Brasil

Empresas e ONGs se aliam na solução de problemas sociais

Denise Chaer, do Novos Urbanos Laboratório de Inovação Social, Caio Magri, do Ethos, e Celia Cruz, do Instituto Cidadania Empresarial, debatem polarização

Denise Chaer, Celia Cruz e Caio Magri: discutem a polarização (Antonio Milena/Exame)

Denise Chaer, Celia Cruz e Caio Magri: discutem a polarização (Antonio Milena/Exame)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 5 de junho de 2017 às 13h01.

Última atualização em 6 de junho de 2017 às 18h02.

São Paulo — "Não foi fácil juntar as pessoas, demoramos um ano para conseguir conversar com essas pessoas para que elas aceitassem estar no mesmo local. A dificuldade não é nem de dialogar, muito menos de fazer algo juntos. A dificuldade é simplesmente de aceitar o convite e estar no mesmo local de alguém que você considera seu inimigo da sociedade", diz Denise Chaer, fundadora do Novos Urbanos Laboratório de Inovação Social, uma plataforma de diálogo intersetorial, durante a 3ª edição do evento A Revolução do Novo, promovido por Exame, Veja e com apoio da Coca-Cola.

Denise se referia à dificuldade de colocar, em uma mesma mesa de negociação, ativistas produtores orgânicos, Itaú-Unibanco, Coca-Cola, MST, Monsanto e Instituto Alana para discutir mudanças na oferta de bebidas para crianças em idade escolar.

"A polarização partiu primeiro de algumas pessoas não conseguirem aceitar que empresas como a Coca-Cola e a Pepsico pudessem ser parte do solução do problema da obesidade infantil. Quem normalmente aceita sentar para conversar com as empresas não é, em geral, que faz grandes transformações na ponta", diz Denise. Formar essa mesa de diálogo foi, portanto, surpreendente para ela por conta da superação dessa polarização paralisante.

"O maior ganho desse laboratório é a gente aprender a se escutar, olhar diferentes visões do sistema e entender que todas elas fazem parte da verdade, porque o sistema é contraditório por si só", diz Denise.

Também participando da mesa de debates, Celia Cruz, diretora da do Instituto de Cidadania Empresarial, lembra que temos 1% da população detendo 50% de toda riqueza no mundo. "E isso gera extremos de quem tem muito e de quem está na pobreza", diz.

Por isso, sua agenda se detém, sobretudo, em mostrar que existem negócios que estão resolvendo problemas sociais. "Vários desses negócios estão usando janelas de oportunidades. Surgem tantas inovações tecnológicas. Por que a gente não pega essas inovações para resolver problemas sociais?"

Um exemplo que Celia citou é a plataforma Geek, que ajuda estudantes a estudarem para o Exame Nacional do Ensino Médio. "Coloca esses estudantes usando essa tecnologia para estudar para uma prova como o Enem", diz.

Segundo Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, existem experiências bem-sucedidas e mal-sucedidas em relação aos diálogos intersetorial, e há três anos existem as dificuldades de se colocar na mesa partes opostas desse processo.

"Sempre tem a preocupação de encontrar consenso, mas se não tivermos a capacidade de valorizar as diferenças, vamos ficar com consensos superficiais", disse Magri.

Ele cita a atuação bem-sucedida da coalização Brasil Clima Florestas Agricultura que reúne um conjunto de empresas do agronegócio, organizações ambientais, a sociedade geral brasileira e que atuou de uma forma muito importante na COP 21, em 2015.

"Agora são estruturas frágeis e quando surgiu um impasse político mais agudo do estado, como esse momento em que surge uma discussão sobre a redemarcação de terras indígenas, a redução de algumas áreas de preservação ambiental, essa coalização, essa estrutura estremece", diz Magri.

"E a capacidade de organizações importantes da sociedade civil presentes nela e que não tenha interesse diretamente vinculado ao que está sendo colocado mas um interesse no debate, no diálogo, é  fundamental para poder rearticular a conversa", diz. Essa, segundo Magri, é uma experiência interessante.

Para ele, a necessidade premente é pela capacidade de fazer um diálogo com legitimidade. "É  isso que está nesse momento de Brasil gerando uma grande insegurança no processo de avanço, no sentido de construir e de conter a história, a gente está de alguma forma paralisado entre grandes bolhas que se construíram em torno de algumas radicalidades", disse. Na sua opinião, não é mais possível se ter diálogos e, sim, "pluriálogos".

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