Ex-presidente Lula: petista foi preso em abril de 2018, mas foi solto em novembro do ano passado (Fabio Vieira/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 11h47.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 11h47.
Depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se colocar "à disposição" para enfrentar o governo Jair Bolsonaro, o PT vai lançar nos próximos dias um "programa de reconstrução nacional". Segundo lideranças do partido, os dois passos fazem parte do mesmo movimento para recolocar o PT no papel de oposição natural a Bolsonaro.
A próxima etapa, afirmam lideranças petistas, é aproveitar o horário de TV dos candidatos do PT às eleições municipais de novembro como espaço para Lula amplificar suas críticas ao governo federal. Por ordem do ex-presidente, o PT terá um número recorde de candidatos nas cidades com segundo turno - 85 em um total de 95 municípios.
O programa elaborado pela Fundação Perseu Abramo sob a coordenação do ex-ministro Aloizio Mercadante, "diverge frontalmente", segundo o PT, "dos caminhos trilhados pelo governo Bolsonaro em temas relacionados à economia e à democracia, além de sugerir políticas públicas em áreas que vão de meio ambiente, saúde, educação e cultura". No texto em que anuncia o programa, o partido usa a expressão "oposição propositiva".
Embora tenha a assinatura do PT, afirma o partido, o programa contempla sugestões de outras siglas de oposição, como PDT, PSOL Rede, PSB e PCdoB. O mote do programa, colocado por Lula em pronunciamento no dia 7, é "Vamos juntos reconstruir o Brasil".
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o texto será apresentado para debate com as demais forças de oposição. "O plano é a contribuição que o PT vai dar para o debate da esquerda e oposição ao Bolsonaro para essa reconstrução", disse ela.
Gleisi negou que o objetivo tanto do pronunciamento de Lula quanto do plano seja eleitoral. "Não é um programa de governo", disse ela.
O ex-presidente já está gravando vídeos para os candidatos petistas. Ele pretende falar das cidades, mas levando o assunto para a esfera federal, lembrando realizações dos governos petistas e fazendo críticas a Bolsonaro.
"Ele não vai se furtar de fazer críticas, denúncias. Quando se colocou à disposição do povo brasileiro foi também para isso", afirmou Gleisi.
No 7 de Setembro, Lula fez um pronunciamento em suas redes sociais no qual faz duras críticas à forma como Bolsonaro vem conduzindo o País no enfrentamento à pandemia e à política econômica do governo. Ao final, o ex-presidente se colocou "à disposição do povo brasileiro" para enfrentar a situação.
A frase foi interpretada como sinal de que Lula quer mais uma vez ser candidato à Presidência em 2022, se for liberado pela Justiça. Em 2018, o ex-presidente foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa por ter sido condenado em dois processos em órgão colegiado (o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, TRF-4).
Preso em abril de 2018, para cumprimento provisório de sua pena no caso triplex do Guarujá (SP) por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema de desvios na Petrobras, o ex-presidente foi solto em novembro do ano passado.
Petistas apostam em uma reversão dessas penas no julgamento pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) da ação que pede a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Até agora, dois integrantes da Segunda Turma votaram contra a suspeição e dois indicaram que vão votar a favor. O voto de Minerva será do decano do STF, ministro Celso de Mello, que deve se manifestar antes de se aposentar, em novembro. Nesta semana petistas reativaram a campanha Lula Livre, agora com o mote "anula STF", numa tentativa de pressionar o Tribunal.