Brasil

Papa diz que periferia não pode ser ignorada

Para papa Francisco, esforços de "pacificação" não serão duradouros em sociedade que abandone os desfavorecidos

Papa com crianças na favela de Varginha, no Rio de Janeiro: "não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário" (Pilar Olivares/Reuters)

Papa com crianças na favela de Varginha, no Rio de Janeiro: "não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário" (Pilar Olivares/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2013 às 12h26.

Rio de Janeiro - O papa Francisco reconheceu nesta quinta-feira, em visita à favela carioca de Varginha, as ações do Brasil de combate à miséria para integrar a população, que nenhum esforço de "pacificação" será duradouro numa sociedade que abandona os desfavorecidos.

"Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!", disse o papa em discurso na comunidade da zona norte que faz parte do complexo de favelas de Manguinhos.

"Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo", disse o papa em discurso realizado em um palco montado sobre um campo de futebol da favela, alagado em consequência da chuva.

"Nenhum esforço de 'pacificação' será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma", afirmou em discurso lido em português, com forte apelo pelo combate às desigualdades sociais, na comunidade onde uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi inaugurada em janeiro de 2013 para atender mais de 36 mil moradores.

O papa argentino, em sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o pontificado em março, saudou os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar "todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria".

O primeiro papa da América Latina na história, que tem cobrado da Igreja uma aproximação maior com os pobres e que vive de forma bem mais austera do que seus antecessores, fez um pedido para que a "solidariedade cultural" substitua o "egoísomo e individualismo" que prevalecem na sociedade moderna.

Francisco, que está no Brasil para presidir a Jornada Mundial da Juventude, aproveitou para falar aos jovens, que lideraram os protestos de junho no país para pedir melhores serviços públicos na saúde, na educação e o combate à corrupção.


Segundo o papa, os jovens possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com a corrupção, "com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício", disse.

"Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança... Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo", disse.

Apesar da chuva, o papa caminhou por ruas da favela e cumprimentou dezenas de pessoas que o aguardavam desde cedo. Acompanhado por seguranças, Francisco tentou se aproximar das pessoas, conversou com muitos moradores, abençoou diversas crianças e recebeu presentes, incluindo um colar de flores que colocou no pescoço logo que chegou.

O pontífice também esteve na pequena capela de São Jerônimo Emiliani e abençoou a igreja. Francisco visitou uma residência de dois andares, com as paredes pintadas de amarelo claro e decorada com balões brancos e amarelos, as cores do Vaticano.

Em seu discurso, o papa dirigiu-se aos moradores, que lotaram o local. "Varginha, quero dizer: vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o papa está com vocês", disse Francisco, o primeiro papa a visitar uma favela no Brasil desde que João Paulo 2o esteve em 1980 no Vidigal, também no Rio de Janeiro.

Em um gesto de humildade e simpatia, arrancou risadas ao dizer que gostaria de poder bater na porta das casas, "beber um cafezinho, e não um copo de cachaça", e "ouvir o coração de cada um".

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