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Pesquisa: 84% dos casos de covid-19 na cidade de SP não foram registrados

Segundo estudo realizado por pesquisadores da USP e Unifesp, a cidade tem 1,5 milhão de infectados, o que é 6 vezes mais que o registro oficial

 (Jonne Roriz/Bloomberg via/Getty Images)

(Jonne Roriz/Bloomberg via/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 10 de agosto de 2020 às 17h51.

Última atualização em 10 de agosto de 2020 às 17h52.

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estimam que cerca de 1,5 milhão de adultos já foram infectados na cidade de São Paulo pelo novo coronavírus. Na mais nova etapa da pesquisa, que tem como objetivo rastrear a imunidade à covid-19 na capital paulista, o grupo encontrou presença de anticorpos em 17,9% das amostras coletadas na capital paulista.

O valor de infectados é seis vezes superior ao oficial divulgado pela prefeitura. De acordo com o último boletim, divulgado nesta segunda-feira, a capital paulista tem 246.730 casos confirmados e 10.187 mortes causadas pela covid-19. Considerando a estimativa da pesquisa, portanto, pelo menos 84% dos casos não teriam sido oficialmente notificados.

A taxa de prevalência é superior a de outro inquérito sorológico, realizado pela prefeitura de São Paulo. O estudo desenvolvido pelo município está na terceira fase e estima que 1,32 milhão de pessoas foram infectadas pelo coronavírus, com a taxa 11,1%

Segundo os pesquisadores, o estudo também não teria indicado sinais de que a doença está se propagando de forma acelerada na cidade. Isso porque o resultado de pessoas com presença de anticorpos é semelhante ao de etapas anteriores.

O estudo, com apoio do Instituto Semeia e participação de profissionais do Laboratório Fleury e do Ibope Inteligência, está atualmente na fase 3 e fez exames em 1.470 moradores com mais de 18 anos da cidade. As amostras foram colhidas em residências de 115 setores censitários, em áreas classificadas por faixa de renda e espalhadas por todas as regiões de São Paulo, entre os dias 20 e 29 de julho.

Uma das novidades desta etapa foi a realização de dois tipos diferentes de exames sorológicos em cada coleta - em vez de um só, como era feito até então. Com a mudança de metodologia, os cientistas notaram a existência de casos que só foram identificados por um dos exames. Ao todo, 262 amostras testaram positivo.

"Esses resultados demonstram que pesquisas feitas com um único teste não são suficientes para identificar todos os indivíduos soropositivos na população, porque subestimam o resultado em pelo menos 50%", afirma o biólogo Fernando Reinach, que foi responsável por reunir os pesquisadores participantes do projeto. "Conseguimos ver que metade é pega pelos dois exames, mas há outros casos que são pegos só pelo teste antigo ou só pelo teste novo."

Foi por essa razão que a prevalência identificada nesta etapa da pesquisa (de quase 18%) ficou acima dos 11,4% percebidos na fase 2, de acordo com Reinach. Segundo o estudo indica, se apenas o exame antigo tivesse sido aplicado, a presença de anticorpos só teria sido percebida em 11,5% das análises - mesmo índice da fase anterior, considerando o intervalo de confiança do resultado.

De acordo com Reinach, a comparação entre os índices de diferentes fases da pesquisa também indica que a doença não teve propagação acelerada no período. "O que cresceu está dentro da margem de confiança. Ou seja, está crescendo pouco ou parou de crescer. O que é uma ótima notícia."

O estudo com testes sorológicos se propõe a avaliar se uma determinada população está próxima ou distante da chamada "imunidade de rebanho” - momento em que a maioria das pessoas apresenta anticorpos por já ter tido algum contato com o vírus. Ainda não se sabe com certeza qual é o porcentual de habitantes necessário para atingir o nível de segurança em relação à covid-19, mas as estimativas variam entre 20% e 60%.

Perfil dos infectados

Ainda de acordo com resultados da fase 3, o grupo com maior prevalência é formada por pessoas do sexo feminino, negras ou pardas, de menor renda e baixa escolaridade.

O estudo indica que 18,4% das mulheres teriam sido mais infectadas, enquanto o resultado ficou em 17,8% entre os homens. Já na classificação por cor/raça, foram encontrados anticorpos em 20,8% dos participantes que se identificaram como negros ou pardos, e 15,4% entre brancos.

Já a divisão por faixa de renda indica mais risco para os mais pobres. Os testes positivos representaram 22% no setor de menor renda (até R$ 3.349); 18,4% no de renda intermediária (R$ 3.350 a R$ 5.540); e 9,4% em maior renda (R$ 5.541 ou mais).

Em pessoas com Ensino Fundamental incompleto ou completo, o índice foi de 22,5% e 23,7%, respectivamente. A prevalência diminui para 17,5% para o grupo com Ensino Médio e para 12%, com superior.

Na classificação por idade, a faixa com maior presença de anticorpos foi entre 40 e 49 anos (22%). A menor foi de entre participantes com 60 anos ou mais (15,8%).

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