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Queremos mostrar para Greta que não somos do mal, diz vice de Amoêdo

Cientista político Christian Lohbauer afirma que a ativista sueca "acha que a gente é um bando de canalhas" e que quer "convencê-la de que a gente é bacana"

Greta Thunberg: ativista se tornou conhecida mundialmente por defender a adoção de medidas contra o aquecimento global (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Greta Thunberg: ativista se tornou conhecida mundialmente por defender a adoção de medidas contra o aquecimento global (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 12h27.

Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 16h10.

São Paulo — O cientista político Christian Lohbauer, de 53 anos, tornou-se uma espécie de porta-voz das empresas de agrotóxicos e transgênicos do País. Ex-candidato a vice-presidente em 2018 na chapa de João Amoêdo, do Novo, Lohbauer agora está à frente da recém-criada CropLife Brasil, entidade que pretende ser o principal canal de representação institucional do setor.

Nesta entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ele fala sobre as aprovações recordes de agrotóxicos pelo governo Bolsonaro e contesta a narrativa de que as empresas "produzem veneno" e "provocam câncer". "A Greta acha que a gente é um bando de canalhas", afirma Lohbauer, em referência à ativista sueca Greta Thunberg, que se tornou conhecida mundialmente por defender a adoção de medidas contra o aquecimento global e outras bandeiras ligadas ao meio ambiente. "Queremos convencer a Greta de que não somos do mal."

O governo Bolsonaro tem sido criticado por ter liberado cerca de 500 agrotóxicos em apenas um ano. Como o sr. vê essas críticas?

É uma crítica equivocada. O que esse governo está fazendo é desfazer um erro de 16 anos, que dificultava a chegada de novas tecnologias ao Brasil. No mundo inteiro, a aprovação de uma tecnologia nova para usar na soja, no milho, no algodão, demora de três a quatro anos. Aqui, demora de oito a dez. Enquanto o mundo aprova três, quatro novos produtos por ano, a gente não aprovava nenhum. Por quê? Porque desde o governo Lula isso passou a ser considerado veneno. A orientação era para não aprovar nada. Então, formou-se uma fila, que foi crescendo. Depois, o governo Temer começou a liberar devagar os registros e agora esse governo está desfazendo um processo decisório anacrônico e ideológico.

Com tantas liberações ficou a impressão de que houve liberação indiscriminada de produtos. Havia tanto agrotóxico novo na fila?

Na verdade, a maior parte dessas centenas de aprovações foi de genéricos ou produtos que nem para agricultura são. Eles põem nesse rol produtos que atacam insetos de residência, que matam cupim e barata. De substâncias novas para a agricultura, foram apenas oito. Mas a turma que quer criticar diz que é tudo agrotóxico, fica batendo nessa tecla de que agora liberou geral. Isso é uma burrice.

Os críticos alegam que muitos produtos são proibidos em outros países. Não está havendo negligência do governo?

Isso também é um absurdo. Existem vários produtos que são aprovados aqui e não são aprovados na Europa e mesmo nos Estados Unidos? Existem. Sabe por quê? Europeu planta soja? Não. Então, ele não precisa de produto para soja. Também há várias substâncias que a gente não autoriza e que são aprovadas lá, porque não cultivamos aqui os alimentos para os quais elas se destinam. Uma boa parte desses produtos, que uma professora da Geografia da USP pôs numa tabela para mostrar que o governo estava liberando substâncias que os europeus não aprovaram, é porque eles não precisam usar lá.

De qualquer forma, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Não há um exagero no uso?

Para medir o uso do agrotóxico, a gente considera dois critérios muito melhores do que o volume absoluto. Um deles é kg/hectare. A Holanda, produtora agrícola, tudo certinho, moderno, usa 9,4 kg de agrotóxico por hectare. O Brasil usa 4,1 kg/hectare, menos da metade. O outro indicador é a produção total de alimentos em relação à quantidade de defensivos. O Brasil ocupa apenas o 14.º lugar da lista.

Muitos profissionais ligados à área de saúde têm feito alertas sobre os danos que alguns produtos podem causar. O que o sr. tem a dizer sobre isso?

Não existe estudo científico que comprove a relação entre o uso adequado de defensivos e prejuízo à saúde humana. Se o sujeito pegar um inseticida e pulverizar uma colmeia, vai matar todas as abelhas. Não pode pulverizar colmeia. Isso é um problema, porque as empresas não têm como controlar o uso dos produtos. Se o médico falar que só pode tomar uma pílula por dia e você tomar cinco, morre. No caso do defensivo, é igual.

Faz sentido usar esses produtos e correr esse risco?

O desenvolvimento de novas tecnologias envolve o investimento de bilhões de dólares em pesquisa. Para cada produto novo, são testadas 200 mil moléculas, sob a supervisão de cientistas suíços, alemães, com PhD, que só fazem isso há 20, 30 anos. Eles sabem que têm responsabilidade pelos resultados. O negócio é sério. Depois, ainda tem a fase das análises toxicológicas dos países.

Apesar desse caráter científico, muita gente acredita que as empresas do setor colocam em risco a saúde das pessoas e o meio ambiente. Em sua visão, o que leva a essa percepção?

Embora a gente ache que faz coisas sensacionais para a humanidade, que faz o alimento ficar mais acessível e seguro, que contribui para aumentar a produtividade, que leva o produtor a ficar mais rico, a sociedade acha que a gente produz veneno, explora o produtor, intervém na estrutura da vida, porque mexe com DNA, coloca em perigo a vida das pessoas e provoca até câncer. A gente acha que vai conseguir mudar isso no médio e no longo prazos, mas no curto prazo é difícil. Nós queremos conversar com a Greta (Thunberg) e convencê-la de que a gente é bacana, porque ela acha que a gente é um bando de canalhas, os caras da química e da intervenção genética, os caras do mal, as multinacionais e os oligopólios que jogam veneno na água e nos alimentos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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