Brasil

Pico de Ômicron pode acontecer em duas a três semanas no Brasil. Entenda

Onda epidemiológica em países como África do Sul, Reino Unido, Canadá e Austrália indica entre quatro e seis semanas de aumento vertiginoso de infecções

Caso o Brasil siga o padrão, estaríamos a duas ou três semanas do pico da Ômicron (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Caso o Brasil siga o padrão, estaríamos a duas ou três semanas do pico da Ômicron (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de janeiro de 2022 às 09h23.

A variante Ômicron tem se mostrado não uma nova onda da Covid, mas um verdadeiro tsunami, provocando uma explosão de casos. Da experiência desses lugares vem sendo possível prever o tempo de duração da crise: entre quatro e seis semanas de aumento vertiginoso no número de infecções até atingir o pico, seguido por, da mesma forma, queda acentuada. Caso o Brasil siga esse padrão, estaríamos a duas ou três semanas do pico e, assim, entrando logo em queda.

A África do Sul, onde a variante foi identificada no final de novembro, é o primeiro exemplo. Após atingir o auge em 17 de dezembro, com 23 mil casos, atualmente tem número menor de casos do que nos primeiros dias daquele mês, com 4.636.

O Reino Unido já consolidou a mesma curva, embora ainda mantenha um número bem alto de infecções já que a onda chegou depois. De maneira mais recente, Canadá, Austrália e cidades populosas dos Estados Unidos, como Nova York, também já observam o número de casos despencar.

Para o infectologista, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda, o padrão na curva dos outros países é claro: subida por cerca de cinco semanas e, depois, queda. No Brasil, isso deve se repetir:

— Vamos observar essa curva aqui e o estado onde isso será visto precocemente é São Paulo, que teve os primeiros casos. No entanto, como teve réveillon e férias, houve uma sincronização entre as regiões. É um tsunami que vem e vai muito rapidamente. Se considerarmos a semana entre Natal e Ano Novo como início da curva epidemiológica, teremos o pico no começo de fevereiro para depois começar a queda. Isso, claro, se a nossa curva epidêmica se comportar de forma semelhante.

Segundo Croda, o platô observado em outras ondas não se repete porque a taxa de transmissão é quatro vezes maior do que o vírus original e não há medidas restritivas dessa vez. Depois, quando o vírus não encontra pessoas suscetíveis, ou porque estão muito bem protegidas pela vacinação ou porque já foram infectadas, ocorre a queda é acentuada.

A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, considera a Ômicron “mais explosiva” do que as outras cepas do SARS-CoV-2, por isso a curva é tão aguda. Mas alerta para a falta de dados para o Brasil poder ter mais clareza sobre seu momento na pandemia:

— O problema no Brasil é o de sempre: não temos testes, e com o apagão de dados temos menos noção ainda do que está acontecendo. É difícil cravar com precisão acertada — afirma.

Outros fatores especificamente regionais podem interferir. Os médicos temem um repique no fim das férias e volta às aulas ou, ainda, provocado pelo Carnaval. Por isso, é importante que haja forte investimento na dose de reforço para toda a população e aceleração na vacinação das crianças.

O infectologista Filipe da Veiga explica que há formas de garantir uma queda mais acentuada no número de casos.

—Vejo que alguns países caem mais rápido que outros. O ‘Vaccines-plus’ é uma sequência de orientações dadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no fim de 2021, que se somam à vacina: autotestes, isolamento por sete dias e uso de máscaras melhores, que não de pano, para reforçar a barreira. Os países que adotam testagem maciça e autoisolamento, em duas semanas têm 30% de queda de casos — afirma Veiga.

Para o médico, embora tudo indique que essa onda vai ser mais breve, não dá para relaxar:

— Acho que alguns estados podem enfrentar colapso no sistema de saúde. As vacinas ditam como vão ser mortes e internações, mas é o comportamento humano que dita a transmissão.

A OMS também evita comemorar antes da hora. O diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou ontem que ainda há muito pela frente.

— Esta pandemia está longe de terminar, e dado o incrível crescimento da Ômicron em todo o mundo, é provável que surjam novas variantes — disse Adhanom em entrevista coletiva em Genebra, na Suíça. — Em alguns países, os casos de Covid parecem ter atingido o pico, dando esperança de que o pior desta última onda já passou, mas nenhum está fora de perigo ainda.

O exemplo de outras nações traz além de esperança, informações úteis. Para Julio Croda, é fundamental usar o exemplo das curvas epidemiológicas para que o poder público brasileiro se organize:

— A mensagem é que a gente tem que aprender com outros países e planejar melhor. Não é surpresa o que vai acontecer em poucas semanas, por isso precisamos investir em leitos de enfermaria e testes para a população.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPandemia

Mais de Brasil

SP ainda tem 36 mil casas sem energia neste domingo

Ponte que liga os estados de Tocantins e Maranhão desaba; veja vídeo

Como chegar em Gramado? Veja rotas alternativas após queda de avião

Vai viajar para São Paulo? Ao menos 18 praias estão impróprias para banho; veja lista