(Andy Dean/Thinkstock)
Valéria Bretas
Publicado em 23 de maio de 2018 às 06h30.
Última atualização em 23 de maio de 2018 às 06h30.
São Paulo – Novidade nas eleições deste ano, a doação de dinheiro de pessoas físicas para políticos por meio de "crowdfunding", as chamadas vaquinhas virtuais, já tem despertado o interesse de pré-candidatos que rebolam para conseguir financiar suas campanhas. A dificuldade, porém, é convencer o eleitorado a colocar mão no bolso em um cenário de forte descrença com a classe política.
Esta será a primeira eleição geral após a proibição da doação empresarial. Sem o dinheiro das empresas, os partidos terão que se virar apenas com as contribuições eleitorais e o fundo eleitoral público de 1,7 bilhão de reais.
Não surpreende que, desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou o crowdfunding na última semana, 35 empresas tenham sido credenciadas para oferecer o serviço. Até o momento, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) e o empresário João Amoêdo (Novo), pré-candidatos à Presidência da República, já arrecadaram 4,4 mil reais e 131,7 mil reais, respectivamente, por meio dessas plataformas.
Para especialistas consultados por EXAME, as doações coletivas chegaram para ficar, mas, faltando pouco para a disputa eleitoral, quatro fatores devem emperrar a sua eficácia em 2018.
A chegada da nova modalidade de doação coincide com um momento de escândalos de corrupção envolvendo uma parte considerável da classe política brasileira. “As polêmicas de corrupção fizeram com que o eleitor colocasse os políticos em um saco só, reproduzindo todos como semelhantes”, diz Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Quando não há confiança na política, não existe razão para financiá-la”.
Na análise de Oliveira, até que os brasileiros se sintam representados, a doação para campanhas eleitorais será um fracasso. A tradição pode até ser criada, mas deve demorar.
Segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial publicado no ano passado, em uma escala de 0 a 7, o nível de confiança dos políticos brasileiros não passou de 1,3. O estudo entrevistou 200 executivos que atuam no país.
Por lei, a arrecadação de recursos pela internet obriga o doador a registrar o seu nome completo, CPF e o valor transferido para o candidato. Em geral, a maioria das plataformas discriminam todos os dados do contribuinte.
O problema, segundo o coordenador do curso de marketing eleitoral da ESPM-SP, Victor Trujillo, é que declarar as doações publicamente para um determinado candidato pode criar uma associação direta com o voto do eleitor, que é sigiloso. “O legislador precisa evitar fraudes. Mas, na prática, é pedir para que o eleitor identifique em quem ele vai votar”, alerta.
Na opinião dos especialistas, controlar as doações também é um entrave para a popularização das vaquinhas online. A orientação é que antes de doar, o eleitor visite o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para conferir se a empresa está cadastrada e verifique se a plataforma respeita o limite de valor diário das doações – que é de 1.064 reais.
Na eleição de 2016, que também não contou com o financiamento empresarial, o TSE identificou mais de 259,9 mil casos de possíveis irregularidades envolvendo doações às campanhas. O total suspeito ultrapassou um bilhão de reais — quase metade do total arrecadado por candidatos e partidos, que foi de 2,615 bilhões de reais.
A estratégia do TSE para 2018 é unir forças entre a Justiça Eleitoral, a Receita Federal, o Tribunal de Contas da União e o próprio Ministério Público Federal para identificar eventuais problemas.
Por fim, outro fator que pode travar o sucesso das vaquinhas online é o momento ruim da economia brasileira. Apesar da melhora de alguns importantes indicadores econômicos, a população ainda está se recuperando, avaliam os especialistas.
“Em um cenário de PIB positivo, prosperidade e crescimento da atividade econômica, teríamos um eleitor mais simpático”, diz Truijillo. “Para pedir que brasileiro tire a mão do bolso agora é necessário um candidato extremamente compromissado com os eleitores. É o modelo ideal, mas na hora errada”, completa.