Tomar vacina não libera para ir a festas, diz diretora do HC no painel EXAME em Davos
Eloisa Bonfá participou do painel “How is Brazil dealing with the pandemic”, organizado pela EXAME no Fórum Econômico Mundial
Gilson Garrett Jr
Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 13h43.
Última atualização em 29 de janeiro de 2021 às 18h29.
O início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, no dia 17 de janeiro, foi comemorado como um passo para sair da pandemia de covid-19, mas isso não significa que assim que a população estiver vacinada, todas as atividades pré-pandemia voltarão de forma igual. “Tomar a vacina não libera as pessoas para ir a festas de um dia para outro”, disse Eloisa Bonfá, diretora clínica do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
A afirmação dela foi feita nesta sexta-feira, 29, durante o painel “How is Brazil dealing with the pandemic”, organizado pela EXAME no Fórum Econômico Mundial , destacando as respostas das grandes lideranças de saúde do país à crise social, econômica e política causada pela pandemia. A mediação do painel foi feita por Renato Mimica, sócio do Banco BTG Pactual e diretor da EXAME Research, a casa de análises de investimentos da EXAME.
Segundo Eloisa, a grande questão é que ainda não está claro como são as mutações do coronavírus e se haverá a necessidade de uma imunização anual, como ocorre com a gripe. Até saber estas respostas, as medidas de distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel devem continuar por um longo período.
“O fechamento do comércio é necessário para não ocorrer o que aconteceu em Manaus, mas temos a esperança da vacina que pode mudar a expectativa para um novo normal, não o mesmo de antes, mas o novo normal”, disse.
Além da diretora do HC de São Paulo, participaram do painel Claudio Lottenberg, presidente do conselho de administração da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, e Carlos Marinelli, presidente do Grupo Fleury.
Claudio Lottenberg pontuou que todas as medidas de controle da pandemia devem continuar por mais tempo. “Se a gente começar a relaxar antes de ter um processo de vacinação em massa, vai correr o risco de ter algo muito parecido com Manaus, não do desabastecimento, mas da saturação da chamada medicina crítica”, disse.
Marinelli ainda lembrou que a questão política atrasou o início da vacinação no país. "Estamos em um momento político em que a saúde está prevalecendo. E temos que olhar isso a longo prazo. O ano de 2021 está sendo e vai ser muito difícil. Passado tudo isso, vamos ter uma saúde e uma ciência muito melhores", afirmou.
Público e Privado
Em um ponto do debate, o tema discutido foi o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento a pessoas com a covid-19 e como o setor privado pode ajudar neste processo. Os três avaliaram que o Brasil só conseguiu evitar um caos generalizado porque existe SUS. Lembraram ainda que a participação do setor privado para ajudar o setor público também foi peça fundamental para sair da crise.
“Temos de tirar esse público versus o privado. Esses dois setores precisam trabalhar juntos.A gente só está aqui e não em uma situação de caos porque temos o SUS. Ele é um patrimônio do Brasil e dos brasileiros. Ele precisa ser trabalhado cada vez mais de forma integrada com o setor privado”, disse Carlos Marinelli, do Grupo Fleury.
Claudio Lottenberg, do Einstein, ainda disse que a Constituição prevê o auxílio do setor privado dentro do SUS. “O paciente não quer saber se é público ou privado, ele quer ser atendido. 60% dos leitos a serviço do SUS são privados. E o setor privado tem capilaridade para atender e ajudar”, disse.
A diretora do HC de São Paulo, destacou que o hospital colocou uma unidade inteira, com 900 leitos, somente para pessoas com a covid-19. E desde abril, 6.000 pacientes foram atendidos.
“O que aconteceu em Nova York aconteceria em São Paulo e só não foi assim porque tivemos o Einstein que veio fazer a diálise, que aumentou em 6 vezes a nossa capacidade. Tivemos auxílio do HCor, da rede D’Or, que montaram UTI dentro do HC. O privado foi pra linha de frente. Nós nunca tivemos tantas doações do setor privado. É isso que nós deveríamos aprender e guardar da pandemia”, enfatizou.
Veja como foi o debate: