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Partidos buscaram acordo para barrar Lava Jato, diz Machado

As conversas trataram, dentre outros assuntos, de estratégias para barrar a Lava Jato


	Sérgio Machado: as conversas trataram, dentre outros assuntos, de estratégias para barrar a Lava Jato
 (Agência Petrobras)

Sérgio Machado: as conversas trataram, dentre outros assuntos, de estratégias para barrar a Lava Jato (Agência Petrobras)

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Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2016 às 13h01.

São Paulo - Com bom trânsito na cúpula do mundo político e empresarial, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse aos investigadores da Lava Jato não haver dúvidas para ele de que havia uma iniciativa de muitos políticos para prejudicar a operação.

"Após essas conversas ficou claro para o depoente que havia muitos políticos de diversos partidos procurando construir um amplo acordo que limitasse a ação da Operação Lava Jato", diz depoimento de Machado que explicava os diálogos que gravou com caciques do PMDB em março - antes de o processo de impeachment de Dilma ser aberto pelo Congresso.

As conversas trataram, dentre outros assuntos, de estratégias para barrar a Lava Jato.

Segundo Machado, o próprio senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi derrubado do Ministério do Planejamento após vir à tona os diálogos em que fala em "estancar" a Lava Jato, teria lhe confidenciado "sobre tratativas com o PSDB nesse sentido facilitadas pelo receio de todos os políticos com as implicações da Operação Lava Jato".

O PSDB hoje está na base de apoio do governo interino de Michel Temer e possui três ministérios, incluindo o da Justiça, responsável, dentre outros, pela Polícia Federal.

A preocupação, contudo, ia além dos tucanos. "Essas tratativas não se limitavam ao PSDB, pois quase todos os políticos estavam tratando disso, como ficou claro para o depoente; que o Romero Jucá sinalizou que a solução política poderia ser ou no sentido de estancar a Operação Lava Jato, impedindo que ela avançasse sobre outros políticos, ou na forma de uma constituinte", relatou o delator.

Além de Jucá, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) também teria falado sobre as estratégias para tentar barrar a operação.

De acordo com Machado, no diálogo em que falam sobre "pacto de Caxias", ele e o presidente do Senado estavam se referindo a alternativas legislativas que possibilitassem alguma "anistia ou clemência" aos políticos investigados.

Ele ainda relata que Renan deixou claro que seria a "esperança única" do PSDB para tomar as medidas que podem impedir os avanços da operação.

"Quando Renan Calheiros diz (na conversa gravada) que 'eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer alguma coisa', o 'eles' refere-se especificamente ao PSDB, embora o temor dos políticos da Operação Lava Jato seja generalizado", disse o depoente.

'Fazer alguma coisa' refere-se a um pacto de medidas legislativas para paralisar a Operação Lava Jato, que incluía proibir colaboração premiada de réu preso, proibir a execução provisória de sentença penal condenatória e modificar a legislação dos acordos de leniência", relatou Machado.

Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o teor das conversas gravadas de Machado com o Renan, o ex-presidente José Sarney e o próprio Jucá deixam claro a existência de um "acordão", que "segue sendo costurado", por meio das nomeações de Jucá (que deixou o Planejamento após a polêmica dos áudios), Sarney Filho (Ministério do Meio Ambiente) e políticos tucanos para os ministérios de Temer.

"O intento dos requeridos (Renan, Jucá e Sarney), nessas diversas conversas gravadas, é construir uma ampla base de apoio político para conseguir, pelo menos, aprovar três medidas de alteração do ordenamento jurídico em favor da organização criminosa", afirma Janot no pedido de prisão preventiva contra Jucá e Renan e de prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica para Sarney encaminhado ao Supremo Tribunal Federal em maio.

Para Machado, todo o contexto das conversas gravadas também deixou claro que havia uma preocupação geral dos políticos em tentar impedir a maior operação de combate à corrupção no País.

O delator já foi líder do PSDB no Senado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e se filiou ao PMDB em 2001, partido que o garantiu o cargo de presidente da Transpetro por 11 anos durante os governos petistas, entre 2003 e 2014.

Ele entrou na mira da Lava Jato e sua residência chegou a ser alvo de buscas na Operação Catilinárias, deflagrada com autorização do Supremo para investigar os políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras.

A partir dessa busca, Machado relata que começou a se preocupar com os avanços da operação e decidiu que iria colaborar com as investigações.

Uma das ideias que teve foi exatamente gravar conversas com seus colegas da cúpula peemedebista nas quais buscava alternativas para tentar escapar do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância.

Todos os políticos flagrados nos diálogos e também citados na delação do ex-presidente da Transpetro negam envolvimentos em irregularidades e rechaçam as acusações de Machado.

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