Governador de São Paulo alega que, ao reduzir a vazão do Jaguari, cumpre legislação da ANA que determina que o abastecimento prioritário é para a população (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2014 às 10h44.
Rio de Janeiro - Ex-presidente da Light e ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Agência Nacional de Águas (ANA), o pesquisador da Coppe/UFRJ Jerson Kelman alerta que a redução da vazão do Rio Jaguari coloca em risco o abastecimento de água na região metropolitana do Rio.
"Se a água não estiver disponível para chegar à usina (hidrelétrica) de Santa Cecília, não chegará ao Rio Guandu. Pode faltar água para a população porque a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) terá dificuldade para captar água para o abastecimento humano".
Segundo Kelman, o reservatório de Santa Cecília precisa armazenar no mínimo 165 mil litros de água por segundo para abastecer a população e gerar energia. Caso contrário, mais 15 milhões de pessoas podem sofrer com a falta d'água.
Após passar por três reservatórios em São Paulo e receber água do rio Jaguari, o rio Paraíba do Sul chega ao reservatório de Santa Cecília, em Piraí, no sul fluminense, onde existe uma usina hidrelétrica da concessionária Light. Lá, parte da água do Paraíba do Sul é transposta para o Guandu, que abastece a capital e a região metropolitana do Rio.
Nesta terça-feira, 12, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reiterou em nota que a "redução unilateral" da vazão do Jaguari por parte da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) de 30 mil para 10 mil litros por segundo "causará o colapso do abastecimento de água de cidades situadas a jusante (abaixo do reservatório de Santa Cecília), nos Estados do Rio e São Paulo, até a foz do Paraíba do Sul" e informou que "aguarda o posicionamento da Aneel e da ANA sobre este assunto".
A possibilidade de falta de água causou uma crise entre os governo do Rio de São Paulo. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), cobrou uma ação do governo federal. "São Paulo não pode tomar uma decisão unilateral. Tenho certeza que o governo federal, através da ANA, vai determinar o que tem que ser feito no Rio Paraíba do Sul. Não podemos fazer disso uma batalha".
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), alega que, ao reduzir a vazão do Jaguari, cumpre legislação da ANA que determina que o abastecimento prioritário é para a população. Ele afirma que, com pouca água no reservatório de Jaguari, 15 mil habitantes de Santa Isabel, em São Paulo, ficariam sem água.
"O interesse de Santa Isabel não pode se contrapor aos interesses de milhões de habitantes no Rio e do Vale do Paraíba. O governo de São Paulo comete uma ilegalidade", avalia Kelman.
Esgoto
Alckmin também argumenta que a Cedae capta apenas 50 mil litros de água por segundo para tratamento. Os 115 mil litros restantes são usados para diluir o esgoto que chega dos afluentes ao Rio Guandu, cuja água será tratada nas demais estações de tratamento. "Sem a transposição do Paraíba do Sul para o Guandu não haveria água suficiente para diluir a poluição e seria quase impossível que a Cedae conseguisse tratá-la para o consumo humano". Para Kelman, a melhor solução para os dois Estados seria aumentar o tratamento do esgoto no Rio. Dessa forma, a quantidade de água necessária para diluir o lixo seria menor, sobrando mais para a transposição proposta pelo governo paulista (de 5 mil litros por segundo entre as represas de Jaguari e Atibainha). Ele acrescenta que não há risco de falta de luz porque o sistema elétrico nacional é interligado, ou seja, a energia poderia ser produzida em outras usinas.
"Se o sistema da Light parar de produzir energia, não vai faltar luz porque pode ser produzida por outras fontes. Mas vai faltar água porque, para tratar a água no Guandu, são necessários 115 mil litros por segundo, porque a poluição é muito grande e o tratamento do esgoto ficaria intratável".