Sem o glifosato, suspenso, safra de soja e milho pode parar
Valdemar Luis Fischer, diretor para a América Latina da multinacional Syngenta, diz que herbicida é essencial para garantir plantio de soja e milho no país
Flávia Furlan
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 17h46.
Última atualização em 1 de outubro de 2018 às 11h50.
São Paulo – A indústria de agroquímicos diz que não conseguirá oferecer substitutos ao glifosato suficientes para o plantio da próxima safra de grãos no país, que começa a partir do mês que vem para culturas como a soja e o milho. Com isso, o próximo plantio está ameaçado. O glifosato é o herbicida mais usado no mundo.
“Não vejo como o produtor brasileiro poderá plantar a próxima safra sem o uso do glifosato”, diz Valdemar Luis Fischer, diretor para a América Latina da multinacional suíça Syngenta. “Nesse momento, a indústria não tem como reagir de forma a trazer outros produtos suficientes para o país.”
De acordo com ele, os substitutos não são tão eficientes quanto o glifosato. Por isso, seria necessário usar uma quantidade muito maior, mas as fábricas já estão operando em capacidade máxima.
No início deste mês, a justiça federal do Distrito Federal suspendeu os registros de produtos que contêm o glifosato, a abamectina e o tiram, usados em agroquímicos. A ação foi movida pelo Ministério Público.
A suspensão vale até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária concluir os procedimentos de reavaliação toxicológica das substâncias. Caso a Anvisa não o faça até o fim do ano, ela pagará 10.000 reais de multa diária.
O Brasil utiliza a técnica do plantio direto nas lavouras, em que são deixados no solo os restos vegetais da colheita anterior para iniciar a seguinte. Nesse processo, é dispensado o trabalho de revolver o solo, e são aplicados fertilizantes para proteger de pragas. “Sem o glifosato, não é possível plantar dessa maneira. Será preciso voltar ao jeito antigo, mas nenhuma lavoura está preparada para isso”, diz Fischer.
O processo de reavaliação de ingredientes ativos é feito em todo o mundo com frequência. No caso da abamectina e do glifosato, começaram em 2008 no Brasil e a previsão era de término até o ano que vem.
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal diz que a decisão da Justiça antecipa os resultados da reavaliação da Anvisa e cerceia o direito das empresas que comercializam produtos à base desses ativos ao processo legal.
Outra empresa do setor, a americana Monsanto , diz que o glifosato, usado há 40 anos no Brasil, já foi alvo de mais de 800 estudos e análises científicas que concluíram que ele é seguro para uso.
“O produto é perigoso, mas o risco de acontecer algo é baixo porque o agricultor sabe usá-lo”, diz Fischer. “Se o agricultor não produzir dentro de uma forma que respeite o meio ambiente e a segurança alimentar, ele está fora do mercado. Nós já vimos cargas inteiras serem barradas pelo uso incorreto de agroquímicos.”
A safra deste ano pode gerar 346 bilhões de reais, segundo o Ministério da Agricultura , 5% abaixo da de 2017. Isso, claro, se o impasse do glifosato não derrubar ainda mais as previsões.