba por provar o potencial do governador Geraldo Alckmin (PSDB), principal padrinho político de Doria, para as eleições presidenciais de 2018. Com 100% das urnas apuradas, Doria foi eleito novo prefeito de São Paulo com 53,29% dos votos válidos

Para Claudio Couto, professor de ciências políticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o resultado não consolida, mas fortalece uma eventual candidatura do governador de São Paulo para a disputa pelo comando do Palácio do Planalto.

No mesmo sentido, o cientista político Vitor Oliveira, da consultoria Pulso Público, acredita que, com a vitória de Doria, Alckmin passará a ter mais controle sobre o diretório municipal da capital paulista, onde enfrentava resistência de alguns membros.

“Se o Aécio (Neves) não conseguir eleger o João Leite em Belo Horizonte no segundo turno, vai ficar complicado para ele conseguir ganhar espaço para 2018”, afirma Oliveira. “Serra está escanteado no ministério de Relações Exteriores do governo Temer e tem chances mínimas de ser escolhido pelo partido”.

Na capital mineira, o candidato tucano disputa a prefeitura com Alexandre Kalil (PHS). No primeiro turno, Leite conquistou 33,4% dos votos válidos, enquanto Kalil recebeu apoio de 26,56% do eleitorado.

Os especialistas atribuem a vitória expressiva de Doria a sua campanha. Vale lembrar que o tucano começou a disputa municipal na quinta colocação e teve uma ascensão significativa desde setembro.

“A campanha de Doria foi inteligente ao mostrá-lo como uma alternativa competitiva para os antipetistas”, explicou Oliveira. “A ascensão dele foi contínua e tinha tendência de crescimento nas últimas semanas”, diz Couto.

O cientista político da Pulso Público destaca a competência da comunicação da campanha do peessedebista. Para ele, Doria conseguiu expandir sua votação em áreas em que o PSDB normalmente não foi bem em eleições anteriores. “Ele foi competitivo até na periferia", diz. 

A possível recuperação do prefeito Fernando Haddad (PT), que concorria à reeleição, nessa reta final também foi apontada por Oliveira como “um dos fatores que contribuiu para a arrancada de Doria” e para sua vitória.  

De acordo com ele, os eleitores da esquerda concentraram seus votos no atual prefeito ao mesmo tempo em que o eleitor antipetista teve a visão estratégica de que Doria era a opção mais competitiva para enfrentar Haddad. “São Paulo reflete muito a polarização da política nacional, marcada recentemente pelo petismo e antipetismo”, diz o especialista da Pulso Público.

“Uma série de eleitores decide se definir na reta final e se baseia nas pesquisas com o objetivo de aproveitar seu voto. Por isso, muitos eleitores migraram de Marta (Suplicy) e de Celso (Russomanno) para Doria”, afirma Couto, da FGV. 

Além disso, os especialistas avaliam que o comportamento dos candidatos nessa última semana também contribuiu para o resultado. “Todo mundo achou que ia ter o segundo turno e ninguém bateu em Doria na última semana”, diz Oliveira, da Pulso Público.

De acordo com o professor da FGV, defender que não é político funcionou com Doria, assim como levou Kalil ao segundo turno em Belo Horizonte. “Uma fatia do eleitorado que habitualmente rejeita as opções tradicionais o viu como uma alternativa. É o eleitor que busca a terceira via, mesmo que essa seja do PSDB”, diz Oliveira, em relação a Doria.  

Com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a rejeição ao PT vem crescendo gradativamente. Isso se soma a rejeição de Haddad, que não evitou adesão a medidas consideradas impopulares em sua gestão. “A rejeição que Haddad tinha inviabilizou sua ida ao segundo turno”, disse Oliveira.

Mas o que será do futuro de Haddad? Sem demonstrar se permanece com aspirações políticas, Haddad pode se dedicar integralmente à vida de docente. Couto, porém, acredita que o atual prefeito de São Paulo é um quadro importante na estratégia do PT de repensar seu papel no cenário político. “Ele pode ser o símbolo do processo de reerguimento do PT”, diz.

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