Viatura da Polícia Militar do Rio de Janeiro: PMs chegaram a usar spray de pimenta contra os manifestantes (Tânia Rêgo/ABr)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2015 às 12h01.
Rio de Janeiro - A operação de reintegração de posse do Edifício Hilton Santos, no bairro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro, na manhã desta terça-feira, 14, teve tumulto entre policiais militares e manifestantes logo após a saída dos sem-teto do imóvel.
Um grupo aguardava para embarcar em vans da Secretaria Municipal de Assistência Social, quando houve correria.
PMs chegaram a usar spray de pimenta contra os manifestantes e parte dos sem-teto ateou fogo em objetos dentro do prédio.
Os bombeiros tiveram que agir para conter as chamas. Pelo menos duas pessoas foram detidas na confusão.
Por volta das 7h45, cerca de 300 ocupantes, segundo a Defensoria Pública, já aguardavam pela reintegração do imóvel.
Com cartazes, o grupo pedia por moradias. "Para que Olimpíada se não temos moradia?", questionava um deles.
Agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social chegaram com sete vans ao local e ao menos 18 carros da Polícia Militar estavam posicionados nos arredores. Segundo relatos, uma parte dos invasores deixou o local durante a madrugada.
A reintegração de posse do prédio, ocupado desde o dia 7 de abril, foi determinada pelo juiz Leonardo Alves Barroso, da 36ª Vara Cível. Na noite de ontem, a Defensoria entrou com uma medida cautelar para evitar a desocupação, que acabou sendo negada.
O imóvel é uma propriedade do Clube de Regatas do Flamengo, arrendado pelo grupo EBX, do empresário Eike Batista, e deveria ter se transformado em um hotel para a Olimpíada. Por causa da crise enfrentada pelas empresas de Eike, o prédio ficou abandonado, até ser ocupada pelos sem-teto.
Parte do grupo é oriundo de uma ocupação ocorrida mês passado em um prédio da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae). Muitos participaram também da invasão da antiga sede do grupo Oi/Telerj, na zona norte do Rio, cuja reintegração de posse ocorreu em abril do ano passado, marcada por confrontos.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcelo Chalréo, a Justiça não colaborou com as negociações. Uma oficial de Justiça foi vista pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo conversando em tom de animosidade com ocupantes e com os defensores presentes no local.
Parto
Durante a madrugada, no edifício ocupado, uma mulher entrou em trabalho de parto, foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Botafogo e, depois, transferida para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, zona sul. Fernanda Aldeir, de 35 anos, deu à luz, de parto prematuro, ao 7º filho e segue internada.
"Esta madrugada foi muito difícil, do mesmo jeito que está sendo a manhã. Meu bebê nasceu prematuramente devido à insegurança do poder público. Nosso bebê não está bem, está no hospital internado", afirmou o pai da criança, Carlos Souza, de 35 anos, antes da reintegração.
Souza foi um dos detidos pela PM. Ele acusou um policial militar de ter lançado spray de pimenta contra ele e seu filho, uma criança de colo. A PM confirmou que o agente foi preso administrativamente e Souza foi levado à 10ª DP de Botafogo para registrar a ocorrência.