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Privatização dos Correios e Eletrobras: o choque de capitalismo está de pé?

Mercado avalia sinalizações do governo sobre a agenda liberal do ministro Paulo Guedes; interferência na Petrobras e no Banco do Brasil preocupam

Greve dos Correios em setembro de 2020: funcionários são contra a privatização (Sintect-Cas/Divulgação)

Greve dos Correios em setembro de 2020: funcionários são contra a privatização (Sintect-Cas/Divulgação)

CA

Carla Aranha

Publicado em 28 de fevereiro de 2021 às 16h06.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2021 às 16h07.

A noite da última terça-feira, dia 23, foi agitada no Congresso. O presidente Jair Bolsonaro saiu do Palácio do Planalto e, junto a uma comitiva de ministros, entregou pessoalmente a medida provisória da capitalização da Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina, aos presidentes da Câmara e do Senado.

Um dia depois, na quarta-feira, Bolsonaro e o ministro Fábio Faria, das Comunicações, fizeram o mesmo trajeto, levando ao Parlamento o projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios, outra estrela do programa de desestatização do governo e da agenda liberal do ministro Paulo Guedes.

“É interessante notar que as propostas de privatização ganharam musculatura pouco depois da demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que mexeu com o mercado”, diz o cientista político André César, da Hold Assessoria. “No momento em que demite Castello Branco, o presidente está pensando mais nos caminhoneiros do que no mercado. Logo em seguida, para agradar os investidores, entrega duas privatizações importantes ao Congresso”.

Não é um jogo fácil. Com o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, na corda-bomba há algumas semanas, depois de ter anunciado um enxugamento dos quadros da estatal e o fechamento de agências, os investidores continuam um tanto ressabiados. “Essas interferências nas estatais preocupam, já que o mercado entende que não se trata de fatos isolados”, diz Ricardo Sennes, diretor da consultoria Prospectiva.

A bola também está em campo no Congresso, em uma partida que deverá ser disputada. Na última sexta, dia 25, deputados e senadores protocolaram 570 emendas à MP da privatização da Eletrobras. Boa parte diz respeito à manutenção do emprego dos atuais servidores da estatal. A Eletrobras possui 12.051 funcionários, que ganham em média 11.227 reais. O maior salário chega a 71.154 reais, segundo dados do Ministério da Economia.

O Congresso tem 120 dias para deliberar sobre o tema. Após esse prazo, a MP pode caducar caso não seja votada. A privatização dos Correios também precisa ser aprovada pelos parlamentares. O governo acredita que as duas estatais deixarão as mãos do Estado até o final do ano.

Enquanto isso, os acenos de intervenção na política de preços da Petrobras e troca no comando da estatal mantém os níveis de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. A última pesquisa EXAME/IDEIA,  projeto que une Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, revela que 31% dos brasileiros aprovam a gestão de Bolsonaro, uma alta de 4% em relação ao levantamento anterior.

“A avaliação do presidente está bastante estável, com destaque para o fortalecimento positivo do governo federal na região Centro-Oeste e a sólida margem positiva entre os evangélicos", diz Mauricio Moura, fundador do IDEIA.

 

 

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