Exame Logo

Rússia e EUA competem por parceria espacial com Brasil

Os EUA e a Rússia estão disputando um papel estratégico no plano do Brasil de lançar satélites comerciais, abrindo uma nova frente de rivalidade

Lançamento de satélite na Base de Alcântara, no Maranhão: governo espera escolher nos próximos meses um parceiro para ajudar a fornecer tecnologia, dizem fontes (.)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2015 às 17h50.

Brasília/São Paulo - Os Estados Unidos e a Rússia estão disputando um papel estratégico no plano brasileiro de lançar satélites comerciais de sua base de Alcântara, no Maranhão, abrindo uma nova frente de rivalidade entre os dois países na busca de aliados e influência.

O governo espera escolher nos próximos meses um parceiro para ajudar a fornecer tecnologia, disseram à Reuters três fontes com conhecimento das negociações.

Ao longo da última década, o Brasil estabeleceu uma parceria com a Ucrânia para desenvolver um veículo de lançamento em Alcântara, mas encerrou o programa em fevereiro, dizendo que os problemas financeiros da Ucrânia a impossibilitam de fornecer foguetes, tal como prometido.

A presidente Dilma Rousseff irá selecionar um novo parceiro baseada em uma variedade de fatores, incluindo as relações diplomáticas do Brasil e a qualidade da tecnologia em oferta, disseram fontes a par do tema.

Uma parceria para satélites não estará na agenda quando Dilma visitar a Casa Branca em 30 de junho, informaram autoridades dos dois países.

Mas o teor da visita, que marca a reaproximação entre Brasil e EUA dois anos após uma crise nas relações decorrente dos programas de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) norte-americana, pode influenciar a decisão brasileira, disse uma fonte.

“Se tudo correr bem, os norte-americanos estarão bem posicionados para conquistá-lo”, declarou a fonte, uma ex-autoridade brasileira que participou de reuniões sobre a questão dos satélites.

A localização de Alcântara é especialmente atraente para parceiros em potencial. Satélites que orbitam o Equador não têm que viajar muito para se posicionarem, o que reduz o gasto com combustível em até um quinto em comparação com outras localidades.

A empresa europeia de transporte espacial Arianespace, que detém metade do mercado mundial de lançamento de satélites em órbita geoestacionária, usa uma plataforma de lançamento em Kourou, na vizinha Guiana Francesa.

Não está claro exatamente que forma a próxima parceria do Brasil irá tomar. Pelo acordo anterior, a Ucrânia entrava com a tecnologia para construir os foguetes Cyclone-4 conjuntamente com o Brasil, que era responsável por fornecer as instalações de lançamento.

Frustradas com décadas de atrasos e contratempos, as autoridades brasileiras disseram que podem repensar totalmente os termos de sua próxima parceria.

“Nós tínhamos feito a opção da Ucrânia. Esse programa se mostrou inconsistente”, declarou o ministro da Defesa, Jaques Wagner, à Reuters. Ele disse que o Brasil conversaria “com qualquer país”, incluindo os Estados Unidos, para levar um satélite brasileiro ao espaço.

SALVAGUARDAS

O histórico traumático de Alcântara inclui um acidente em 2003, quando uma explosão e um incêndio destruíram um foguete de fabricação nacional e mataram 21 pessoas. O desastre pôs fim aos planos do Brasil de construir seus próprios foguetes e o levou a procurar a Ucrânia.

Uma série de países trabalhou com o Brasil em questões espaciais. Nas duas últimas décadas, a China empregou seus foguetes e sua plataforma de lançamento para conduzir aos céus cinco pequenos satélites que o Brasil usa para monitorar a agricultura, o meio ambiente e a Floresta Amazônica.

Em 2014, na esteira do escândalo de espionagem da NSA, desencadeado pelos documentos vazados pelo ex-prestador de serviços Edward Snowden, o Brasil escolheu a empresa aeroespacial francesa Thales ao invés de uma rival norte-americana para construir um satélite geoestacionário que será lançado pela Arianespace da Guiana Francesa em 2016.

O Brasil ainda precisa de um parceiro de peso para alcançar seu objetivo de lançar um satélite de Alcântara. A tecnologia para o satélite e o foguete que espera obter nessa parceria daria ímpeto à sua indústria aeroespacial.

Se o Brasil escolher os EUA, a Boeing será beneficiada, já que, além de aeronaves, fabrica foguetes e satélites e tem laços com a principal empresa aeroespacial brasileira, a Embraer, terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais.

O diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, declarou à Reuters que a Rússia está interessada em cooperar com o Brasil e que está “na vanguarda” da tecnologia espacial.

Ele afirmou que os EUA, maior fonte mundial de peças de satélite, também são uma possibilidade, embora tenha reconhecido haver “dificuldades especiais que precisamos superar”.

Uma delas é fato recente. Em 2000, Washington assinou um contrato com o Brasil que teria permitido o lançamento de satélites norte-americanos com foguetes norte-americanos de Alcântara.

Mas o acordo era polêmico por causa da exigência dos EUA de controlar o acesso a partes da base. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o descartou pouco depois de assumir seu primeiro mandato em 2003.

Washington já não faz tal exigência, embora ainda queira que o Brasil assine um assim chamado acordo de salvaguarda tecnológica para garantir que qualquer tecnologia espacial compartilhada com os brasileiros não vá parar em outros países.

Muitos membros do Congresso estão receosos de aprovar o acordo, e militares temem que a colaboração do Brasil com a China o impeça de algum dia obter acesso à tecnologia de satélite norte-americana de ponta, dada a desconfiança que Washington tem de Pequim.

Em novembro passado, o governo dos EUA aliviou suas regras de exportação para equipamentos de defesa, transferindo muitos componentes espaciais classificados automaticamente como munições pelo Departamento de Estado para a esfera do Departamento de Comércio, mais flexível com as exportações.

Autoridades norte-americanas dizem que 70 por cento do que se precisa para construir um satélite agora pode ser comprado dos Estados Unidos.

“Eles têm intenção de flexibilizar. Agora que mudou toda a conjuntura, a gente percebe que eles estão mais abertos, buscando a aproximação, e querendo voltar a ocupar o espaço que perderam para outros países”, acrescentou o coronel reformado Armando Lemos, atual diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), grupo de lobby da indústria de defesa.

O administrador da agência espacial dos EUA (Nasa, na sigla em inglês), Charles Bolden, visitou o Brasil no início deste ano. Quando o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, esteve em Washington no mês passado, almoçou com o chefe interino da Nasa no Museu Espacial do Instituto Smithsonian.

Rebelo disse à Reuters que as negociações com os EUA sobre os satélites estão “em andamento”, mas não quis dar maiores detalhes.

Quando estava a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), o astronauta holandês André Kuipers fotografou a estrutura Richat, conhecida como Olho da África ou Olho do Saara. Ela fica na Mauritânia, no continente africano. A formação geológica tem cerca de 50 km de diâmetro e só pode ser vista do espaço.
  • 2. Rio Amazonas e o Oceano Atlântico

    2 /13(Divulgação/ESA/NASA)

  • Veja também

    André Kuipers também fotografou parte do norte brasileiro, o Rio Amazonas e o Oceano Atlântico. O Rio Amazonas aparece com uma cor puxada para o marrom. Também dá pra ver como o rio desemboca no Oceano Atlântico.
  • 3. A Terra sem água

    3 /13(NASA/NOAA)

  • A NASA divulgou imagens em que a água da Terra parece não existir. Tudo isso para destacar a vegetação terrestre. Assim, é possível ver como a vegetação se altera ao longo do ano, variando conforme as estações em cada hemisfério.
  • 4. Algas no Atlântico Sul

    4 /13(Aqua - MODIS)

    Em janeiro, as algas se proliferaram aos montes nas águas das praias cariocas, levando desconforto aos banhistas. Esta é a imagem espacial do fenômeno. Vistas do espaço, as águas do Atlântico Sul aparecem escurecidas em manchas que se estendem por 800 quilômetros.
  • 5. Escuridão na Coreia do Norte

    5 /13(Suomi NPP - VIIRS)

    Os satélites da NASA captaram as deficiências na infraestrutura energética da Coreia do Norte. O país se torna um fantasma mergulhado na escuridão, com um pequeno foco de luz vindo da capital, Pyongyang. Em contraste, a Coreia do Sul aparece iluminada.
  • 6. Tornado que atingiu Oklahoma City

    6 /13(NASA/GSFC/Jeff Schmaltz/MODIS Land Rapid Response Team)

    Esta imagem foi feita com o satélite Aqua MODIS, da NASA. Ele captou do espaço a aproximação do tornado que atingiu a região Oklahoma City, no centro-sul dos Estados Unidos, como uma grande mancha branca e densa. O tornado devastou em 40 minutos uma área de 32 quilômetros entre as cidades de Newcastle e Moore.
  • 7. O vulcão Bardarbunga

    7 /13(Jeff Schmaltz, LANCE/EOSDIS Rapid Response and Jesse Allen)

    Quando o vulcão Bardarbunga, na Islândia, entrou em erupção, satélites capturaram o evento do espaço. O Bardarbunga é um grande vulcão de 2.000 metros na área da maior geleira da Islândia. A atividade do vulcão começou em 16 de agosto, mas os tremores têm persistido ao longo das semanas.
  • 8. Poluição do ar na China

    8 /13(Terra - MODIS)

    A grave poluição do ar na China já foi mapeada do espaço. Cientistas usaram um sensor infravermelho do satélite MetOp para mapear nuvens de material particulado e de dióxido de carbono, dióxido de enxofre e amônia sobre a planície norte da China, em janeiro de 2013. A imagem mostra a extensa neblina sobre a região.
  • 9. 11 de setembro de 2001

    9 /13(NASA)

    Em 11 de setembro de 2001, Frank Culbertson era o único americano no espaço. O comandante da Expedição 3 da ISS sobrevoava Nova York logo após o segundo avião atingir o World Trade Center. A fumaça que se ergueu com o impacto das aeronaves que derrubaram as duas torres era visível do espaço.
  • 10. Dunas no Saara

    10 /13(Chris Hadfield)

    O astronauta Chris Hadfield, do Canadá, fez fotos incríveis da Terra quando estava a bordo da ISS. Esta imagem, por exemplo, mostra várias dunas de areia no deserto do Saara, que ganharam um visual único vistas do espaço.
  • 11. Palm Islands

    11 /13(Chris Hadfield)

    Já esta imagem mostra Palm Islands, as ilhas artificiais de Dubai, ao anoitecer. Ela também foi feita pelo astronauta Chris Hadfield.
  • 12. Bacia Amazônica

    12 /13(Chris Hadfield)

    "A umidade incrivelmente verde da bacia amazônica", disse o astronauta Chris Hadfield quando fotografou a imagem acima.
  • 13. Veja agora 8 fotos do Brasil visto do espaço feitas pela NASA

    13 /13(NASA)

  • Acompanhe tudo sobre:América LatinaÁsiaDados de BrasilEstados Unidos (EUA)EuropaPaíses ricosRússiaSatélites

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Brasil

    Mais na Exame