Policiais em mais de dez estados pressionam por aumentos salariais
Governadores temem paralisações como a dos PMs do Ceará, onde há registro de 170 mortes
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 06h28.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2020 às 07h14.
São Paulo — A pressão das corporações policiais por aumentos salariais continua no pós-Carnaval. Em pelo menos dez estados, a categoria se movimenta para conseguir reajustes dos governadores, que temem enfrentar paralisações como a do Ceará, onde 170 assassinatos já foram registrados desde o início do motim da PM cearense, no dia 18 de fevereiro.
Governadores de Santa Catarina, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Amazonas, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins estão em discussões com representantes das polícias de seus estados.
O reajuste escalonado até 2022 de 42% aos policiais de Minas Gerais, concedido pelo governador Romeu Zema (Novo), deu força às corporações de norte a sul do país. Zema foi amplamente criticado, inclusive por deputados de seu partido, mas colocou um problema no colo de outros governadores: se o estado com a pior situação financeira do país encampou as demandas dos policias, por que os outros não podem fazer o mesmo?
Outro acordo pode estar perto de sair do papel e fortalecer o movimento dos policiais. Em Santa Catarina, os policiais decidem na próxima quinta-feira, 27, se aceitam a proposta de aumento de 17,5%, parcelado em quatro etapas até 2022, oferecida pelo governador Carlos Moises (PSL).
A pressão das categorias policiais também tem reverberado a maior participação de representantes das forças militares nos legislativos estaduais e federal. Na eleição de 2018, 73 militares e policiais foram eleitos para as assembleias estaduais, para a Câmara e para o Senado.
Fontes ouvidas pelo jornal El País apontam que a chamada “bancada da bala” no Congresso é favorável a uma eventual proposta de federalização das polícias, que hoje são estaduais. Um projeto de mudança estaria sendo gestado para ser levado ao Congresso. A proximidade dos policiais com o presidente Jair Bolsonaro levantou acusações de que as PMs nos estados estejam sendo usadas como instrumento contra governadores.
O caso mais emblemático desse potencial embate aconteceu no Ceará, quando o senador do estado, Cid Gomes (PDT-CE), confrontou um grupo de policiais em um quartel em Sobral com uma retroescavadeira e terminou baleado.
O PDT cobra uma reação do governo federal sobre o motim no Ceará. No mesmo dia em que o senador foi baleado, Bolsonaro recebeu para um almoço em Brasília o deputado estadual André Fernandes (PSL-CE), grande apoiador das reivindicações dos policiais cearenses.
Em visita ao Ceará na segunda-feira, 24, o ministro da Justiça, Sergio Moro, não condenou o movimento dos policiais. “Os policiais do país inteiro, não só do Ceará, são profissionais dedicados, que arriscam suas vidas, são profissionais que devem ser valorizados. É o momento de servir e proteger, acalmar os ânimos”, afirmou o ministro.
Nos próximos dias, os governadores serão testados de duas formas. Primeiro, se enfrentarão a dura realidade de crise fiscal ou se irão ceder à pressão dos batalhões. Enquanto isso, em meio a ano de eleição nos municípios — pleitos que costumam contar com ampla presença de governadores Brasil afora –, o motim dos policiais pode tornar-se mais um tópico eleitoral.