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PF: EUA são principal fonte de armas para o crime no Brasil

Lojas norte-americanas são a origem da maior parte de armamento pesado, encomendado por criminosos, segundo relatório da PF

Armas apreendidas pela PF: "os EUA continuam sendo nosso maior fornecedor indireto de pistolas e fuzis ilegais" (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
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Reuters

Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 18h09.

Brasília - A venda de armas em lojas e feiras nos Estados Unidos é a principal fonte de armamentos longos que chegam às mãos de criminosos e traficantes no Brasil, revela um relatório da Divisão de Repressão a Crimes contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas da Polícia Federal.

O rastreamento, na maior parte dos casos de armas apreendidas no Rio de Janeiro, revela que a maioria desse armamento vem do Paraguai e dos Estados Unidos. Enquanto o país sul-americano provê revólveres e armas de menor calibre, lojas norte-americanas são a origem da maior parte de armamento pesado, encomendado por criminosos.

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"Embora o Paraguai figure como principal país de trânsito de armas para o Brasil, os EUA continuam sendo nosso maior fornecedor indireto de pistolas e fuzis ilegais, como resultado do livre comércio em lojas e feiras-livres que ocorrem em cidades americanas", informa o relatório da PF ao qual a Reuters teve acesso.

"Pistolas da Áustria e República Tcheca e fuzis de assalto similares ao AK-47 da Romênia, China, Egito, Hungria, Bulgária e de outros países do leste europeu são comumente apreendidas no Brasil, após terem sido importadas por lojas dos EUA e adquiridas por cidadãos americanos e depois exportadas ilegalmente para o Paraguai, Bolívia e Brasil", acrescenta o relatório.

O rastreamento feito nas armas apreendidas, pela PF e por forças policiais locais, revela que boa parte delas, cerca de 4 mil, já circulava no país há algum tempo. São revólveres de baixo calibre, normalmente usados por criminosos comuns. Já as armas de alto calibre, que maior parte das vezes chegam ao Brasil por encomenda do crime organizado, têm como principal origem os Estados Unidos -seja de fabricação americana, seja importada de outros países, que chegam ao Brasil diretamente por contrabando dos EUA ou via Paraguai e Bolívia, principalmente.

O levantamento, que começou a ser feito pela PF a partir de 2014, revela ainda onde foram compradas as armas de alto calibre encontradas no Brasil nesse período. Nesta lista, das oito principais lojas de origem, seis são norte-americanas, cinco delas localizadas na Flórida.

A primeira da lista, no entanto, é uma paraguaia, que fica no centro da capital do país, Assunção, e vende pistolas automáticas, fuzis e munições, no atacado e no varejo, especialmente importados da República Tcheca.

O relatório da PF conclui que a origem da maioria das armas longas ilegais apreendidas no Brasil é dos Estados Unidos, por meio de três métodos: contrabando da arma completa diretamente dos Estados Unidos para o Brasil, contrabando de componentes de armas diretamente dos Estados Unidos para o Brasil, contrabando dos Estados Unidos para o Brasil utilizando terceiros países, especialmente Bolívia e Paraguai.

De acordo com o relatório, 99 por cento das armas apreendidas no Brasil entram por fronteiras terrestres, em um caminho que passa especialmente pela tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, na região de Foz do Iguaçu, no Paraná.

Outros pontos de entrada são em Ponta Porã (MS) e Guaíra (PR), na fronteira com o Paraguai, Corumbá, com a Bolívia, e Santana do Livramento, com o Uruguai. Outros locais com menor movimentação são a fronteira com a Bolívia na região de Roraima e com a Colômbia e o Suriname, na Região Norte.

Apesar da concentração nas fronteiras terrestres, em 2012 a PF apreendeu, em uma operação chamada Bed Bugs, 22 fuzis que chegaram ao Brasil em contêineres com móveis de brasileiros que estavam voltando ao país.

Os fuzis, comprados em lojas norte-americanas eram costurados em colchões e colocados nos contêineres, que chegavam no Porto de Santos, e depois eram despachados para Minas Gerais e redistribuídos para São Paulo e Rio de Janeiro. Uma investigação foi iniciada pelas forças de segurança dos Estados Unidos e uma quadrilha de contrabandistas foi presa no país.

Na metade do ano passado, a Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu 60 fuzis no terminal de cargas do aeroporto do Galeão, escondidos dentro de aquecedores de piscina, em dois contêineres. A origem também era de lojas de armamentos em Miami.

O relatório, assinado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, chefe da divisão, aponta que a demanda por armas no Brasil é contínua, apesar de o tráfico ser caracterizado como "conta-gotas" ou "formiguinha", em que as armas são trazidas em pequenas quantidades ou em partes.

A entrada de armas de alto calibre é associada, segundo a PF, ao abastecimento de grupos dedicados a crimes violentos, como o roubo a bancos, de caixas eletrônicos, veículos de transporte de valores e cargas. São crimes, diz o relatório, "cujos criminosos necessitam se utilizar de armamento pesado para garantir sua superioridade bélica em caso de eventual confronto com os seguranças privados, escoltas armadas e a polícia".

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