A presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice Michel Temer (PMDB) (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2014 às 16h46.
Brasília - Há algumas semanas, crescia no PMDB o movimento "não vai ter aliança", numa analogia ao bordão das manifestações populares contra a Copa do Mundo, mas ele foi contido e o partido deve reafirmar na terça-feira, durante sua convenção nacional, o pacto com o PT para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Mas a legenda quer repactuar essa aliança após a eleição.
Para conseguir conter o movimento rebelde, com raízes muito fortes na bancada na Câmara, foi necessário um grande esforço do vice-presidente da República Michel Temer, presidente licenciado da legenda, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma e dos caciques do PMDB no Senado.
Esse esforço político, porém, foi para salvar a aliança eleitoral.
Para que ela prospere nos próximos meses e se consolide após a possível reeleição de Dilma, porém, o PMDB recebeu a promessa de que o acordo com o PT será repactuado, permitindo que o maior partido da aliança da presidente tenha mais espaço num vindouro ministério e uma maior participação nas políticas públicas, segundo peemedebistas ouvidos pela Reuters.
Confiante, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse à Reuters que cerca de 80 por cento dos 738 votos da convenção devem apoiar a renovação da aliança. Já nas contas dos rebeldes essa vantagem, se ocorrer, será muito menor.
Raupp admite que as negociações estaduais causaram problemas para a aliança nacional em Pernambuco, no Rio de Janeiro, no Mato Grosso do Sul, na Bahia e no Rio Grande do Sul.
Essas tensões locais e o difícil relacionamento de Dilma com o Congresso desde que assumiu em 2011 são os motores da divisão no seio peemedebista, como ficou evidenciado numa reunião do diretório nacional da legenda no mês passado.
Raupp disse que o PMDB quer participar mais do governo num eventual segunda mandato de Dilma. "Não é uma questão de cargos. Eu defendia e continuo defendendo inclusive uma redução no número de ministérios", argumentou.
Segundo ele, o que PMDB quer é integrar para valer a condução e a contrução das políticas públicas.
Um outro peemedebista disse à Reuters, sob condição de anonimato, que esse aceno já foi feito por Dilma e Lula em reuniões recentes com peemedebistas. "É uma repactuação da relação (entre o partido e o governo), do diálogo com o Congresso, da participação da formulação do novo governo, das implementação das políticas públicas", disse essa fonte.
Para esse peemedebista, mais do que a participação de Lula e Dilma na reta final, a manutenção da aliança foi garantida pelo esforço de Temer e dos caciques partidários do Senado.
Na covenção, serão 510 delegados com direito a voto, sendo que alguns deles tendo mais de um voto, dependendo do cargo que ocupam na estrutura partidária. Por isso, o total de votos da convenção é de 738.
Rebeldes Ainda Estão Em Campo
A despeito da cúpula peemedebista divulgar que a aliança será renovada, nos bastidores o "Movimento PMDB Independente" continua se esforçando para aprontar uma surpresa e rejeitar a dobradinha com PT na terça.
Na semana passada, os peemedebistas receberam um manifesto do movimento que continha duras críticas ao governo e pregava o fim da aliança.
Nem mesmo a área de energia foi poupada, apesar do peemedebista Edison Lobão comandar o Ministério de Minas e Energia desde o segundo mandato de Lula.
Um dos líderes desse movimento, o deputado Danilo Forte (CE), desdenhou desse comprometimento de Dilma com a cúpula do PMDB por uma aliança com maior participação dos peemedebistas.
"O problema não é a questão pessoal, nem com a Dilma e nem com o Michel. O problema é o país, o problema é a economia, a inflação, o desemprego, o retrocesso que o país está vivendo em relação à primeira década dos anos 2.000", disse Forte à Reuters por telefone, enquanto procurava os convencionais para pedir votos contra a aliança.
Segundo ele, o PMDB não pode ser responsabilizado por esse quadro porque sempre foi tratado com desdém no governo e não participou das decisões tomadas pela presidente.
"O governo nunca nos deu espaço para discutir política pública. Não adianta vir agora com essa história de que está arrependido pelo que não fez e dizer que vai ter diálogo", atacou o deputado.