'Porto de Santos está à beira do colapso', diz especialista
Estimativa do Centro Nacional de Navegação mostra que, sem intervenções, o porto vai ficar totalmente congestionado em 5 anos
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 16h49.
São Paulo - A fragilidade da infraestrutura no Porto de Santos está prestes a ultrapassar o limite do suportável. Segundo o Centro Nacional de Navegação (Centronave), associação que reúne as principais empresas do setor de transporte marítimo, se a capacidade para receber navios e movimentar contêineres não for ampliada, em cinco anos não haverá mais condições de operar no porto.
Um estudo feito pela entidade mostra que sobram gargalos que justificam a preocupação de empresários e representantes do setor. Santos é o principal porto brasileiro, responsável pela movimentação de 40% do total de contêineres no Brasil, o equivalente a pouco mais de quatro milhões de unidades por ano.
"Estamos antevendo um colapso em Santos", diz o diretor executivo do Centronave, Elias Gedeon, durante evento sobre o sistema portuário no Brasil, realizado nesta quinta-feira (20) pela Câmara Americana de Comércio (Amcham). Segundo ele, a perspectiva é a de um congestionamento completo, uma vez que a demanda não para de crescer, mas a expansão dos terminais não chega nem perto de suprir as necessidades.
Entre 2001 e 2010, a movimentação de contêineres passou de 554 mil unidades por ano para 1,75 milhões, ou seja, um crescimento de quase 215%. Enquanto isso, a capacidade dos terminais cresceu apenas 23%, passando de 2,17 quilômetros para 2,67 quilômetros.
Nestes mesmos dez anos, o volume de importações que chegam a Santos aumentou 196%. Por outro lado, a área alfandegada, espaço destinado a armazenar os contêineres que chegam ao porto, cresceu 20%. O resultado, segundo Gedeon, são filas intermináveis de navios esperando para atracar no porto. Em nove meses, somando o tempo de espera de cada navio, chega-se à marca de três mil dias aguardando liberação para atracar.
Participação
"Nosso problema maior é a mentalidade", diz Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABPT). O empresário afirma que falta ousadia do setor privado no Brasil na sua relação com o sistema portuário.
Para Manteli, "dizer que movimentar cargas é um serviço público é um erro crasso". Ele diz que, em um modelo ideal, o setor privado deveria cuidar de todas as operações nos portos, deixando ao governo a função de regular o setor e garantir a competição.
"Empresas como a Vale e a Petrobras não teriam o porte global que ostentam hoje se não tivessem direito a terminais privativos nos portos. Ter acesso a este tipo de recurso sem restrições e burocracia é premissa de uma boa política industrial. As empresas tinham que se dar conta disso e atuar junto ao governo, mostrando suas necessidades e cobrado mudanças", afirma.