Palocci: o petista diz nunca ter ouvido Lula falar de uma "maneira tão direta" como naquela reunião (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de setembro de 2017 às 19h57.
Última atualização em 6 de setembro de 2017 às 19h59.
São Paulo - O ex-ministro Antônio Palocci afirmou, nesta quarta-feira, 6, ao juiz federal Sérgio Moro, que participou de uma reunião com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na qual Lula pediu "contribuição" oriunda de contratos do pré-sal para a campanha de sua sucessora, em 2010, à Presidência da República.
Palocci foi preso na Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato, em setembro de 2016, e foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 12 anos e 2 meses de prisão. Ele está tentando fechar acordo de delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal.
O ex-ministro resolveu confessar seus crimes em interrogatório no âmbito de processo relacionado à suposta compra, pela Odebrecht, do apartamento vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo, e do terreno onde seria sediado o Instituto Lula. Segundo o Ministério Público Federal, os imóveis são formas de pagamento de vantagens indevidas ao petista.
O ex-ministro mencionou uma reunião, em 2010, no Palácio da Alvorada, da qual teria participado, ao lado de Dilma Rousseff, Lula, e do então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli.
O petista diz nunca ter ouvido Lula falar de uma "maneira tão direta" como naquela reunião:
"Ele disse: 'eu chamei vocês aqui por que o pré-sal é o passaporte do Brasil para o futuro, ele que vai dar combustível para um projeto político de longo prazo no Brasil, ele vai pagar as contas nacionais, vai ser o grande financiador dos grandes projetos do Brasil, e eu quero que o Gabrieli faça as sondas pensando nesse grande projeto para o Brasil. Mas o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto, porque ele vai ter total sucesso e para que garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira Dilma Rousseff, que eu quero ver presidente do Brasil", relatou o ex-ministro a Moro.
Palocci ainda disse que Lula "encomendou" a Gabrielli que, "através das sondas, pagasse a campanha da presidente Dilma em 2010 pedindo, obviamente, às empresas os valores que seriam destinados à campanha".
No entanto, apesar da suposta "encomenda", Palocci frisou que Gabrielli nunca cometeu ilícitos. "Na terceira reunião que eu tive com ele ele deixou claro que não ia viabilizar contribuição de campanha nesse projeto".
O petista ainda contou que as empresas nacionais que se envolveram em projetos de navios-sonda nunca pagaram propinas em esquemas da Petrobras, porque os contratos "não davam margem" a estes repasses.
"As estrangeiras pagaram ao Vaccari porque vinham com sua curva de aprendizagem".
O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Lula, declarou em nota. "Palocci muda depoimento em busca de delação. O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.
Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.
Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.
Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como 'pacto de sangue', esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.
Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP."
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da ex-presidente Dilma, que ainda não se pronunciou.