Paulo Freire: Para os críticos, sua obra é uma ameaça e incita o “pensamento ideológico de esquerda” (Professor Paulo Freire/Facebook/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 15h49.
São Paulo — Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro chamar Paulo Freire de "energúmeno", o plenário do Senado Federal aprovou nesta terça-feira (17) um requerimento para realizar uma sessão em homenagem ao educador, que morreu em 1997.
O pedido, idealizado pelo senador Weverton (PDT-MA) e assinado por outros parlamentares, sugere a data da cerimônia para 4 de maio de 2020, mês em que sua morte completa 23 anos.
"Ah, senhor presidente, busque o dicionário, aprenda o que que é energúmeno, tome a postura como presidente da República Federativa do Brasil, porque isso o senhor está longe de ser. O senhor faria muito pela nação brasileira se renunciasse. Não só pela nação brasileira, mas pela população mundial, porque o desmonte está sendo operacionalizado no Brasil, seja na educação, na segurança, na saúde, no meio ambiente", afirmou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), durante a sessão desta tarde.
Nesta segunda-feira (16), em entrevista coletiva na saída do Palácio do Planato, Bolsonaro atacou o educador, ao criticar a programação da TV Escola, que vem passando por um processo de reformulação neste governo.
“Era uma programação [da TV Escola] totalmente de esquerda, ideologia de gênero, dinheiro público para ideologia de gênero. Então, tem que mudar. Reflexo, daqui a 5, 10, 15 anos vai ter reflexo. Os caras estão há 30 anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda", disse o presidente.
A obra do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira desde 2012, vem sofrendo ataques por aliados do governo desde as eleições do ano passado.
Para os críticos, sua obra, que tinha como princípio básico a defesa do ensino como forma de despertar a o pensamento crítico do aluno para sua própria realidade, é uma ameaça e incita o “pensamento ideológico de esquerda”.
Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro trabalha para “expurgar o legado de Paulo Freire”, como ele mesmo descreveu em seu plano de governo para as eleições de 2018.
Sua obra mais conhecida é “A Pedagogia do Oprimido”, publicada em 1974, onde ele disseca seus métodos de ensinamento. O livro foi traduzido para mais de 20 idiomas.
De acordo com a London School of Economics, essa é a terceira obra mais citada em trabalhos na área de humanas. Freire também aparece como único brasileiro na lista dos cem mais referenciados por universidades de língua inglesa. Seu legado é reconhecido oficialmente por várias universidades estrangeiras de prestígio, como Harvard e Yale.
(Com informações da Agência Senado)