Escola em Sobral, no Ceará: valorização da carreira docente foi debatida durante divulgação dos dados do Ideb (Alexandre Battibugli/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 12h11.
Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 13h40.
Em evento do governo federal que apresentou os novos dados do Ideb, índice que avalia a educação básica brasileira, as autoridades discutiram a formação e valorização da carreira dos professores no Brasil.
O secretário Luiz Miguel Martins Garcia, que é presidente da Undime, associação que representa os dirigentes de educação dos municípios, afirmou que o Brasil não pode mais seguir "perdendo os melhores alunos" em áreas como matemática para o mercado financeiro. Para Garcia, dirigente da educação na cidade de Sud Mennucci (SP), é preciso atrair esses talentos também para a carreira docente.
"Não dá para continuar perdendo os melhores alunos -- melhores é uma expressão ruim, melhores de mais desempenho técnico, por exemplo nos cursos de matemática -- para o mercado financeiro. E [esses alunos] nunca chegam até as salas de educação, e sobretudo da educação básica", disse o secretário.
"É muito importante que a gente consiga vencer esse desafio de ter a educação como profissão com a menor média salarial dentre os cursos de nível superior", disse Garcia.
Os professores brasileiros ganham menos do que a média dos outros profissionais com ensino superior no Brasil. A média do salário de um professor é de menos de 80% do que a dos demais profissionais com mesma formação, segundo o Inep, com base em dados do IBGE. Os professores brasileiros também têm salário muito abaixo da média da OCDE, organização que reúne alguns dos principais desenvolvidos.
Garcia afirmou que a formação de professores tem de ser vista como um processo "estratégico" e que é preciso evitar professores com duas ou três jornadas de trabalho.
Mais cedo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, também citou a valorização da carreira docente e criticou o fato de um professor precisar dar aulas em vários turnos para receber "um salário digno". Ribeiro é ex-vice-reitor do Mackenzie e foi nomeado em julho para chefiar o Ministério da Educação (MEC) após a saída de Abraham Weintraub.
O ministro afirmou que em outubro terá uma discussão sobre salários de professores, que chamou de "um grande mito", e disse que quer "dar atenção um pouco mais perto" aos professores e "valorizá-los". "Um professor bom, embaixo de uma árvore, impacta a vida de uma criança", disse.
O ministro não entrou em detalhes sobre o que considera um mito no debate sobre a valorização docente e não explicou se o MEC, sob sua gestão, pretende intensificar uma política de valorização dos salários e da carreira dos professores. Pelo texto da PEC da reforma administrativa enviada ao Congresso, os professores, como servidores municipais ou estaduais nas escolas, também entram em políticas de congelamento de salários e redução de benefícios.
A PEC do pacto federativo, que o governo articula junto ao Congresso, também tem como um dos objetivos retirar o investimento mínimo em educação, hoje obrigatório pela Constituição a União, estados e municípios. Segundo o relator da PEC, o objetivo é dar mais liberdade aos gestores para manusear o orçamento, mas parte dos especialistas em educação avaliam que a medida fará os recursos para a área diminuírem.
Nesta terça-feira, 15, as autoridades estavam presentes em evento para divulgação dos dados do Ideb, organizados a cada dois anos pelo Inep, autarquia vinculada ao MEC.
O Ideb de 2019 mostrou novamente bons resultados no ensino fundamental, sobretudo nas séries iniciais. Houve um avanço sem precedentes no ensino médio, que vinha estagnado nos últimos anos, embora a etapa ainda esteja abaixo da meta. Os números deste ano são referentes às provas realizadas ao final de cada etapa escolar em 2019.