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Servidores e alunos da Uerj fazem ato em defesa da instituição

Salários e bolsas estão atrasados há mais de 2 meses, bem como o 13º salário de 2016, e faltam recursos para a manter a universidade

Uerj: o início do ano letivo foi adiado por diversas vezes e aconteceu em 10 de abril (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

Uerj: o início do ano letivo foi adiado por diversas vezes e aconteceu em 10 de abril (Tomaz Silva/Agência Brasil/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 7 de junho de 2017 às 16h38.

Última atualização em 7 de junho de 2017 às 17h01.

A comunidade acadêmica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) promoveu novo ato hoje (7) em defesa da instituição, que vive a pior crise financeira de sua história.

O participantes do protesto marcharam pela avenida 28 de Setembro, em Vila Isabel, na zona norte, e passaram pelos prédios do Hospital Universitário Pedro Ernesto e das faculdades de Odontologia e Enfermagem, terminando na Praça Barão de Drummond, no mesmo bairro.

Os professores, funcionários e estudantes fizeram vários protestos desde janeiro para denunciar o abandono da instituição.

Sem verba, o início do ano letivo foi adiado por diversas vezes e aconteceu efetivamente em 10 de abril.

Os salários e as bolsas estão atrasados há mais de dois meses, bem como o 13º salário de 2016, e faltam recursos para a manutenção do campus e das 13 unidades espalhadas pelo estado.

A vice-reitora da Uerj, Maria Georgina Muniz Washington, disse que a situação está tão precária que professores estão até fazendo vaquinha para comprar materiais de limpeza, entre outros.

"Está muito difícil, mas temos que resistir. Este ano, houve zero de repasse. O pessoal da manutenção também está resistindo, mas não tem material de limpeza. Até quando, não sabemos, mas estamos na luta", declarou.

Procurada pela Agência Brasil, A Secretaria de Fazenda do estado contestou a afirmação da vice-reitora de que não houve repasses e afirmou que transferiu recursos.

O órgão afirmou que está fazendo um levantamento dos valores.

Hospital universitário

O técnico universitário Igor Conde trabalha no Hospital Pedro Ernesto e contou que a categoria está em greve desde janeiro, não apenas pelos salários atrasados, mas também devido à falta de condições de trabalho.

"Faltam medicamentos, fios para fazer a cirurgia, bandagens. Os elevadores estão funcionado precariamente, a limpeza está muito ruim. Foram demitidos mais de mil terceirizados de limpeza e manutenção no ano passado e esse efetivo não foi reposto", disse Conde.

"E com três salários atrasados, muita gente está sendo despejada, estamos fazendo campanha de doação de alimentos, pois alguns estão passando necessidade, fome, principalmente os aposentados, que têm custos com remédios e ainda ajudam a família. Uma situação realmente penosa".

O diretor do Centro Biomédico da instituição, Mário Carneiro, lembrou que a Uerj atua em vários outros setores da sociedade fluminense, que estão carentes de serviços e cuidados que foram interrompidos pela falta de verbas.

"O [hospital] Pedro Ernesto, por exemplo, atende vários tipos de situações que outros hospitais não atendem. O hospital só está funcionando porque recebeu dinheiro através dos arrestos judiciais".

Atendimento psicológico

Estágios e parcerias com órgãos públicos foram suspensos, desfalcando equipes nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps), no Departamento Geral de Ações Socioeducativas e no Instituto Benjamin Constant para deficientes visuais, entre outras instituições.

O Serviço de Psicologia Aplicada, que atende a comunidade externa e a interna, também foi prejudicado, destacou a diretora do Instituto de Psicologia, Márcia Mota.

"Em 2015, atendíamos 304 pessoas por mês somente na clínica e hoje só podemos atender 42. Fazíamos 900 triagens por mês e hoje não fazemos nenhuma, pois não temos mais estrutura para atender", contou.

"Os pacientes geralmente estão em sofrimento e não podem ter o tratamento interrompido. Muitos eram atendidos por estagiários, mas com a instabilidade das bolsas, fica muito complicado manter o serviço. Os funcionários estão pagando para trabalhar. Então só podemos garantir de estabilidade hoje, nas condições que temos, para essas 42 pessoas", completou a diretora.

As triagens também serviam como processo de aprendizado dos alunos.

"Isso vai prejudicar ainda mais formação deles, porque o semestre começou e eles terão que compensar isso em algum momento e não sabemos se conseguirão nos próximos semestres", disse Márcia.

De acordo com a vice-diretora do Instituto de Psicologia, Ana Maria Feijó, a crise também está afetando psicologicamente os alunos.

"Temos muitas pessoas pensando em suicídio. Alegam que estão desanimadas, desinteressadas e que o fato de alguns já estarem em estágios que prometem contratação [e outros não] faz com que isso fique ainda pior. A demanda tem sido tão grande que só estamos podendo atender a comunidade interna", relatou .

Apesar da crise, a universidade está na 11ª primeira posição em qualidade entre as 195 universidades brasileiras e a 20ª na América Latina.

De acordo com o governo de Luiz Fernando Pezão o projeto de recuperação fiscal do estado vai possibilitar em breve ajudar financeiramente a universidade e colocar em dia os pagamentos dos atrasados do funcionalismo público e regularizar contratos e repasses de verbas.

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