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Pilotos do voo Air France 447 ignoraram alertas

O inquérito mostra também que os passageiros não receberam nenhum aviso sobre as manobras dos pilotos para tentar evitar a queda

Uma parte da asa do Airbus A330 da Air France é retirada do mar por militares da Marinha brasileira (AFP)

Uma parte da asa do Airbus A330 da Air France é retirada do mar por militares da Marinha brasileira (AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2011 às 22h41.

Paris - Investigadores franceses disseram nesta sexta-feira que os tripulantes do voo AF 447, que caiu no Atlântico em 2009 na rota Rio de Janeiro-Paris, ignoraram repetidos alertas de falta de sustentação aerodinâmica, e que deixaram de seguir os procedimentos padronizados.

O Departamento de Pesquisas e Análises para a Segurança da Aviação Civil (BEA, na sigla em francês) emitiu dez novas recomendações de segurança para que acidentes desse tipo não se repitam, o que inclui um maior treinamento para o comando manual das aeronaves - capacidade que, segundo críticos, os pilotos vêm perdendo devido ao predomínio dos computadores.

O relatório do BEA sobre os minutos finais do voo AF 447 revela que os pilotos deixaram de discutir o alerta de "stall" (perda de sustentação) que fez o Airbus despencar de uma altura de 38 mil pés, chocando-se contra o mar a 200 quilômetros por hora e matando os 228 ocupantes do avião, em meados de 2009.

O inquérito mostra também que os passageiros não receberam nenhum aviso sobre as manobras dos pilotos para tentar evitar a queda.

As informações, com base nas recém-descobertas caixas-pretas do avião, confirmam a descoberta feita em maio, de que a tripulação reagiu ao alerta de "stall" fazendo algo que intrigou os especialistas: apontando o nariz do avião para cima, ao invés de para baixo.

"Parece óbvio que a tripulação não reconheceu a situação em que estava, por qualquer razão, e que mais treinamento teria ajudado", disse Paul Hayes, diretor de segurança da consultoria britânica Ascend Aviation.

O "stall" aerodinâmico - que não deve ser confundido com uma pane dos motores - é uma situação perigosa, que ocorre quando as asas são incapazes de suportar o peso do avião. A forma clássica de reagir a isso é apontando o nariz do avião para baixo, para capturar o ar num ângulo melhor.

Mas é raro um grande jato comercial ter um "stall" aerodinâmico, ainda mais em alta altitude, e os investigadores dizem que essa situação praticamente não é vista nos treinamentos. 


O relatório deve gerar uma batalha judicial entre a Air France e a EADS, fabricante do Airbus, opondo as teses de falha mecânica e falha humana.

"A esta altura, não há razão para questionar a capacidade técnica da tripulação", disse a Air France em nota, alegando que os pilotos tiveram dificuldades em analisar a situação porque os sistemas de alerta de "stall" eram "ativados e parados intempestiva e enganosamente".

Caminho judicial

A atribuição de responsabilidades pelo acidente é de enorme importância, pois tanto a Air France quanto a EADS enfrentam investigações criminais na França, e parentes de vítimas no Brasil e na Europa pleiteiam indenizações.

Durante um voo normal assistido por computador, os sistemas do Airbus são programados para evitar o "stall" mesmo em caso de erro dos pilotos.

Mas, neste caso, o A330 estava sendo pilotado manualmente, porque o piloto automático havia se desligado por causa da perda temporária de dados confiáveis, supostamente causada pela formação de gelo nos tubos de Pitot (um "velocímetro"), produzidos pela fábrica francesa Thales.

Os pilotos, segundo o BEA, não haviam sido treinados para lidar manualmente com a aeronave em altas altitudes, nem para um procedimento chamado "IAS Não-Confiável". A sigla se refere, em inglês, a "velocidade aérea indicada."

A agência francesa recomendou que, a partir de agora, os pilotos sejam submetidos a exercícios relacionados ao comando manual dos aviões e a como evitar os "stalls" em altitudes elevadas.

Um advogado que representa familiares das vítimas disse que a ênfase do relatório na atuação dos pilotos foi "muito questionável".


"Essa foi talvez uma maneira de o BEA liberar as empresas das suas responsabilidades", disse Olivier Morrice à Reuters. "Se não houvesse uma falha nos sensores de Pitot, os pilotos não teriam sido colocados em uma situação tão complicada."

O BEA não chegou a atribuir explicitamente a culpa aos pilotos ou aos sistemas do avião, mas três das suas recomendações dizem respeito à tripulação e seu trabalho, e uma propõe a incorporação de instrumentos adicionais para os alertas sonoros sobre "stalls".

Há também uma proposta para que as caixas pretas registrem em vídeo as imagens daquilo que os pilotos veem nas suas telas de computadores, mas os sindicatos de aeronautas temem que isso leve a abusos.

A proposta de mais treinamento pode tranquilizar líderes sindicais que vinham criticando uma suposta pressa em culpar os pilotos da Air France depois da primeira leitura da caixa-preta, em maio.

Os sindicatos dizem que, para poupar custos, as empresas obrigam os pilotos a confiarem demais em técnicas que consistem em "apertar botões", mas que só funcionam até algo grave acontecer. A Air France diz que a segurança é uma prioridade da companhia, e a Airbus garante que seus aviões são seguros.

A caixa-preta revelou que, quando os alarmes de "stall" soaram, o avião estava nas mãos de um copiloto de 32 anos, que puxou o manche para trás ao invés de empurrá-lo. O comandante da aeronave, de 52 anos, havia saído da cabine e só voltou um minuto e meio depois de iniciada a emergência, quando a situação já era muito complicada.

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