PT cresce no Nordeste, mas perde hegemonia na classe média
Com quatro governadores eleitos e compondo a chapa em mais cinco, o partido se manteve firme apenas na região nordeste do país
Clara Cerioni
Publicado em 29 de outubro de 2018 às 12h36.
Última atualização em 29 de outubro de 2018 às 12h47.
São Paulo – Mesmo com o aumento da importância no Nordeste , com a eleição de governadores e vices, o PT sai da eleição deste ano como um partido menor e com menos força, tanto no Congresso Nacional quanto nos estados.
Para Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, a sigla que ficou por 14 anos na liderança do Brasil, perdeu a hegemonia em um eleitorado que lhe era fiel — a classe média brasileira.
“O PT conseguiu sobreviver com a força do “Lulismo”, principalmente no Nordeste que é claramente aquele eleitor do Lula mais dependente do estado, dos programas sociais. Mas perdeu na classe média, que era aquele eleitorado mais associado a temas sociais. O fato real é que o partido perdeu hegemonia na sociedade geral”, disse Schüler.
Os escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a prisão do ex-presidente Lula, neste ano, foram determinantes para o resultado do partido nesta eleição. A derrota de Fernando Haddad também consolidou esse cenário.
Apesar disso, no Nordeste, o PT, além de ter eleito quatro governadores nos nove estados da região, também fez parte formalmente da chapa dos eleitos em outros cinco estados.
A força do partido já tinha sido atestada no primeiro turno, com as vitórias de Rui Costa (BA), Camilo Santana (CE) e Wellington Dias (PI), todos reeleitos. No segundo turno, Fátima Bezerra venceu no Rio Grande do Norte.
A sigla está na chapa tanto dos outros quatro governadores eleitos no primeiro turno - Renan Filho (MDB-AL), Paulo Câmara (PSB-PE), João Azevedo (PSB-PB) e Flávio Dino (PC do B-MA) -, quanto de Belivado Chagas, eleito no Sergipe neste domingo. No caso de Sergipe, o partido terá a vice-governadora, Eliane Aquino.
Em 2014, o PT elegeu três governadores — Bahia, Ceará e Piauí — e estava na chapa dos eleitos em Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Oposição
Segundo Schüler, o partido perdeu espaço em estados em que era forte até esta eleição. “Em lugares como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o PT sequer foi para o segundo turno. São colégios eleitorais importantes no país. Apesar disso, o partido será um dos principais opositores do governo Jair Bolsonaro”, afirmou o professor.
O especialista acredita, no entanto que a oposição terá uma configuração diferente daquela formada em 2014.
“A oposição ao presidente eleito será mais ampla. Teremos o PT, de uma forma mais organizada e muito forte nos movimentos sociais. Aliado ao partido, teremos o PDT, de Ciro Gomes, que chega como uma das maiores personalidades da oposição. E acredito que o PSDB também fará esse papel, apesar de muito mais brando”, ressaltou.
Para ele, o PSDB terá uma visão mais crítica em pautas mais polêmicas ligadas aos direitos humanos e questões culturais. Mas, na área econômica, o partido já demonstrou que é mais “simpático” às propostas de Bolsonaro.
“Fernando Haddad será a principal cara da oposição, junto com o Ciro Gomes, mas o PSDB terá papel importante nesse processo. Tudo dependerá também do ritmo da agenda do próprio governo. Se colocar a pauta mais conservadora logo de cara, poderá ter uma oposição mais aguerrida”, acrescentou Schüler.