Imagem de arquivo de Gilberto Kassab: ministro é alvo de busca e apreensão da PF (Nacho Doce/Reuters)
Reuters
Publicado em 19 de dezembro de 2018 às 07h47.
Última atualização em 19 de dezembro de 2018 às 12h00.
Reuters - Agentes da Polícia Federal foram às ruas nesta quarta-feira (19) em São Paulo e no Rio Grande do Norte para cumprir 8 mandados de busca e apreensão em investigação contra o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, por suspeita de recebimento de propina entre 2010 e 2016.
Os mandados foram determinados pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Um carro da PF estacionou no início da manhã em frente ao prédio de Kassab em São Paulo para cumprir um dos mandados, de acordo com imagens da GloboNews.
Kassab, que é presidente licenciado do PSD, foi prefeito da capital paulista de 2006 a 2013. Ele também atuou como ministro das Cidades durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), antes de assumir o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do governo Michel Temer (MDB).
O ministro já foi anunciado como futuro chefe da Casa Civil do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB).
Segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, Kassab recebeu R$ 58 milhões do grupo J&F, dono da JBS.
De acordo com a PGR, os delatores da J&F Wesley Batista e Ricardo Saud relataram que Kassab recebeu pagamentos mensais de 350 mil reais da empresa controladora da JBS entre 2010 e 2016 para colocar sua influência a favor do grupo, totalizando 30 milhões de reais.
Outros 28 milhões de reais foram pagos ao Diretório Nacional do PSD, na época presidido por Kassab, para garantir o apoio da legenda ao PT na eleição nacional de 2014, acrescentou a PGR.
"Segundo um dos colaboradores, todos os valores repassados eram provenientes de uma espécie de conta-corrente de vantagem indevida vinculada ao PT, que teria autorizado os pagamentos", disse a PGR em comunicado.
"Neste caso, o repasse foi operacionalizado por meio de doações oficiais de campanha e outros artifícios como a quitação de notas fiscais falsas. Também há registro da entrega de dinheiro em espécie".
O ministro disse, por meio de nota de sua assessoria, que está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos, e que todos os seus atos seguiram a legislação.
"O ministro confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário, reforça que está sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários, ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público", afirmou.
A PF, que por regra não identifica os alvos das operações, disse que a ação tem como objetivo investigar o recebimento de vantagens indevidas por parte de um ex-prefeito de São Paulo atualmente exercendo o cargo de ministro.
Segundo a PF, as vantagens ilegais recebidas teriam sido solicitadas a um "grande grupo empresarial do ramo dos frigoríficos", que teria efetuado o pagamento em troca da defesa dos interesses do grupo, bem como para direcionar o apoio político na campanha presidencial de 2014.
Parte dos recursos também teria sido encaminhada para a campanha de um candidato ao Governo do Rio Grande do Norte e a um deputado federal, ambos eleitos, de acordo com a PF.
"Suspeita-se que os valores eram recebidos por empresas, através da simulação de serviços que não foram efetivamente prestados e para os quais foram emitidas notas fiscais falsas", disse a PF, acrescentando que são investigados os crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica eleitoral.