Helena Nader: Em relação ao programa Ciência sem Fronteiras, a presidente questionou as garantias dadas para o retorno dos pesquisadores que fazem intercâmbio no exterior (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2012 às 15h53.
São Luís – A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, criticou hoje (27) os cortes no orçamento do governo para as áreas de ciência, tecnologia e inovação.
“O ministério [da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI] ganhou nova função e não é possível ficar com essa letra a mais [Inovação] mantendo o fluxo que é fazer ciência em qualquer país. Já são dois anos consecutivos com cortes no orçamento. No ano passado, alertei que o governo federal, ao cortar os recursos do MCTI, estaria sinalizando para os estados mudanças de atitude, isso já está acontecendo. As fundações de apoio já estão com menos dinheiro. Isso não está de acordo com o programa ousado, fantástico, que somos totalmente a favor, que é o Ciência sem Fronteiras”, disse à Agência Brasil.
O Brasil fica entre os 13 países com maior produção científica (ranking baseado na produção de artigos científicos publicados em revistas especializadas), mas ocupa o 47º lugar em inovação, pesquisa e desenvolvimento. O Estado é o principal investidor em pesquisa e desenvolvimento no país.
Em relação ao programa Ciência sem Fronteiras, Helena Nader questionou as garantias dadas para o retorno dos pesquisadores que fazem intercâmbio no exterior. “Temos que ter uma garantia para a volta com qualidade desses profissionais. Mercado não falta, principalmente nas áreas de engenharias e tecnologias, mas o retorno não é apenas para o mercado de trabalho, mas com relação ao financiamento [de pesquisas].”
Com o programa, o governo pretende enviar 101 mil profissionais e pesquisadores para diversos países em quatro anos. A ideia é o governo custear 75 mil bolsas de estudo e espera que a iniciativa privada viabilize mais 25 mil. O programa inclui desde bolsas do tipo sanduíche (em que parte do curso é feita no Brasil e outra parte no exterior) de graduação até pós-doutorado em 18 áreas de tecnologia, engenharia, biomedicina e biodiversidade.
A presidente da SBPC destacou também que a entidade não é contrária ao sistema de cotas adotado pelas universidades públicas. No entanto, discorda de projeto de lei que prevê reserva de 50% das vagas em universidades a estudantes de escolas públicas por ferir a autonomia das instituições de ensino.
“O que realmente nos preocupa bastante é o Projeto de Lei nº 180 de 2008, que está para ser votado no Senado. Ele fere a autonomia universitária, por subordinar 50% do ingresso no ensino superior aos critérios de cada escola de ensino médio e tira da universidade o direito de opinar sobre o perfil de seu aluno. A SBPC nunca foi contra as cotas, até porque as universidades já adotam o sistema há mais de oito anos”, explicou, no encerramento da 64ª Reunião da SBPC.