“Saiu barato para o PT”, diz Carlos Pereira, da FGV
Para o especialista, a ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência é fruto das crises econômica e política que marcaram os últimos governos petistas
Janaína Ribeiro
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 21h50.
A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência da República refletiu o anseio dos eleitores brasileiros por mudanças. Segundo Carlos Pereira, professor da FGV-Ebape, a sucessão de crises econômicas e políticas nos últimos governos petistas geraram enorme descontentamento, e Bolsonaro soube identificar esse desconforto e se colocar como alternativa. Nesse sentido, o especialista diz que a derrota nas urnas “saiu barata para o PT ”. Confira a seguir os principais trechos da conversa.
Como o senhor avalia a vitória de Bolsonaro?
Ficou claro que os eleitores brasileiros desejam mudanças. A sucessão de crises econômicas e politicas gerou muito descontentamento e desconforto. Bolsonaro, como nenhum outro candidato, soube aproveitar essa lacuna. Foi a opção nas urnas daqueles com sede de mudança. É um momento de felicidade para a democracia brasileira. Tenho plena confiança de que Bolsonaro vai se submeter ao jogo democrático, até porque, em seu discurso inicial, disse que vai governar pautado pela Constituição. Ele não vai atentar contra as instituições, até porque, se o fizer, vai estar colocando em risco o seu governo, e não as instituições.
Além do pleito nacional, foram eleitos governadores que demostraram apoio a Bolsonaro. Como o senhor avalia essa questão?
Isso significa que Bolsonaro terá apoio político em vários estados e, como o PSL já tinha conquistado uma bancada grande no Congresso, fica mais fácil aprovar politicas consistentes. É fato que democracias vivenciam ciclos de conservadorismo e liberalismo. Talvez, o Brasil não tenha enfrentado o conservadorismo depois da redemocratização, pois o eleitor ficou envergonhado de se mostrar alinhado a esses valores. A questão é que Bolsonaro tem pela frente tarefas importantes como equilibrar as contas públicas. Vivemos uma crise fiscal sem precedentes com risco de descontrole total, por isso é necessário promover a reforma da Previdência, a abertura comercial, privatizações e reforma tributária.
Quais são os riscos?
O principal risco é de governabilidade, mais especificamente de como ele vai se relacionar com o Congresso. Ele já disse que tem condições de governabilidade, mas a dúvida é como vai fazê-lo. Será que vai governar por meio de coalizão ou vai se comunicar diretamente com o eleitor? Se ele preferir se comunicar diretamente por meio de mídias socais, por exemplo, pode provocar uma crise de relacionamento com o Legislativo no médio e longo prazo.
Mas é possível ter governabilidade sem alianças?
No nosso presidencialismo com múltiplos partidos eleitorais, a governabilidade se dá pela coalizão. Caso não faça as alianças, os custos de governabilidade serão maiores e as crises, frequentes. Daí a vida do governo vai ficar difícil e instável. Também temos que acompanhar como será a relação dele com o Ministério Público, o Judiciário e a mídia. Ele tem de respeitar as instituições e saber lidar com o contraditório.
Como fica o PT depois dessas eleições?
Saiu barato para o PT. O grande gestor do Bolsonaro é o PT. Os escândalos de corrupção e as crises econômicas do segundo governo Lula e os de Dilma fizeram com que crescesse o antipetismo. Diante disso, o fato de o PT ter chegado ao segundo turno e conquistado muitos assentos no Congresso fará do partido o principal polo de oposição. Foi assim nos governos de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso.
Com a eleição de João Dória em São Paulo, o que esperar do futuro do PSDB?
O PSDB foi muito oprimido em vários estados, no Congresso e até na eleição presidencial, mas novamente sai vitorioso em São Paulo. Agora é esperar para ver, se com esse resultado, Doria será a principal liderança dentro do partido. É fato que o maior derrotado dessas eleições foi o Geraldo Alckmin, que dificilmente será aproveitado no governo de Doria. Acredito que Alckmin passará um período em recesso antes de voltar à cena política.